O líder indígena e escritor Ailton Krenak ressaltou a importância da advogada Eunice Paiva na luta pelos direitos dos povos originários no Brasil. Segundo ele, Eunice foi essencial para a superação da condição de tutela imposta aos indígenas pela legislação brasileira. “Naquele tempo, indígenas eram considerados rios ou montanhas, sem direito a nada”, afirmou.
Eunice Paiva trabalhou com advogados e antropólogos para modificar o Estatuto do Índio, que classificava os indígenas como juridicamente “incapazes”. Sua atuação garantiu a inclusão de direitos fundamentais na Constituição, permitindo que os povos indígenas tivessem autonomia e representação legal. “Foi um presente para minha geração contar com pessoas como ela”, disse Krenak.
A advogada integrou a Comissão Pró-Índio de São Paulo e participou de iniciativas que combatiam as desapropriações forçadas de terras indígenas durante a ditadura militar. “Ela se mobilizava para tentar deter ou diminuir a violência sobre os indígenas”, afirmou Krenak, mencionando casos de despejos promovidos por destacamentos militares em aldeias como as dos povos Guarani Kaiowá, Pataxó e Kaingang.
Com o apoio de Eunice e outros juristas, a nova Constituição garantiu que os indígenas não precisassem mais de tutela do Estado para acessar direitos fundamentais. “Hoje, além das mudanças de rotina, a Funai, que antes era uma agência anti-indígena, agora é dirigida por uma mulher indígena”, observou Krenak, citando Joenia Wapichana, atual presidente do órgão.
A atuação de Eunice também influenciou diretamente na ascensão de lideranças indígenas a cargos políticos.
Parte da trajetória da ativista foi recentemente retratada em ‘Ainda Estou Aqui’. O longa conta a história de Eunice e seu marido, Rubens Paiva, vítima da ditadura militar.
Fernanda Torres, protagonista do filme interpretando Eunice, venceu o Globo de Ouro por sua atuação. O projeto também é cotado como um dos favoritos para ganhar o Oscar na categoria de Melhor Filme Internacional.
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