As eleições nos Estados Unidos, em 2024, ganharam mais atenção internacional do que em outros anos. Dois eventos recentes intensificaram o foco nesse pleito: a renúncia de Joe Biden à candidatura à reeleição e o atentado a Donald Trump durante um comício. Para discutir esses eventos e seus impactos no Brasil e no mundo, Ana Prestes, socióloga, analista internacional e secretária de Relações Internacionais do PCdoB, e Pedro Costa Júnior, professor de Relações Internacionais e pesquisador da USP, conversaram com Guiomar Prates, editora do Portal Vermelho, e Inácio de Carvalho.

Ana Prestes iniciou destacando a importância das eleições dos EUA para o mundo, enfatizando o papel dos Estados Unidos como uma potência hegemônica, embora essa hegemonia esteja sendo contestada. Ela mencionou que os conflitos bélicos em que os EUA estão envolvidos, como a guerra por procuração na Ucrânia e o apoio a Israel no conflito em Gaza, têm repercussões globais.

Pedro Costa Júnior concordou e apontou que a atual crise de hegemonia dos Estados Unidos aumenta a imprevisibilidade das eleições. “Os Estados Unidos estão em declínio, enfrentando crises econômicas e uma perda de soft power. Essa eleição é especialmente importante porque estamos vendo uma superpotência em crise,” afirmou Pedro.

Assista a íntegra do Entrelinhas Vermelhas, que traz também a entrevista com o secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento Social, Osmar Júnior:

Os acontecimentos recentes e suas implicações

Ana e Pedro também abordaram os acontecimentos recentes que adicionaram uma camada extra de tensão à eleição de 2024. A renúncia de Biden e o atentado contra Trump refletem a turbulência política interna nos Estados Unidos. Pedro destacou que o Partido Democrata enfrenta uma crise interna significativa, exacerbada pelas facções e divisões entre os apoiadores de Biden, Clinton e a ala mais progressista representada por Bernie Sanders.

“O Partido Democrata está em uma guerra civil interna desde 2016, quando Hillary Clinton atravessou o caminho de Biden. Essa fragmentação só se aprofundou,” explicou Pedro. Ele também ressaltou que Biden foi eleito em 2020 como um presidente de transição, mas a falta de preparação de Kamala Harris como sucessora potencialmente cria um vácuo de liderança dentro do partido.

Ana e Pedro discutiram se Kamala Harris conseguiria unificar ou aliviar a crise no Partido Democrata. “Kamala Harris não vai ter vida fácil, ela vai enfrentar o Trump, que tem toda a estrutura da direita americana, e também enfrentará resistência dentro do próprio partido,” afirmou Pedro. Ele destacou que Kamala, ao contrário de Biden quando era vice de Obama, não teve um protagonismo significativo no Partido Democrata.

Melhor candidato para o Brasil

Quando questionados sobre qual seria o melhor candidato para o Brasil, ambos concordaram que Kamala Harris seria o “menos pior”. Ana destacou que, embora Harris mantenha uma política imperialista similar à de Biden, sua eleição representaria um menor fortalecimento da extrema-direita global. “A Kamala é melhor para o Brasil porque a volta de Trump fortaleceria organicamente a extrema direita no Brasil e na América Latina,” disse Pedro.

As análises de Ana Prestes e Pedro Costa Júnior destacam a complexidade e a importância das eleições americanas para o cenário internacional. Com a crise de hegemonia dos Estados Unidos, os resultados dessa eleição terão implicações profundas não apenas para o país, mas para todo o sistema global. As turbulências internas e os desafios externos tornam este um momento crucial na política mundial.

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Última Atualização: 26/07/2024