Na última quarta-feira, dia 31 de julho, Revista Reflexão, ligada à corrente MES, do PSOL, publicou um artigo intitulado “As eleições presidenciais na Venezuela”. A peça é mais uma dentre muitas lançadas com a campanha golpista deslanchada pelo imperialismo contra o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, por parte de setores ditos de esquerda servis ao ou simplesmente pró-imperialistas.
Essa autoproclamada esquerda, golpista e alinhada constantemente às posições da CIA, reforça a campanha de Washington sobre uma falta de democracia nas eleições venezuelanas.
“O que você faz para tentar ‘ganhar’ uma eleição apesar da maioria do país te rejeitar? Nomear um Conselho Nacional Eleitoral incondicionalmente subordinado à vontade do executivo“.
Assim coloca a questão a corrente do PSOL, como se o país não sofresse um cerco movido pelo imperialismo, e uma ofensiva golpista permanente desde a primeira chegada ao governo de Hugo Chávez.
Após esse ataque, contraposto por um fato elementar: o golpe de 2016 no Brasil, onde vigorava a “autonomia” do Judiciário, da Polícia Federal, entre outros órgãos, vemos o teor da revista do PSOL. Maduro não deve poder defender o governo nacionalista do golpe do imperialismo — verdadeiro mestre do PSOL. Se sucedem a esse uma série de outros ataques sobre pormenores eleitorais que não mudam a questão política central, desvelada a seguir:
“Impedir o registro de partidos que poderiam constituir uma oposição de esquerda ao governo.”
Aqui devemos considerar o seguinte: num momento em que o governo chavista, maior representante do movimento popular na Venezuela, está sofrendo um violento ataque do imperialismo; em que a direita fascista tomou às ruas organizada pelo imperialismo; e quando a frente golpista da direita se dá em torno do lema de que as eleições não foram democráticas, a quem interessa levantar com tanto afinco essa palavra de ordem?
Interessaria atacar o governo bolivariano a um agrupamento de esquerda na Venezuela?
E, adotando a mesma política do imperialismo para constituir uma oposição de esquerda, o caráter desta oposição seria de fato de esquerda, ou seria de direita, alinhado ao imperialismo e à direita fascista e golpista?
Consideremos que a maior barreira para a colonização da Venezuela pelas petroleiras norte-americanas seja justamente o chavismo, que estatizou o petróleo. Qual a política de uma oposição de esquerda quando esse governo é atacado pelo imperialismo? Não seria construir uma frente única com o governo contra o imperialismo?
Vejamos, entre a falta de democracia acusada estaria uma intervenção no Partido Comunista da Venezuela:
“O Partido Comunista, que havia entrado na oposição e, nos últimos anos, tem sido muito crítico em relação ao governo, denunciando seu caráter ‘neoliberal’ e ‘antipopular’.”
Um governo frontalmente contrário ao imperialismo, constantemente ameaçado por golpes, que se mantém no lugar apenas pela força de sua base de apoio organizada entre os trabalhadores, teria condições políticas de aplicar um programa neoliberal e antipopular? Mais que isso, caso aplicasse esse programa, o governo seria atacado com tanta força pelo imperialismo? A resposta é óbvia: não.
A Venezuela, um ponto importante que se coloque, não vive num estado de normalidade, mas numa constante guerra fria, para se manter soberana. Assim sendo, o governo não pode e nem deve governar como se o caso fosse outro, é preciso defender as conquistas populares do golpismo imperialista. Frente a tal situação, denuncia a revista psolista que o governo utiliza:
“… amplamente um dispositivo que viola claramente a Constituição, que consiste na desqualificação de dirigentes políticos, negando-lhes assim o direito de serem candidatos ou de exercerem funções públicas.“
Figura de proa do golpismo na Venezuela, e há décadas, a opositora Maria Corina Machado foi proibida de concorrer nas eleições. O governo venezuelano deveria garantir aos golpistas, sabotadores, apoiadores das criminosas sanções contra o país, o direito de minarem o Estado venezuelano? Para a corrente do PSOL, sim.
E aqui não estamos sequer entrando no mérito das acusações, que parecem retiradas diretamente dos manuais do imperialismo e de seus órgãos de imprensa, tais como:
“Utilizar maciçamente os recursos do Estado para fins eleitorais. A mídia estatal opera sistematicamente como instrumento de propaganda eleitoral do Estado-partido. Toda propaganda eleitoral, cartazes, mobilizações e outros eventos eleitorais são pagos com recursos públicos.
Forçar os funcionários do Estado a participar de mobilizações em apoio à candidatura do presidente Maduro.
Criar dúvidas sobre o sigilo do voto para pressionar aqueles que, de alguma forma, dependem de recursos do Estado (auxílios, emprego, moradia) a não votar na oposição, colocando em risco seu acesso a esses recursos.
Censura e fechamento de veículos de mídia considerados pró-oposição.
Bloqueio de sites não controlados pelo governo. […]
Perseguir e prender integrantes da equipe de campanha do principal candidato da oposição.“
E o apoio do MES à oposição fascista, serviçal do imperialismo, chega a ficar explícito:
“… quando os representantes das organizações de oposição só tinham cópias de 40% das atas de apuração dos votos (em que a derrota do governo era clara)“.
A Revista Reflexão, é claro, não especifica qualquer das medidas, mas as apresenta de maneira genérica, porque são colocações que não possuem qualquer importância de fato frente aos acontecimentos políticos na Venezuela. Os campos relevantes na política daquele país são dois: o chavismo e a oposição de direita. O conflito na Venezuela não é entre o povo e o governo, mas entre o povo venezuelano (com o governo nacionalista) e o imperialismo.
“Na manhã seguinte, antes que a contagem dos votos fosse concluída e sem que os partidos de oposição pudessem revisar sequer parte dos registros de votação, o CNE proclamou expressamente o presidente Maduro como presidente eleito para os próximos seis anos.
Na tarde de segunda-feira, dia 29, Edmundo González Urrutia e María Corna [sic] Machado declaram que já têm mais de 70% dos registros eleitorais e podem provar que Maduro foi derrotado.
O Centro Carter e Celso Amorim, representante de Lula da Silva, declaram que não reconhecerão os resultados das eleições até que todos os relatórios eleitorais sejam divulgados.
Os governos de Cuba, Nicarágua, Honduras, China, Rússia e Irã parabenizam Maduro por sua vitória. A maioria dos governos latino-americanos rejeita os resultados.
Essas são as eleições ‘livres e democráticas’ realizadas na Venezuela em 28 de julho de 2024.”
O exposto parece algo saído de um editorial do Globo, Estado de S.Paulo, etc. O que faz o MES é ocultar o papel de sabotagem do imperialismo na Venezuela e, por extensão, na América Latina. O imperialismo aplica as sanções, o imperialismo infiltra opositores na esquerda, busca gerar o caos no país com a oposição de direita financiada por ele, e visa desestabilizar o país para saqueá-lo. Essa é a questão, e é esse o ponto em que a dita esquerda pró-imperialista se recusa a entrar e debater, ao invés disso encobrindo o problema.