BOLETIM DO JN 26-11
O didatismo do Jornal Nacional cobrindo o golpe, por Helena Costa
O Jornal Nacional continua a manter a tendência do didatismo: as edições sobre o golpe para manter Bolsonaro no poder estão sendo didáticas, explicativas, para mostrar efetivamente todos os detalhes, todas as minúcias do planejamento dos militares. À medida que novas descobertas vão sendo apresentadas pela PF, as informações vão ficando mais encorpadas.
Desde o primeiro momento, foi mostrada a existência de uma ORCRIM, uma Organização Criminosa que reuniu militares, civis e até um padre para garantir a permanência de Jair no poder. A referência a essa representação é constante, substituindo a ideia de grupo golpista, por exemplo.
A edição de hoje – com quase 17 minutos e ocupando todo o primeiro bloco – seguiu didática, com excelência na apresentação de detalhes para todo mundo entender. Vejam: narrativa é coisa séria, e é preciso mostrar todo o desenvolvimento do acontecimento determinado para que as ligações necessárias sejam feitas pelos espectadores rumo a determinada construção de sentido. E exatamente assim caminhou a edição.
Primeiro, mostrou a construção do convencimento que foi perpetrada pelos militares a partir da arregimentação da desinformação.
Segundo, expôs bastante Bolsonaro, tanto no detalhamento em si dos atos apresentados pelo relatório – que o cita 643 vezes, como destacou o jornal –, quanto nas imagens mostradas e nos trechos dos depoimentos e áudios dos envolvidos, que o implicam claramente ao plano golpista.
O desenho da edição foi feito para garantir a compreensão, o entendimento da cumplicidade de Jair Bolsonaro com a tentativa de golpe e os ataques violentos ao Estado democrático de Direito. Segundo o JN, Jair agiu para manter viva a narrativa de fraude nas urnas, atuou de forma clara nas ações golpistas e tinha inclusive um plano de fuga, desencadeado quando ele foi para a Flórida, nos EUA, antes da diplomação de Lula. Enfim, uma edição muito bem costurada.
Quero chamar atenção para dois pontos:
1 Bolsonaro está sendo totalmente exposto, ele é o super bode na sala, que atrapalha muito os planos de bolsonaristas de sapatênis feito Tarcisio de Freitas. No entanto, vamos sempre lembrar, se a grande imprensa esquecer, que ele não fez isso tudo sozinho. Contou com muitos amiguinhos. Uma rede de desinformação como aquela não se faz com coleguinhas voluntários sem recursos
2 Começa a haver já um movimento entre alguns jornalistas de blindar o conjunto das Forças Armadas, ressaltando, com muita ênfase, que muitos militares estrelados não apoiaram a tentativa de golpe etc. e tal. Helena Cantanhêde hoje até chegou a dizer para a gente imaginar a situação deles (coitados!) Que era muito difícil ir contra o presidente. Só pra lembrar que estamos falando de militares de alta patente, escolados em estratégias as mais diversas, poderosos. Não eram adolescentes recém-chegados ao clube. Foram, no mínimo, coniventes.
Sigamos atentos
Helena Costa é jornalista, doutora em Linguística e Língua Portuguesa, com foco em Análise do Discurso. Ela é pesquisadora do Observatório das Eleições e integra o Núcleo de Estudos Avançados de Linguagens, da Universidade Federal do Rio Grande. Coordena o programa Desinformação & Política. Também Desenvolve pesquisa sobre desinformação, desinfodemia e letramento midiático no Brasil.
O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para [email protected]. O artigo será publicado se atender aos critérios do Jornal GGN.
“Democracia é coisa frágil. Defendê-la requer um jornalismo corajoso e contundente. Junte-se a nós: www.catarse.me/jornalggn “