A libertação de Julian Assange gerou um impacto favorável para todos que prezam pela liberdade de imprensa, mas isso não é verdade. O que foi divulgado é que Assange confessou o crime de espionagem, pelo qual foi condenado a 5 anos de reclusão, tempo já cumprido, ilegalmente, pelas autoridades britânicas.

É claro que a perseguição a Assange durou anos e foi uma operação de inteligência do governo norte-americano. Não houve uma libertação, mas uma condenação. O que houve foi a condenação de Assange do “crime” de divulgação dos crimes de guerra dos EUA.

A questão é que o Governo norte-americano solicitou e obteve a condenação de Assange a 175 anos de prisão por uma série de 18 crimes relacionados a “segurança nacional” dos EUA. O “crime” principal era ter divulgado uma série de informações sigilosas do Governo americano que revelavam os crimes do Governo americano no Iraque e Afeganistão e até mesmo crimes de espionagem contra autoridades estrangeiras.

A liberdade não é nem pode ser nunca uma concessão. É o resultado de múltiplas lutas dos trabalhadores que marcaram a evolução dos direitos democráticos em todas as suas dimensões. Não se trata da liberdade de comércio, mas de liberdade que garante a cada ser humano a sua dignidade.

Ao longo de todo processo negaram a Assange o direito à liberdade de expressão, que é um princípio básico que o imperialismo nega na sua “ordem internacional baseada em regras”. O que Assange fez foi um serviço importante para que possamos saber o que está sendo feito pelo Governo dos EUA dentro e fora do país.

Se nos limitarmos ao caso de Julian Assange, ao despojá-lo da sua liberdade, os argumentos para a sua prisão são de submeter o mundo inteiro aos interesses do governo norte-americano. A liberdade de imprensa e de informação são negadas em função da segurança nacional de um único país e mesmo assim em detrimento do direito à informação do próprio povo americano.

Uma vez detido, Assange foi submetido a torturas psicológicas de forma contínua e sistemática durante cinco anos, cujas repercussões físicas demonstram o grau de hostilidade com que foram aplicadas. Viver incomunicável numa prisão de segurança máxima, sem ver a luz do sol 24 horas por dia, numa cela de 2×3 metros foi o método utilizado para conseguir uma confissão: declarar-se culpado de espionagem.

O único crime verificável em todo este caso é a forma de agir do governo dos EUA, cuja rede obscura de poder não está sujeita a qualquer controle quando planeja os seus objetivos de dominação imperialista, chantageando os próprios países aliados.

É preciso criminalizar os responsáveis pelos abusos de poder, venda de armas, assassinatos, sabotagem, espionagem de presidentes de governo e chefes de Estado crimes cometidos permanentemente pelo governo dos EUA que deseja eliminar sua divulgação pela imprensa e redes sociais.

A solução encontrada para Assange deve servir de alerta: a liberdade de imprensa pode ser eliminada se as notícias colocarem em causa o imperialismo e a ordem estabelecida. A verdade não faz parte da equação, a censura e o medo de sofrer as consequências da razão de Estado são o teto para exercer a liberdade de informação.

O WikiLeaks realizou uma conferência de imprensa após a libertação do seu fundador, Julian Assange. Barry Pollack, seu conselheiro nos EUA, afirmou que “não há precedentes nos Estados Unidos usar a lei de espionagem para processar criminalmente um jornalista ou editor”. “Nos mais de 100 anos de história desta lei, ela nunca foi usada desta forma. Certamente temos esperança de que nunca mais será usada.”

Agora que os crimes do imperialismo, como o apoio a ações terroristas da Ucrânia contra o povo russo e ao genocídio de Israel em Gaza são cometidos e justificados abertamente, estabelece-se uma censura total à informação. As redes sociais, outrora um território relativamente livre das injunções de censura, agora usam seus “termos de uso” para banir sites, canais ou qualquer outra forma de divulgar informações que contrariam o imperialismo, o sionismo, ou a burguesia local.

É preciso que o tema a ser debatido envolva os objetivos e crimes concebidos pela CIA, pela Casa Branca e pelo Pentágono para dominar o mundo e não sua divulgação por Assange.

A defesa irrestrita da liberdade de opinião, de informação e de organização é a única garantia para que se possa criar um movimento vigoroso contra esses perversos interesses de manutenção de uma ordem internacional injusta.

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Última Atualização: 02/07/2024