O então presidente Jair Bolsonaro durante live sobre supostas falhas do sistema eleitoral em 29 de julho de 2021. Foto: reprodução

A Polícia Federal (PF) estabeleceu uma conexão entre os ataques ao sistema eleitoral promovidos por Jair Bolsonaro (PL) desde 2019, primeiro ano de seu governo, e a trama golpista descrita no relatório final divulgado nesta terça-feira (26).

O documento, que possui 884 páginas e indica 37 pessoas, aponta que o ex-capitão planejou, atuou e teve domínio direto sobre os atos da organização criminosa que tentou dar um golpe de Estado no Brasil.

Segundo a investigação, os ataques ao sistema eleitoral, utilizado pelo próprio Bolsonaro em todas as eleições que disputou, foram conduzidos por meio de órgãos como a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), o Ministério da Defesa e um núcleo nomeado de Gabinete do Ódio, operando dentro do Palácio do Planalto.

O que é Abin e como funciona agência, na mira de operação da PF
A sede da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) — Foto: Brenno Carvalho

A PF conclui que essa narrativa foi construída de maneira estratégica, e não casual, para, em caso de derrota nas eleições, legitimar os atos que se sucederam após a vitória de Lula (PT).

Bolsonaro também assumiu o protagonismo em alguns momentos, como na manifestação de 7 de Setembro de 2021, quando declarou que só deixaria a Presidência “preso ou morto”. Outro episódio citado pela PF ocorreu na reunião ministerial de 2022, cujo conteúdo completo foi recuperado do computador de Mauro Cid, então auxiliar de Bolsonaro e agora delator.

A trama golpista ganhou contornos ainda mais claros após a vitória de Lula em 30 de outubro de 2022. De acordo com o relatório, mensagens e documentos apreendidos no final do governo indicam que Bolsonaro discutiu decretos de ruptura com militares e solicitou apoio antes de deixar o país.

Confira a linha do tempo dos principais fatos, segundo a PF:

  • 2019: Criação e difusão de informações falsas sobre a segurança das urnas;
  • 22 de março de 2021: Plano para fuga de Bolsonaro;
  • 29 de julho de 2021: Bolsonaro faz live com profusão de mentiras sobre urnas;
  • 7 de setembro de 2021: Bolsonaro ameaça o STF e ataca o sistema eleitoral;
  • 5 de julho de 2022: Reunião ministerial a três meses das eleições;
  • 2 de novembro de 2022: Golpistas se instalam em frente ao QG do Exército;
  • 9 de novembro de 2022: Impressão do plano para matar Lula, Geraldo Alckmin e Alexandre de Moraes;
  • 18 de novembro de 2022: “Não percam a fé”, diz Walter Braga Netto (PL) a apoiadores durante o sumiço de Bolsonaro;
  • 22 de novembro de 2022: PL contesta o resultado das eleições no TSE;
  • Fim de novembro de 2022 (26 a 29 de novembro): Carta ao comandante do Exército;
  • 6 de dezembro de 2022: Ajuste no plano “Punhal Verde e Amarelo”;
  • 7 de dezembro de 2022: Reunião na residência oficial sobre a minuta golpista;
  • 9 de dezembro de 2022: Bolsonaro se reúne com chefe de comando e faz o 1º discurso após a derrota;
  • 10 de dezembro de 2022: Contas de WhatsApp vinculadas a Mario Fernandes encaminham mensagens com um comunicado para criar um “cenário caótico” em Brasília dois dias antes da diplomação de Lula;
  • 12 de dezembro de 2022: Tentativa de invasão da sede da PF;
  • 15 de dezembro de 2022: Operação “Copa 2022”;
  • Dezembro de 2022: Pressão e ataques aos comandantes do Exército e da Aeronáutica;
  • 4 de janeiro de 2023: “Ainda tem algo bom para acontecer?”, pergunta o tenente-coronel Sérgio Cavaliere, um dos 37 indiciados na apuração, a Mauro Cid, dias antes dos atos golpistas;
  • 8 de janeiro de 2023: Invasão e depredação das sedes dos três Poderes.

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Last Update: 27/11/2024