Desde que Donald Trump lançou seu controverso “dia da liberação” em 2 de abril de 2025, impondo tarifas devastadoras sobre o mundo inteiro e criando uma disrupção jamais vista pelo menos desde décadas no comércio mundial, o presidente americano vem prometendo acordos bilaterais com diversos países. Contudo, até agora, apenas conseguiu celebrar dois acordos: um com o Reino Unido, onde os Estados Unidos não têm déficit comercial e contam com o primeiro-ministro Keir Starmer, que apesar de ser do Partido Trabalhista, de centro-esquerda, é totalmente submisso e vassalo aos Estados Unidos, está implementando uma política neoliberal, censura quem critica Israel, ou seja, é um governo extremamente impopular.

Agora surge o segundo acordo, desta vez com o Vietnã, um país especialmente vulnerável devido à sua relação conturbada com a China. Embora a China pudesse ser sua parceira maior, o Vietnã acabou desenvolvendo uma grande dependência das exportações para os Estados Unidos, situação que o deixou em posição de extrema fragilidade nas negociações comerciais.

O resultado foi um acordo totalmente covarde e desequilibrado com os Estados Unidos, no qual os produtos vietnamitas serão taxados com um mínimo de 20% para entrar no território americano, alguns chegando até mais, enquanto os produtos americanos terão praticamente taxa zero para entrar no Vietnã. Esta disparidade brutal representa uma capitulação completa da soberania comercial vietnamita diante da pressão econômica americana.

O acordo é tão desequilibrado e covarde que produziu um choque nas diplomacias comerciais no mundo inteiro. Países que ainda estão temerosos e aguardando, estudando a melhor forma de abordar o governo americano para também fechar acordos vantajosos para seus territórios, agora observam com apreensão o precedente estabelecido pelo Vietnã.

A escalada tarifária devastadora

Após o fatídico 2 de abril, o Vietnã foi um dos países que inicialmente recebeu uma das maiores tarifas impostas pelos Estados Unidos, chegando a impressionantes 46%. Trump posteriormente recuou, baixando as tarifas para 10% durante um período de negociação de 90 dias, antes de estabelecer a atual taxa de 20% no acordo final.

O Vietnã figura entre os principais exportadores mundiais de smartphones, celulares e produtos de alta tecnologia. Ironicamente, muitas empresas americanas migraram suas produções da China para o Vietnã, tentando escapar justamente das tarifas e tensões geopolíticas do governo americano contra a China. Agora, pelo que se vê, voltarão a sofrer as consequências de uma política comercial errática.

A grande estupidez estratégica

Revela-se aqui uma grande estupidez da estratégia de Trump: boa parte das exportações vietnamitas provém de empresas multinacionais com participação significativa dos Estados Unidos. Ao impor essas tarifas punitivas, Trump está, em parte, penalizando suas próprias empresas e prejudicando a competitividade de produtos que, embora fabricados no Vietnã, têm capital e tecnologia americanos.

Os números do déficit comercial

Os dados revelam que o déficit comercial dos Estados Unidos com o Vietnã tem sido alto. Em 2024, os Estados Unidos exportaram apenas 13,1 bilhões de dólares em produtos para o Vietnã, enquanto importaram 136,6 bilhões de dólares no mesmo período. Este déficit de mais de 123 bilhões de dólares ocorre porque os Estados Unidos compram produtos baratos do Vietnã, que exporta produtos de qualidade, tecnológicos e baratos.

Entre os principais produtos que o Vietnã exporta para os Estados Unidos estão componentes eletrônicos, têxteis, calçados e produtos manufaturados de empresas como Apple, Samsung e Nike, que estabeleceram operações significativas no país. Do lado americano, as exportações para o Vietnã concentram-se principalmente em produtos agrícolas, tecnologia avançada e equipamentos industriais.

O acordo estabelece ainda uma tarifa punitiva de 40% sobre práticas de “trans-shipment”, uma medida direcionada especificamente para combater empresas que enviam produtos fabricados na China através do Vietnã para evitar as altas tarifas sobre produtos chineses. Esta cláusula revela a obsessão americana em conter a influência econômica chinesa, mesmo que isso signifique prejudicar parceiros comerciais tradicionais.

O precedente perigoso

O acordo com o Vietnã estabelece um precedente extremamente perigoso para as relações comerciais globais. Ao aceitar condições tão desfavoráveis, o governo vietnamita sinalizou para outros países em desenvolvimento que a resistência às demandas americanas pode ser mais custosa do que a submissão.

Este episódio marca um momento crucial na reconfiguração das relações comerciais mundiais, onde a força econômica americana é utilizada de forma cada vez mais unilateral e predatória, forçando parceiros menores a aceitar acordos que sacrificam sua soberania econômica em troca de acesso ao mercado americano.

O mundo observa, agora, se outros países seguirão o exemplo vietnamita de capitulação ou se encontrarão formas de resistir à chantagem comercial americana que se tornou a marca registrada da era Trump.

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Last Update: 02/07/2025