As sanções tecnológicas dos Estados Unidos contra a China, ainda mais bizarras e truculentas por envolverem chantagem explícita contra empresas privadas e outros países que fazem negócios com o gigante asiático, continuam dando resultado contrário ao esperado.
Os investimentos da China, via empresas privadas, estatais, Estado, universidades, em pesquisa em suma, estão dando frutos a uma velocidade impressionante.
A China agora deu mais um passo importante, não apenas para vencer as sanções tecnológicas americanas, como para o futuro da tecnologia no mundo.
O país inaugurou uma nova fábrica que produz chips fotônicos, um tipo de chip que usa luz, e não eletricidade, para transmitir e processar informações. Esses chips são essenciais para acelerar o desenvolvimento de inteligência artificial, internet 6G e computação quântica.
O anúncio foi feito no dia 5 de junho pelo Centro CHIPX, da Universidade Jiao Tong, em Xangai. É a primeira vez que a China produz esse tipo de chip em uma linha piloto, enquanto países como Holanda e Estados Unidos já trabalham com essa tecnologia há mais tempo. A empresa holandesa SMART Photonics modernizou sua produção no ano passado, e a americana PsiQuantum fez melhorias em sua fábrica em fevereiro deste ano.
Mesmo começando depois, a China já alcançou resultados muito avançados. Seus chips superaram um dos maiores desafios do mundo na transmissão de dados por luz, conseguindo conexões ópticas de altíssima velocidade.
O segredo desse chip está no material que ele usa, chamado niobato de lítio. Ele permite velocidades muito altas, gasta pouca energia e transmite grandes quantidades de dados. O problema é que esse material é frágil e sempre foi muito difícil de fabricar em grande quantidade.
O diretor do CHIPX, professor Jin Xianmin, explicou que foram quase 15 anos de pesquisa até conseguir criar uma linha de produção estável. A construção da fábrica começou em 2022 e levou três anos para ficar pronta.
A fábrica tem mais de 110 máquinas de altíssima tecnologia, capazes de fazer todas as etapas da produção, como gravação dos circuitos, aplicação de filmes, corte dos chips e montagem final.
Por enquanto, muitas das máquinas ainda são importadas, mas o professor Jin disse que, no futuro, o plano é usar equipamentos fabricados na própria China ou reaproveitados.
Os chips fotônicos são bem diferentes dos chips eletrônicos comuns, que priorizam ficar cada vez menores. No caso dos chips que usam luz, o mais importante é ter uma superfície perfeita, extremamente lisa, para que a luz circule sem perder força. Por isso, a equipe desenvolveu técnicas especiais, como aquecer o material para corrigir pequenos defeitos e garantir o máximo desempenho.
Os testes mostraram que esses chips são muito eficientes. Eles conseguiram uma velocidade de modulação acima de 110 gigahertz, uma perda de sinal muito baixa, abaixo de 3,5 decibéis, e uma perda mínima nas conexões internas, de apenas 0,2 decibéis por centímetro. Isso significa que os dados viajam mais rápido e com muito mais qualidade.
Segundo o professor Jin, esses chips podem ser usados como servidores de altíssima capacidade ou como peças fundamentais que fazem a conexão rápida entre vários tipos de computadores, unindo o que há de melhor na fotônica (luz) e na eletrônica (corrente elétrica).
A ideia é criar um novo tipo de computador, onde tanto a transmissão quanto o processamento de dados sejam feitos com luz. Isso garante mais velocidade, menos atraso nas respostas e muito mais economia de energia, algo fundamental para treinar inteligências artificiais cada vez mais complexas e fazer cálculos pesados.
Por causa dessas características, esses chips são perfeitos para centros de dados, supercomputadores e também para construir as futuras redes de internet 5G e 6G, que vão precisar de muito mais velocidade e estabilidade.
A nova fábrica consegue produzir até 12 mil chips por ano, de forma rápida e mais barata. Antes, fazer um chip desse tipo podia levar até um ano inteiro. Agora, eles conseguem fabricar e testar um chip por semana, o que acelera muito o desenvolvimento dessa tecnologia.
E não é só para computadores. Esses chips também podem ser usados em tecnologias como radares de alta precisão, sensores de carros autônomos, equipamentos médicos e até em sistemas de navegação a laser. O que faltava até agora era uma maneira de produzir em grande escala — e isso a China conseguiu resolver.
O setor de fotônica na China está crescendo muito rápido. Empresas como a Xili Photonics, de Hangzhou, estão recebendo grandes investimentos. E o centro CHIPX foi escolhido como uma das plataformas prioritárias pelo Ministério da Indústria e Tecnologia da Informação da China.
“Nosso centro é pioneiro no país”, disse Jin. A nova linha permite transformar ideias e protótipos em produção real, atendendo tanto cientistas e universidades quanto empresas que querem desenvolver novos produtos. Isso também acelera os testes de tecnologias que podem mudar o futuro.
O CHIPX agora quer tornar sua produção ainda mais eficiente, aumentar o volume, testar novos materiais e, no futuro, construir chips ainda maiores, de até 20 centímetros.