Astrônomos confirmaram nesta quarta-feira a passagem de um novo objeto interestelar pelo sistema solar. Nomeado 3I/Atlas, o corpo celeste é o terceiro desse tipo já identificado e, segundo estimativas iniciais, pode ser o maior já registrado.
A descoberta foi anunciada pelo Centro de Planetas Menores da União Astronômica Internacional, após observações feitas pela pesquisa ATLAS, financiada pela NASA no Havaí.
O cometa foi inicialmente registrado como A11pl3Z antes de ser classificado oficialmente como um objeto de origem interestelar. Cientistas analisam sua composição e trajetória.
“O fato de vermos alguma imprecisão sugere que é principalmente gelo e não rocha”, afirmou Jonathan McDowell, astrônomo do Centro Harvard-Smithsonian de Astrofísica.
De acordo com Richard Moissl, chefe de defesa planetária da Agência Espacial Europeia, o objeto interestelar não apresenta risco de colisão com a Terra. “Ele voará profundamente através do sistema solar, passando logo dentro da órbita de Marte, mas não atingirá nosso planeta vizinho”, disse.
Com velocidade superior a 60 quilômetros por segundo, o objeto supera significativamente a velocidade dos corpos celestes que orbitam o Sol, indicando que sua trajetória não é influenciada pela gravidade do sistema solar. “Significa que ele não está orbitando nossa estrela, mas vindo do espaço interestelar e voando para lá novamente”, explicou Moissl.
A origem de 3I/Atlas ainda é tema de investigação, mas os astrônomos acreditam que objetos como esse se formam em sistemas estelares e são ejetados por interações gravitacionais com estrelas vizinhas.
“Achamos que essas pequenas bolas de gelo provavelmente se formam associadas a sistemas estelares”, explicou McDowell. “E então, quando outra estrela passa, puxa a bola de gelo e a liberta. Ela se descontrola, vagueia pela galáxia, e agora esta está passando por nós.”
A observação inicial ocorreu na terça-feira, conforme relato do astrônomo americano David Rankin, que compartilhou o achado na plataforma Bluesky. Após o anúncio, astrônomos de diferentes países vasculharam registros anteriores de telescópios e conseguiram traçar a trajetória do cometa até pelo menos 14 de junho.
As primeiras estimativas apontam que o objeto possui entre 10 e 20 quilômetros de diâmetro, embora essa medida possa variar dependendo da composição. Se for composto principalmente de gelo, como sugerem os dados iniciais, seu tamanho real pode ser menor, já que superfícies geladas refletem mais luz do que rochosas.
Moissl informou que o cometa permanecerá visível por telescópios até o próximo ano. “Ele ficará mais brilhante e mais próximo do Sol até o final de outubro e então ainda poderá ser observado até o ano que vem”, disse.
Esta é a terceira vez que um corpo interestelar é detectado cruzando o sistema solar. O primeiro foi ‘Oumuamua, identificado em 2017. A forma incomum e a aceleração não explicada do objeto geraram diversas teorias, incluindo a possibilidade de origem artificial, descartada por análises subsequentes. Em 2019, foi descoberto 2I/Borisov, considerado mais parecido com cometas comuns.
Mark Norris, astrônomo da Universidade de Lancashire Central, no Reino Unido, destacou que 3I/Atlas apresenta velocidade superior aos anteriores. “Está se movendo consideravelmente mais rápido do que os outros dois objetos extrassolares que descobrimos anteriormente”, afirmou.
Atualmente, o objeto está a uma distância semelhante à que separa a Terra de Júpiter. No entanto, sua observação direta ainda está limitada ao Hemisfério Sul, impossibilitando a visualização em algumas regiões, como destacou Norris.
Modelagens atuais indicam que até 10 mil objetos semelhantes podem estar transitando pelo sistema solar em determinado momento. A maioria, no entanto, seria menor e mais difícil de detectar. Com o início das operações do Observatório Vera C. Rubin, no Chile, astrônomos esperam que a frequência dessas descobertas aumente. “O observatório poderá encontrar esses visitantes interestelares fracos todos os meses”, disse Norris.
A possibilidade de interceptar o cometa com uma missão espacial foi descartada. A velocidade e a trajetória tornam inviável qualquer aproximação no tempo necessário para coleta de amostras ou imagens detalhadas.
Apesar das limitações, os cientistas destacam o potencial científico de objetos como 3I/Atlas. A análise de sua composição pode oferecer informações relevantes sobre outros sistemas planetários da galáxia. “Se detectássemos precursores de vida, como aminoácidos, em tal objeto, isso nos daria muito mais confiança de que as condições para a vida existem em outros sistemas estelares”, concluiu Norris.