Em 1973, o governo de Hafez al-Assad, pai de Bashar al-Assad, teve um de seus maiores choques com o Estado de “Israel”. Em outubro, lançou um ataque surpresa contra o Estado sionista nas Colinas de Golã, ocupadas desde 1967, em conjunto ao Egito, a guerra foi batizada pelos sionistas de Guerra do Iom Quipur, o feriado judaico que acontecia no dia. Foi uma derrota para “Israel” que teve de apelar para o apoio militar gigantesco do imperialismo para não ser derrotado totalmente, além disso acabou com o “sionismo de esquerda” que dominou o “país” desde 1948. Esse é um dos motivos do ódio do sionismo ao regime político de Assad.
Em 6 de outubro de 1973, egípcios e sírios lançaram operações ofensivas de surpresa na Península do Sinai e nas Colinas de Golã. Os sírios organizaram um enorme ataque blindado em três frentes, envolvendo três divisões de infantaria — a quinta, a sétima e a nona — que investiu contra a linha de cessar-fogo de 1967 ao longo da frente de Golã. As primeiras e terceiras divisões foram mantidas em reserva para explorar qualquer ruptura na defesa inimiga. Simultaneamente, tropas de elite transportadas por helicópteros, posteriormente reforçados por marroquinos, tomaram o posto de observação no Monte Hermon em combates corpo a corpo, privando os israelenses da capacidade de localização para a artilharia.
As divisões em avanço tiveram progressos desiguais: no norte e no centro do Golã, onde as defesas israelenses eram mais rígidas, as divisões sétima e nona obtiveram apenas ganhos modestos, a um custo elevado em tropas e equipamentos, enquanto cruzavam o fosso antitanque israelense. No sul, contudo, a quinta divisão do general Ali Aslan rompeu as defesas israelenses e expulsou os defensores de grande parte do sul e do centro do Golã. A chegada apressada de reservistas de tanques israelenses impediu um colapso total na manhã de 7 de outubro.
Quando Assad e seu chefe do estado-maior, Ioussef Chacour, viram o progresso da quinta divisão, ordenaram que a primeira divisão blindada avançasse pelo centro da frente e atacasse o posto de comando central israelense em Nafac. Na noite de 7 de outubro, duas investidas sírias — da quinta divisão e da primeira divisão blindada — chegaram a uma distância de ataque do Lago Tiberíades, também conhecido como Mar da Galileia, já na Palestina ocupada. Mais um avanço, e a Síria recapturaria o Golã.
Havia grande euforia em todo o mundo árabe. Imagens de tropas egípcias cruzando o Canal de Suez se espalharam rapidamente. Em Damasco, pessoas subiam nos telhados para assistir pilotos da força aérea israelense saltando de paraquedas de seus caças Phantom F-4 em chamas, abatidos por mísseis terra-ar sírios SAM-6 e interceptores MIG-21. A cidade ecoava com aplausos enquanto a televisão síria transmitia imagens de tanques sírios rompendo as defesas israelenses e de soldados israelenses capturados. Assad poderia ter imposto uma das maiores derrotas da história de “Israel” caso a tivesse vencido a guerra totalmente.
O capitulação do Egito e a contra-ofensiva sionista
Do ponto de vista militar a situação era muito positiva para os árabes. No entanto, o governo de Egito, de Anuar Sadat, já não era o mesmo de Nasser, e com ele havia se esgotado o nacionalismo radical egípcio. Assim a estratégia de Sadat, que posteriormente foi um dos maiores traidores da causa palestina ao assinar o acordo com “Israel” em 1978, não era de guerra até a vitória, era de usar a invasão militar para fechar um acordo, algo que de fato aconteceu. Os sírios foram os maiores perdedores com isso, pois eles estavam se preparando para tomar as Colinas do Golã militarmente.
Justamente quando as forças sírias estavam à beira de libertar o Golã, o alto comando egípcio ordenou uma pausa operacional entre 7 e 14 de outubro. Após cruzarem com sucesso a Linha Bar-Lev, os exércitos do Egito permaneceram em suas posições defensivas, sem tentar avançar para os estratégicos passos de Mitla e Giddi, que controlam a única rota leste-oeste através da península.
A pausa não tinha o objetivo de consolidar ganhos ou absorver um contra-ataque israelense, ela era parte da estratégia secreta de Sadat: lançar um ataque inicial e começar os diálogos com o imperialismo de uma posição de força. A decisão de Sadat foi apoiada por altos oficiais militares, já que o comando egípcio não queria que suas forças avançassem além da área coberta pela rede de mísseis terra-ar do Egito, que protegia suas tropas terrestres contra a superioridade aérea de “Israel”. Ou seja, não queria de fato levar o embate militar.
Na prática isso foi uma traição de Assad pois para a estratégia Síria funcionar era necessário que o Egito também tivesse um grande avanço militar, assim “Israel” ficaria perdido em uma guerra em duas frentes. Foi nesse momento que o imperialismo salvou “Israel”. Durante a pausa, o Comando de Transporte Aéreo Militar da Força Aérea dos EUA realizou uma operação gigantesca de transporte aéreo para “Israel” entre outubro e novembro de 1973. Seu nome foi “Nickel Grass”, a operação incluiu o envio de 22.325 toneladas de tanques, artilharia, munições e suprimentos em aeronaves de transporte C-141 Starlifter e C-5 Galaxy.
Com a frente paralisada no Egito, o contra-ataque sionista começou em 11 de outubro. A força aérea israelense, agora focada na Síria, passou a bombardear infra estrutura, como a refinaria de Homs, e centros urbanos, incluindo Damasco, para dispersar os altamente eficazes mísseis terra-ar SAM-6 da Síria. Enquanto a força aérea israelense realizava cinquenta ataques diários contra as forças egípcias, realizava mil ataques diários contra as forças sírias.
No dia 14, Sadat percebeu que o desastre se aproximava e começou o ataque militar, mas aí já era tarde demais. Essa capitulação de Sadat, que preferiu tentar um acordo com o imperialismo, que se mostrou impossível, invés de impor uma derrota decisiva para “Israel” foi uma gigantesca derrota dos árabes. O Egito, mais poderoso dos países árabes, nunca se recuperou e até hoje seu regime político é um baluarte para manter de pé o sionismo.
Já a Síria de Assad, mesmo com o revés militar, se manteve como um país de nacionalismo árabe, sem uma política externa das mais combativas, ao estilo do Irã atual por exemplo, mas que se mostrou um entrave pra “Israel” em diversos momentos.