Das lavouras ao poder, 142 empresários atuaram para desestabilizar o país — poucos foram investigados, nenhum foi punido


Um estudo inédito revelou a participação de 142 empresários do agronegócio em ações que visavam desestabilizar a democracia brasileira, incluindo o financiamento de acampamentos golpistas e bloqueios de rodovias entre 2022 e 2023. O relatório, intitulado “Agrogolpistas”, mostra como grandes nomes do setor rural estiveram por trás de movimentos que culminaram nos ataques de 8 de janeiro de 2023, em Brasília.

A investigação, conduzida pelo Observatório De Olho nos Ruralistas, cruzou dados de 1.452 pessoas investigadas por suposta participação em atos antidemocráticos. Desse total, 10% tinham vínculos comprovados com o agronegócio — seja como proprietários rurais, sócios de empresas do setor ou beneficiários de políticas agrícolas.

O “Punhal Verde e Amarelo” e o financiamento obscuro

As suspeitas sobre o envolvimento do agronegócio em esquemas golpistas ganharam força após o depoimento do tenente-coronel Mauro Cid, ex-assessor de Jair Bolsonaro. Ele afirmou à Procuradoria-Geral da República (PGR) que recebeu R$ 100 mil em espécie de um general, que mencionou a origem do dinheiro: “Alguém do agro deu, mas não sei quem”.

O caso integra o chamado “Plano Punhal Verde e Amarelo”, uma trama que incluía até mesmo um projeto de assassinato contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice Geraldo Alckmin e o ministro do STF Alexandre de Moraes. Apesar das evidências, a maioria dos empresários identificados não foi responsabilizada judicialmente — apenas os que foram flagrados em atos explícitos, como invasões em Brasília, enfrentaram processos.

Do campo à capital: o rastro do dinheiro

O relatório aponta que os “agrogolpistas” não se resumem a figuras isoladas no interior do país. Muitos têm ligações com grandes bancos e multinacionais, como Santander, Rabobank, John Deere e Syngenta — esta última, inclusive, financiadora da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA).

A análise também identificou que:

  • 74 dos 142 empresários são de Mato Grosso, seguidos por Goiás (17) e Bahia (13) — estados que formam o “Arco da Soja”, responsável por 47% da produção nacional do grão.
  • Em Sorriso (MT), maior polo sojeiro do mundo, duas famílias (Bedin e Lermen) enviaram 28 caminhões para os acampamentos golpistas em Brasília.
  • Seis investigados ocupavam cargos na Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja), entidade ligada ao Instituto Pensar Agro (IPA), braço político da bancada ruralista.

Impunidade e lavagem de imagem

Apesar das provas, nenhum dos 142 empresários foi condenado por financiar os atos antidemocráticos. Muitos sequer foram citados na denúncia da PGR que definiu os núcleos golpistas no STF.

Enquanto militares e políticos enfrentam processos, os financiadores do caos seguem impunes. Alguns, como o patriarca Argino Bedin, foram até ovacionados em eventos do agronegócio após deporem na CPI do 8 de Janeiro.

O que falta para a Justiça agir?

O relatório levanta um alerta: sem punição aos financiadores, o risco de novas tentativas contra a democracia permanece. Enquanto isso, muitos dos envolvidos continuam influentes, com acesso a verbas públicas e contratos milionários.

A pergunta que fica é: quando o “pessoal do agro” citado por Mauro Cid será responsabilizado?

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Last Update: 27/06/2025