Por Luís Carlos Silva
Uma matéria tendenciosa e venenosa publicada pela Folha nesta terça-feira (13) serviu de combustível para a milícia bolsonarista, que está exaltada com a possibilidade de derrubar o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Sem qualquer base jurídica, o texto afirma que o magistrado, quando presidiu o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), usou de recursos ilegais para embasar suas decisões contra Jair Bolsonaro e seus apoiadores nos inquéritos das fake news e das milícias digitais.
A extrema direita não esconde a sua gratidão ao jornal pelo trabalho sujo. A senadora Damares Alves (Republicanos-DF), ex-ministra do governo, já anunciou que um novo pedido de impeachment contra o ministro – já são quatro – será apresentado nesta semana. “O texto ainda está sendo redigido, mas a ideia é embasar o processo na reportagem da Folha”, jacta-se o site UOL, da mesma corporação midiática. Em plenário, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do presidente, elogiou a matéria, que provaria que seu pai foi perseguido. “Moraes não agiu com a isenção necessária”, bravateou cinicamente.
Ex-apoiadores da Jovem Pan e o “pastor” Malafaia
Na Câmara Federal, a bancada bolsonarista também bateu bumbo, alvoroçada com a matéria de Glenn Greenwald na Folha. Em discurso colérico, o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) xingou o ministro de “mau-caráter”, “mentiroso”, “covarde” que se “esconde atrás da toga”, e pregou seu impeachment. Em suas redes sociais, ele esbravejou que vai “requerer ao jornalista @ggreenwald o acesso completo aos materiais citados, para que possamos utilizá-los na CPI já protocolada sobre abuso de autoridade”.
Fora do parlamento, a milícia bolsonarista também está babando ódio. O lobista da fé Silas Malafaia, um dos mais hidrófobos golpistas, rosnou: “Quem é ele para continuar a presidir um inquérito imoral e ilegal de fake news? Um cara que utiliza do poder que tem, do cargo que tem, para promover perseguição política… Falar que os outros ministros do STF vão continuar calados, subservientes a esse ditador, é a vergonha e a desmoralização total do STF, se ele continuar com o apoio dos seus pares”.
Ex-apoiadores da Jovem Pan – ou Jovem Pan como a emissora é conhecida – também festejaram a matéria do ex-inimigo na mídia. Paulo Figueiredo – neto do general João Batista Figueiredo, último ditador militar – postou: “Acabo de ler a reportagem bombástica da Folha, assinada pelo jornalista renomado Glenn Greenwald, que já está sendo chamada de Vaza Jato do Xandão”. Até o bilionário excêntrico Elon Musk, dono do X, aproveitou para disparar contra “a censura” imposta pelo ministro do STF à plataforma ianque.
A reação contra a ofensiva fascista
O bombardeio deve prosseguir nos próximos dias. Ele visa criar o clima para o impeachment de Alexandre de Moraes e tem, como subproduto, o intento de intimidar o STF para aliviar a barra de Jair Bolsonaro e dos seus apoiadores. Diante desta investida, o ministro já reagiu e reafirmou a correção dos seus atos. Em nota, afirmou que as investigações seguiram as normas previstas na lei. “Todos os procedimentos foram oficiais, regulares e estão devidamente documentados nos inquéritos e investigações em curso no STF, com integral participação da Procuradoria Geral da República”.
Vários juristas de renome também já se pronunciaram contra o factoide da Folha e a onda bolsonarista. Em postagem no Diário do Centro do Mundo, Fernando Augusto Fernandes afirmou que a reportagem de Glenn Greenwald, “atualmente ídolo dos bolsonaristas e referência da extrema-direita mundial, não tem qualquer fundamento. “O ministro Alexandre Moraes como relator do inquérito no STF tem poderes para requisitar informação de todo e qualquer órgão, inclusive com eventual quebra de sigilos e determinação de diligência. Não há nada de anormal ou ilegalidade nas determinações relatadas pela matéria da Folha”.
No mesmo rumo, o advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, conhecido como Kakay, afirmou que não tem como comparar a matéria da Folha com os vazamentos da Vaja-Jato. “Não li as gravações, mas me parece óbvio que mensagens trocadas entre um ministro e assessores pode ter determinação, orientação, ordens e tudo que orienta a relação entre um ministro e seus juízes assessores… Nada existe de irregular. Falar que tem qualquer semelhança entre combinação de juiz com procuradores da República beira a má fé”.
Charge: Aroeira/247