O consenso global existente sobre o comércio (quanto mais livre, melhor), onde os investimentos estrangeiros e as transferências de tecnologia eram vistas como uma forma de disseminar prosperidade, tem sido revisto de forma recorrente.
E um dos conceitos que tem ganho força é a “geoeconomia”, termo cunhado pelo estrategista militar Edward N. Luttwak para descrever o encontro entre a “lógica do conflito” e a “gramática do comércio” – em vários países, existe o consenso de quea política comercial deve ser vista pela ótica da geopolítica.
Porém, Luttwak destacou que, na melhor das hipóteses, um conflito geopolítico é um jogo de soma zero: os ganhos de um lado são as perdas do outro e, em contraste, o comércio é tipicamente um jogo em que todos ganham.
E esse ganho ocorre não importa o quanto Donald Trump fale que outros países estão se aproveitando dos Estados Unidos. Por exemplo: Trump tem adotado uma estratégia tarifária “tão mal concebida” que só pode ser contraproducente, como afirma Daniel Gros, diretor do Instituto para a Elaboração de Políticas Europeias da Universidade Bocconi.
“Deveria ser óbvio que, em uma guerra, você deve tentar infligir mais danos ao seu inimigo do que a si mesmo. Mas todas as simulações disponíveis do impacto dos vários cenários tarifários que surgiram nos últimos meses mostram que os EUA perderiam mais do que a China”, explica Gros, em artigo no Project Syndicate.
Pelo lado chinês, a adoção de restrições ao fornecimento de insumos essenciais, como licença de exportação para minerais de terras raras, também não é um mecanismo eficaz.
Segundo Gros, normalmente as ferramentas geoeconômicas podem ser usadas apenas uma vez: se o fornecimento é restrito, importadores buscam outras alternativas ou reforçam seus estoques.
“Tudo isso deve servir de alerta: a adoção cega do ativismo geoeconômico pode se mostrar não apenas ineficaz, mas até mesmo contraproducente. Isso é tão verdadeiro para a China quanto para os EUA”, pontua o articulista.
