Apesar da notável proximidade entre a Casa Branca deDonald Trump e o Kremlin, a Rússia segue sinalizando que não será tão receptiva à proposta de cessar-fogo de trinta dias na Ucrânia, apresentada pelo próprio Trump e apoiada pelo presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.
O silêncio do Kremlin desde que a proposta veio à tona já era um sinal de que, no mínimo, a ideia não foi imediatamente bem recebida por Vladimir Putin. Agora, uma primeira manifestação oficial de Moscou reforça essa impressão.
Nesta, o Kremlin se manifestou oficialmente sobre a proposta, que inclui,
Em entrevista à TV estatal russa nesta quinta-feira 13, Iuri Ushakov, assessor direto de Putin, ironizou a iniciativa. Segundo ele, o cessar-fogo seria apenas um “descanso temporário” para as tropas ucranianas. Ushakov afirmou ter dito ao consultor de Segurança Nacional de Trump, Mike Waltz, que a trégua “nada mais é do que uma pausa para os militares ucranianos se reagruparem, nada além disso”.
“Não nos traz nada”, acrescentou. “Apenas dá aos ucranianos uma oportunidade de ganhar fôlego e continuar a guerra.”
Além da trégua de trinta dias, a proposta envolve a troca de prisioneiros de guerra — algo que já vem ocorrendo — e o retorno de crianças ucranianas deportadas.
Como respondeu os EUA
Autoridades ocidentais têm sustentado a narrativa de que “a bola está com a Rússia”, insinuando que todos os esforços pelo cessar-fogo já foram feitos. No entanto, a resposta russa ainda não veio de forma definitiva.
Marco Rubio, secretário de Estado dos EUA e líder da recente reunião com autoridades ucranianas na Arábia Saudita, sugeriu que uma negativa de Moscou revelaria os reais objetivos do Kremlin.
Trump, por sua vez, sustenta o tom provocativo. Na última quarta-feira 12, afirmou que os sinais russos eram “positivos”, mas alertou que poderia impor sanções ao país caso a proposta fosse rejeitada. “Podemos [aplicar sanções], mas espero que não seja necessário”, ameaçou o republicano.

O Ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, e o Secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, se encontraram em fevereiro na Arábia Saudita. Foto: AFP
Horizonte incerto
O aceite ou o rechaço da proposta depende, necessariamente, de um clima favorável entre a Rússia e os EUA. Steve Witkoff, enviado especial de Trump e um dos principais nomes da intrincada negociação, chegou às 13h desta quinta-feira 13, no horário de Moscou (7h no horário de Brasília), à capital russa.
Pouco antes da chegada, o Ministério das Relações Exteriores russo afirmou que Moscou está “pronta” para negociar. “Essas conversas podem ocorrer ainda hoje”, declarou Maria Zakharova, porta-voz da chancelaria. Não está descartada, inclusive, uma conversa direta entre Putin e Trump.
O Kremlin, no entanto, vê com ceticismo os movimentos ocidentais. Moscou enxerga como um “passo atrás” a recente decisão de Trump de suspender parte da ajuda militar a Kiev. Além disso, reitera que qualquer acordo de paz deve resultar no fim definitivo do conflito — não apenas em uma trégua temporária.
Outro fator de peso é a percepção de que, apesar do discurso de Trump sobre encerrar a guerra rapidamente, as propostas concretas ainda não foram colocadas na mesa. O cessar-fogo poderia abrir espaço para negociações mais amplas, mas, por si só, não representa um plano de paz estruturado.
Não por acaso, Ushakov reforçou que “ninguém precisa de medidas que apenas imitem ações de paz”. E, ecoando o tom adotado por Zelensky nos últimos dias, frisou que qualquer solução de longo prazo deve levar em conta os interesses russos. Um ponto central para Moscou é que a Ucrânia jamais entre na Otan.
A pior face da guerra
A complexidade das negociações reflete a realidade de um conflito que completou três anos em fevereiro. Questões fundamentais permanecem em aberto: qual será o destino das populações deslocadas? Que garantias de segurança serão oferecidas aos envolvidos? A Ucrânia estaria disposta a fazer concessões territoriais? A resposta a essas perguntas determinará se um acordo definitivo é viável.
Enquanto isso, os ataques de lado a lado mostram a russos e ucranianos que não há momento em que não se possa esperar os alarmes de segurança e os estrondos dos armamentos.
Depois que a Ucrânia promoveu o seu mais intenso ataque por drones à Rússia, em Moscou, nesta semana, as tropas de Putin revidaram com 177 drones. A Ucrânia diz ter batido 74 deles. Na esteira do ataque, a Rússia disse que abateu quantidade semelhante de drones ucranianos nesta quinta-feira 13.

Cena do ataque russo à cidade de Sumy, no ano passado. Foto: GENYA SAVILOV/AFP
Em meio à escalada, Zelensky patina entre a pressão de Trump e as incertezas sobre o apoio ocidental. O ucraniano, que recentemente foi tratado com desprezo pelo republicano em uma reunião na Casa Branca, percorreu a Europa em busca de respaldo e agora aposta no alinhamento com Washington para pressionar a Rússia.
“Lamentavelmente, mais um dia se passou e o mundo ainda não ouviu uma resposta significativa da Rússia”, declarou Zelensky nas redes sociais. “Isso demonstra, mais uma vez, que Moscou busca prolongar a guerra e adiar a paz o máximo possível. Esperamos que a pressão dos EUA seja suficiente para forçar a Rússia a encerrar a guerra”, concluiu.