Fachada da Universidade Barceló
Fachada da Universidade Barceló – Divulgação

A jovem Sofia Lima, de 22 anos, está no terceiro ano de medicina e decidiu trocar Cuiabá por Buenos Aires para realizar o sonho de se tornar médica. No entanto, os crescentes custos de vida e o aumento expressivo das mensalidades na Argentina transformaram esse sonho em um desafio.

“Quando saí da minha cidade, eu tinha a intenção de vir para a Argentina para me formar. Atualmente, com a situação que está, a faculdade em particular e o custo de vida em geral, tive de refazer os planos porque aqui não está dando mais para continuar”, desabafou ela, à RFI.

Após muitas reflexões e conversas com a família, Sofia decidiu se mudar para o Paraguai, onde poderá continuar seus estudos em condições financeiras mais favoráveis: “O Paraguai conseguiu abrir as portas para mim do mesmo jeito que a Argentina abriu há dois anos, porém com um custo de vida menor e com uma faculdade muito boa”.

O impacto nos estudantes brasileiros

Dados do Ministério do Capital Humano da Argentina indicam que, em 2022, havia 20.255 estudantes brasileiros de medicina no país, sendo 12.131 matriculados no sistema público e 8.124 em instituições privadas. Dentre as privadas, destaca-se a universidade Barceló, onde brasileiros ocupam 75% das vagas.

Na unidade de Santo Tomé, localizada na fronteira com São Borja (RS), os brasileiros enfrentam um aumento de 25% nas mensalidades em relação aos alunos locais. Esse cenário, somado à inflação argentina, resultou em protestos de estudantes.

Em 2024, a inflação acumulada desde o início do governo Javier Milei chegou a 160%, enquanto o índice de preços ao consumidor ultrapassa 106%. Contudo, na Barceló, os reajustes chegaram a 325%, tornando inviável a permanência de muitos brasileiros.

Javier Milei apontando pra frente com cara de braco
Javier Milei, presidente da Argentina – Divulgação

O retorno ao Brasil e as mudanças para outros países

Para o baiano Luís Silva, de 42 anos, a solução foi retornar a Vitória da Conquista após três anos de estudos. “O que eu vou fazer agora é trancar minha faculdade aqui, voltar para o Brasil, esperar um pouco mais para ver se melhora a condição cambial daqui e, se isso acontecer, eu volto para continuar a minha faculdade. Porque eu estou no terceiro ano, já é um pouco mais da metade, eu não posso perder o que eu já investi”, explicou.

A valorização do peso argentino e a desvalorização do real impactaram diretamente o custo de vida dos estudantes brasileiros. Em Curitiba, Gabriel Costa, 26 anos, viu sua mensalidade saltar de R$ 700 para R$ 1.900. Com despesas de aluguel, transporte e alimentação, ele gasta cerca de R$ 5 mil mensais e considera a transferência para o Paraguai.

Já a paulista Beatriz Silva, 20 anos, optou por abandonar a universidade privada Barceló e recomeçar seus estudos do zero em uma universidade pública argentina:

“O impacto desse aumento na minha vida é que eu terei de recomeçar. Vou ter de trancar, parar a faculdade no meu segundo ano. Ou seja: são dois anos que paguei a faculdade, que eu me esforcei, jogados no lixo. E vou recomeçar numa universidade pública aqui na Argentina para continuar o meu sonho e não ter de desistir e voltar para o Brasil”.

Um sonho interrompido

Para muitos, como a paulista Isabella Santos, 21 anos, o sonho de estudar na Argentina transformou-se em pesadelo:

“Eu tenho a minha família no Brasil. Os meus avós, já aposentados, e os meus pais, que também estão dando todo o esforço possível. É muito complicado porque a gente vem com um sonho e volta com uma ilusão de que a vida é barata, de que a faculdade vai nos escutar, mas, infelizmente, esse sentimento de frustração não é somente meu, mas de todos os meus colegas e de todos os estudantes aqui”.

Entre os principais motivos que fazem os brasileiros irem para a Argentina estudar medicina estão: entrada na universidade sem vestibular, ensino de qualidade e custo de vida que era baixo até 2023.

Conheça as redes sociais do DCM:
⚪️ Facebook: https://www.facebook.com/diariodocentrodomundo
🟣 Threads: https://www.threads.net/@dcm_on_line

Categorized in:

Governo Lula,

Last Update: 02/12/2024