A história do Brasil é uma história de exclusões. Desde a invasão colonial, passando pela escravidão e o racismo estrutural que persiste até hoje, a elite brasileira sempre construiu mecanismos para manter uma grande parcela da população – especialmente mulheres negras e periféricas – à margem do acesso a direitos e da participação política plena. Neste 8 de Março, é impossível falar sobre a luta das mulheres sem falar sobre a luta de classes, porque a opressão que vivemos tem cor, gênero e um endereço muito bem definido: a periferia do Brasil.

Ao longo da história, estivemos na linha de frente das lutas populares. Desde Tereza de Benguela, que liderou um quilombo no século 18, até as mulheres que enfrentaram a carestia e a repressão da ditadura militar, sempre fomos nós as primeiras a sentir o peso das crises econômicas e das violências do Estado, mas também as primeiras a resistir. Foi assim nas ruas em 2018 com o #EleNão, foi assim nos protestos contra a reforma trabalhista e previdenciária, e continua sendo assim na luta por comida no prato, salário digno e acesso à educação.

A face feminina e negra da desigualdade

Os números não mentem. A pesquisa “Visível e Invisível”, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, mostra que 65,6% das mulheres que sofreram violência no Brasil são negras. No mercado de trabalho, segundo o IBGE, as mulheres negras recebem 57% a menos do que homens brancos e enfrentam os maiores índices de desemprego e informalidade. Quando falamos de fome, o quadro se repete: 64% dos domicílios chefiados por pessoas negras enfrentam insegurança alimentar.

Não há como falar sobre o 8 de Março sem reconhecer que essa data não pode ser reduzida a uma celebração vazia ou a discursos genéricos sobre igualdade. A luta feminista no Brasil precisa ser uma luta contra o racismo e contra a desigualdade econômica. Porque quando uma mulher negra morre na fila do hospital, quando tem seu direito ao aborto negado ou quando precisa escolher entre pagar o aluguel ou alimentar seus filhos, o problema não é individual, é estrutural e político.

Sem justiça social, não há democracia

A eleição de Lula em 2022 representou um passo importante para interromper os retrocessos do governo Bolsonaro, mas não podemos parar por aqui. A extrema direita segue organizada, atacando os direitos das mulheres e da classe trabalhadora. Não por acaso, os setores conservadores no Congresso tentam avançar com pautas que aprofundam a desigualdade, como a precarização do trabalho e a criminalização do aborto.

O Brasil só será verdadeiramente democrático quando as mulheres negras estiverem no centro das políticas públicas. Isso significa salários justos, investimento em educação, acesso à saúde e proteção contra a violência. A reconstrução do País passa por nós e pela defesa radical dos nossos direitos. Neste 8 de Março, seguimos ocupando as ruas porque sabemos que a luta das mulheres negras é a luta de classes – e sem justiça social não há democracia!

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Last Update: 07/03/2025