Parlamentares bolsonaristas do Partido Liberal (PL) invadiram as mesas diretoras da Câmara dos Deputados e do Senado Federal nesta terça-feira, 5, em reação à decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que decretou prisão domiciliar contra o ex-presidente Jair Bolsonaro na segunda-feira, 4.
A movimentação foi revelada pelo deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ), líder do Partido dos Trabalhadores na Câmara, por meio de suas redes sociais.
Segundo ele, os aliados de Bolsonaro passaram a ocupar os espaços da Mesa Diretora das duas Casas do Congresso Nacional como forma de pressionar pela “anistia ampla” de envolvidos em atos golpistas e pela abertura de processo de impeachment contra o ministro do STF.
“Exigem anistia ampla a golpistas e impeachment de Moraes. Não é protesto, é chantagem”, escreveu Lindbergh Farias. O parlamentar também afirmou que a ação tem por objetivo travar votações de pautas em curso no Legislativo, como o projeto que amplia a faixa de isenção do Imposto de Renda para trabalhadores que recebem até R$ 5 mil mensais.
“Querem sequestrar o Parlamento, paralisar o Brasil e impedir votações como a isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil. Tudo isso para salvar Bolsonaro. A rendição à barbárie é inegociável”, completou.
A ocupação dos espaços das mesas diretoras das duas Casas ocorre em um contexto de retomada dos trabalhos legislativos após o recesso parlamentar, iniciado em meados de julho. A base governista e líderes do Centrão discutem uma agenda com prioridade para projetos econômicos e institucionais no segundo semestre de 2025.
O episódio gerou reações dentro e fora do Congresso. Lindbergh cobrou posicionamentos dos presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), ao afirmar que “o Congresso não pode ser refém de quem ataca a democracia”.
“É hora de Hugo Motta, Alcolumbre e os líderes democratas reagirem com firmeza”, escreveu o deputado.
A ação bolsonarista ocorre no dia seguinte à decretação de prisão domiciliar de Jair Bolsonaro, determinada por Alexandre de Moraes com base no descumprimento de medidas cautelares anteriores. De acordo com a decisão, o ex-presidente teria desrespeitado ordens judiciais ao manter contato com investigados e realizar movimentações não autorizadas, o que levou o STF a substituir as medidas em vigor por prisão em regime domiciliar, com monitoramento por tornozeleira eletrônica.
Segundo apuração da CNN Brasil, Moraes entendeu que Bolsonaro descumpriu repetidamente as restrições impostas no contexto da investigação sobre tentativa de subversão do resultado eleitoral de 2022. O caso também envolve apurações sobre ataques ao sistema eleitoral, articulações com militares e a disseminação de desinformação.
Nas redes sociais e em declarações à imprensa, parlamentares do PL e aliados de Bolsonaro reagiram à prisão com críticas ao STF.
Durante a manhã desta terça, parlamentares bolsonaristas passaram a pressionar lideranças das duas Casas para a inclusão de temas considerados prioritários por esse grupo, como projetos de anistia, a instauração de comissões parlamentares de inquérito e a apreciação de pedidos de impeachment contra ministros da Corte.
Nos bastidores, integrantes do Palácio do Planalto consideram que a estratégia de confrontação direta adotada pelo PL visa mobilizar sua base mais radical e manter coesão interna diante das dificuldades judiciais do ex-presidente, que permanece inelegível. A avaliação no governo é de que a ação tem pouco respaldo institucional para avançar, mas acende alerta quanto ao ambiente político nas próximas semanas.
A segurança institucional do Congresso também foi reforçada após o início da movimentação bolsonarista. Até o momento, não há registros de depredações ou conflitos físicos. O acesso ao plenário e a áreas reservadas aos líderes partidários foi monitorado por agentes da Polícia Legislativa.
A base do governo e lideranças de partidos de centro afirmam que não haverá paralisação dos trabalhos legislativos e que as votações previstas para esta semana serão mantidas. Projetos relacionados à pauta econômica, como o novo marco fiscal para estados e municípios e medidas tributárias, seguem no calendário das comissões.
Ainda nesta semana, está prevista reunião entre líderes partidários para discutir o impacto político da prisão de Bolsonaro nas negociações em andamento no Congresso. O Palácio do Planalto deve intensificar a articulação com os presidentes da Câmara e do Senado para garantir o avanço de propostas consideradas prioritárias para a gestão federal.
Ao mesmo tempo, setores da oposição avaliam acionar o Conselho de Ética da Câmara contra deputados que protagonizaram a invasão das mesas diretoras. A medida, segundo parlamentares ouvidos reservadamente, visa responsabilizar formalmente aqueles que, segundo a denúncia do PT, tentaram obstruir o funcionamento do Congresso.
A Procuradoria-Geral da República acompanha os desdobramentos. O STF ainda não se manifestou sobre o episódio envolvendo os parlamentares bolsonaristas.