Nascida em Jerusalém, Zulaykha al-Xihabi foi uma das principais figuras da luta do povo palestino contra o colonialismo britânico e a ocupação sionista. Sua trajetória é inseparável da luta nacional palestina, tendo desempenhado um papel decisivo na organização das mulheres como força ativa na resistência.

Filha de Ishaq Abd al-Qadir al-Xihabi e Zainab al-Muhtadi, Zulaykha cresceu em uma família profundamente enraizada na história de Jerusalém, herdeira de uma tradição árabe e islâmica secular. Diferentemente do padrão vigente no início do século XX, seu pai defendeu e garantiu a educação formal das filhas, enviando-as à escola Notre Dame de Sion. Zulaykha destacou-se nos estudos de ciências e línguas, utilizando o conhecimento adquirido para alertar acerca do perigo representado pelo avanço do sionismo na Palestina.

Desde muito jovem, tomou parte ativa na luta política. Sua militância se consolidou após a Revolta de al-Buraq, em 1929, quando participou do primeiro Congresso das Mulheres Árabes da Palestina, realizado em Jerusalém. O encontro, que reuniu cerca de duzentas mulheres, foi um marco na organização política feminina em escala nacional. A reunião redigiu um memorando denunciando as causas da revolta popular e as arbitrariedades do mandato britânico. Zulaykha foi eleita para integrar a delegação que entregou o documento ao Alto Comissário britânico, reafirmando a disposição das mulheres palestinas de se integrar plenamente à luta nacional.

Como desdobramento do congresso, participou da fundação da Associação das Mulheres Árabes de Jerusalém, impulsionando a criação de organizações semelhantes em diversas cidades. A mobilização das mulheres, naquele momento, era vista como parte inseparável da resistência palestina e da luta contra o imperialismo e o sionismo.

Além da militância política, organizou campanhas voluntárias para alfabetizar meninas de famílias pobres, e fundou a Escola al-Dawha, reconhecida por seu ensino de qualidade e pela assistência médica prestada às alunas.

Durante a Grande Revolta Árabe (1936–1939), Zulaykha desempenhou um papel destacado através dos Comitês de Mulheres Árabes. Foi responsável pela mobilização de grandes públicos para acompanhar os julgamentos de combatentes presos, fortalecendo a moral dos revolucionários e demonstrando que tinham o apoio popular.

Em 1938, participou do Congresso das Mulheres do Oriente no Cairo, a convite da dirigente egípcia Huda Xa‘rawi. O congresso reuniu lideranças femininas de vários países árabes em apoio à causa palestina. Zulaykha al-Xihabi discursou em nome da Associação das Mulheres de Jerusalém, denunciando a política britânica e afirmando a determinação do povo palestino em defender sua pátria. Foi escolhida, junto com Wahida al-Khalidi, como representante da delegação palestina. Em sua fala final, declarou: “voltamos convencidas de que o povo da Palestina não está sozinho em sua luta sagrada para salvar sua terra”.

De volta a Jerusalém, promoveu a unificação das organizações femininas, dissolvendo a Associação das Mulheres Árabes para fundar a União das Mulheres Árabes da Palestina. Esta organização centralizaria os esforços de mobilização e assistência social, ampliando o alcance das atividades femininas na luta nacional.

Através da União, Zulaykha coordenou serviços de saúde e assistência social fundamentais para a população palestina. Organizou comitês de primeiros socorros para atender feridos durante a repressão britânica, clínicas para vacinação e tratamento gratuito de doenças infecciosas, além de assistência a mulheres grávidas e crianças. Sob sua liderança, a União financiou a educação de órfãos e criou abrigos para mulheres desamparadas. Em Jericó, fundou um centro de convalescença para mulheres pobres.

Demonstrando uma visão estratégica, estruturou projetos de autossustento para viúvas e famílias de mártires, adquirindo terras agrícolas e ensinando técnicas de artesanato, como a confecção de flores artificiais e a fabricação de cosméticos, cujas vendas financiavam atividades sociais e políticas.

Zulaykha também promoveu a cultura e o esporte. Sob sua orientação, foi criado um clube esportivo para mulheres, com programas regulares de atividades e a realização de conferências culturais voltadas para a elevação da consciência nacional. A União, inclusive, realizou um congresso em julho de 1946 em Jerusalém, com participação de mulheres de todo o mundo árabe, em uma demonstração de unidade em torno da causa palestina.

Após a Nakba de 1948, quando centenas de milhares de palestinos foram expulsos de suas terras, Zulaykha intensificou ainda mais sua atuação. Além de manter Jerusalém como sua base, passou a viajar regularmente a Amã, na Jordânia, para articular o movimento palestino no exílio. Em 1959, assumiu também a presidência da União das Sociedades de Caridade no distrito de Jerusalém.

Participou ativamente das articulações que levaram à criação da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) em 1964. Foi uma das poucas mulheres presentes no Congresso Nacional Palestino que fundou a entidade.

Em julho de 1965, organizou em Jerusalém o Congresso das Mulheres Palestinas, reunindo 174 delegadas da Palestina e da diáspora, o que levou à criação da União Geral das Mulheres Palestinas, entidade que buscava unificar a luta feminina em torno dos objetivos nacionais.

Com a ocupação sionista da Cisjordânia e de Jerusalém Oriental em 1967, Zulaykha foi deportada para a Jordânia. Sua deportação, contudo, gerou protestos internacionais que obrigaram ‘Israel’ a permitir seu retorno.

Faleceu em 13 de maio de 1992, aos 89 anos. Seu funeral foi realizado na Mesquita de al-Aqsa e contou com a presença de diversas figuras nacionais palestinas, que renderam homenagem a uma vida inteira dedicada à libertação da Palestina.

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Last Update: 26/04/2025