O Antônio Carlos “Kakay” de Almeida Castro publicou um artigo no portal Brasil 247, intitulado É a política, estúpido!, analisando a derrota do governo no caso do IOF. Como indica o título, o jurista considera que “esta crise só existe porque não existe política no governo”, o que seria a razão da sequência de derrotas. Ocorre que “Kakay” consegue ver o que está flagrantemente visível para todos, que a política do governo está errada, mas claramente não consegue ver o problema mais concretamente, o que fica evidente quando diz:

“É claro que é dificílimo para qualquer Presidente governar em um sistema presidencialista com um Congresso como o atual. Como o Lula teve que fazer uma aliança muito ampla para derrotar o fascismo nas eleições de 2022, a governabilidade ficou presa a este leque muito amplo. Alguns agem como aproveitadores.”

Não é “alguns”, como tenta suavizar o jurista, essa articulação que o governo fez é justamente a raiz do problema. “Kakay” não registrou claramente raiz da crise, mas o governo não consegue atender a sua base social, a classe trabalhadora que o elegeu, não por incompetência, mas por estar comprometido com o imperialismo, que por meio da frente ampla, se infiltrou no gabinete de Lula.

Uma vez instalados, expoentes dessa aliança do gabarito de Marina Silva, Geraldo Alckmin, Simone Tebet e elementos da direita petista como Fernando Haddad deram início a uma campanha de sabotagem que tornou o governo mais e mais refém do imperialismo. Finalmente, entre “taxa da blusinha”, campanha contra o petróleo, juros estratosféricos e identitarismo, o governo foi lenta, mas consistentemente se desmoralizando até chegar à crise atual.

Ao contrário do que defende “Kakay”, essa aliança que não impulsionou a vitória eleitoral de Lula, mas serviu para enfraquecê-lo, até que agora, há um ano da campanha eleitoral, manobras mais ousadas para derrotar definitivamente Lula fossem possíveis. Outra expressão dessa guinada à direita força pelas alianças está na submissão do governo ao Supremo Tribunal Federal. Sobre isso, o advogado destaca:

“É claro que resta a saída de questionar a constitucionalidade junto ao Supremo Tribunal. A Corte acataria a tese. Mas o desgaste do Supremo junto ao Congresso seria terrível, em um momento já tão delicado, com a Ação Penal dos golpistas prestes a ser julgada. Outra vez a decisão deve ser política por parte do Executivo. Penso que o ideal é não expor a Suprema Corte.”

A preocupação do “Kakay” com o Suprema mostra que, apesar de ele identificar a parte do problema visível até a um cego, a “política” que impulsiona a crise do governo continua sendo defendida pelo advogado. A aliança com o STF, porém, é parte importante do problema e ao defender que Lula “poupe o Supremo do desgaste”, “Kakay” defende o fortalecimento do setor responsável pela crise.

Em outras palavras, ele defende a submissão do governo Lula aos setores do imperialismo infiltrados no governo, os imperialistas que tem justamente no STF a sua trincheira final, na alta burocracia estatal, onde eles estão encastelados tanto para impedir o bolsonarismo de atropelar completamente o antigo centro político, como também para. Submeter o governo do PT na sua disciplina política. Dito isso, fica claro que “Kakay” não quer a superação do problema identificado, mas o aprofundamento da crise.

Falar que o problema é a política é uma obviedade. Ocorre que para conseguir derrotar os chantagistas que atacam seu governo, Lula precisa se livrar das forças que atuam para afundá-lo. Isso implica em se livrar da frente ampla e se desgarrar do STF, em quem tem se apoiado para enfrentar o bolsonarismo, por uma cegueira política.

Só isso permitiria a Lula colocar em prática uma política de alto impacto para reabilitar seu apoio junto aos trabalhadores, a classe social que o apoia e que foi escanteada com a guinada à direita do governo. Esse estreitamento do apoio popular a Lula, por outro lado, permitiria ao governo chamar a mobilização popular para derrotar as forças da direita que o sabotam. Não é o que “Kakay” defende, porque apesar de tudo, existe uma política sendo desenvolvida: só que ela favorece o setor que “Kakay” veladamente defende.

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Last Update: 28/06/2025