Enquanto tenta construir sua candidatura à presidência, Romeu Zema (Novo) não consegue garantir o funcionamento nem mesmo dos elevadores da Cidade Administrativa, sede do governo mineiro. Um servidor precisou subir seis andares pelas escadas por problemas no equipamento, sofreu um mal súbito e morreu. Quase dois anos depois, as falhas persistem.
Laudos apontaram riscos operacionais e, em 2024, os elevadores foram interditados e passaram por reformas. Ainda assim, no início deste mês, três servidores ficaram presos por cerca de duas horas – o segundo episódio no mesmo local em menos de uma semana. O governo atribuiu os incidentes a “intercorrências elétricas” e disse que as panes foram pontuais.
A recorrência, contudo, mina o discurso de eficiência administrativa sustentado por Zema desde o início do mandato. No sétimo ano de governo, o governador ainda não conseguiu resolver os problemas de sua própria sede administrativa, mas projeta sua gestão como modelo nacional.
De olho em 2026, Zema reformulou sua estratégia de comunicação contratando Renato Pereira, que foi marqueteiro de Aécio Neves quando o tucano governou Minas Gerais. Desde então, alimenta as redes sociais diariamente com vídeos, memes e provocações: já comeu banana com casca e ironizou Lula (PT) com “bebê reborn”.
Foram pelo menos trinta ataques ao presidente Lula e o STF em um intervalo de cerca de dois meses. Antes da chegada de Pereira, Zema compartilhara postagens de Olavo de Carvalho e Benito Mussolini – talvez um aceno desesperado ao bolsonarismo.
Apesar dos problemas administrativos domésticos, Zema tem investido cada vez mais em viagens e agendas externas, deixando a condução de temas locais nas mãos do vice-governador Mateus Simões (Novo), pré-candidato à sua sucessão.
Além das missões internacionais em países como Itália, China, Japão e El Salvador, Zema também tem se deslocado com frequência a São Paulo. Já declarou ser o chefe do Executivo mineiro que mais visitou a capital paulista, cidade onde estudou e mantém parte da família.
A ausência prolongada em Minas tornou-se tão habitual que parlamentares da Assembleia afirmam que sua presença “não faz falta” no debate legislativo. Enquanto acumula viagens e agendas nacionais, Zema intensifica sua pré-campanha presidencial de 2026.
Zema tenta ocupar o espaço deixado por Jair Bolsonaro (PL), hoje inelegível. Pesquisa Genial/Quaest de junho o coloca com 33% das intenções de voto em um eventual segundo turno contra Lula, que aparece com 42%. Ainda assim, 61% dos brasileiros dizem não o conhecer.
Enquanto se projeta nacionalmente, os problemas administrativos em Minas se acumulam. A Cidade Administrativa, assinada por Oscar Niemeyer e inaugurada em 2010, foi erguida sobre um antigo brejo, segundo declaração do vice-governador Mateus Simões.
Vale destacar que à época da construção, Simões era filiado ao PSDB, partido que conduziu a obra sob a batuta do ex-governador Aécio Neves, atualmente deputado federal sem muita relevância.
A oposição aponta a falta de manutenção como a principal causa do colapso da Cidade Administrativa. Um laudo técnico de abril de 2024 detalhou falhas acumuladas decorrentes da má construção. Além dos elevadores, há relatos de banheiros com esgoto vazando e ar-condicionado inoperante.
Apesar do quadro, Zema mantém o discurso de gestor eficiente. Argumenta ter colocado “Minas nos trilhos” após receber um estado quebrado. A dívida com a União, que ele atribui a gestões passadas e pela liquidação dos bancos estaduais nos anos 1990, cresceu 51,3% desde janeiro de 2020, ainda na primeira gestão de Zema. Passou de 124,7 bilhões de reais para 188,7 bilhões.
Enquanto a dívida sobe e os elevadores seguem estragando, o governo trocou parte do mobiliário, substituindo as cadeiras pretas por outras com almofadas laranjas — a mesma cor adotada nas espumas dos microfones do canal estatal de TV, a Rede Minas, agora iguais à cor do partido Novo.
Com a dívida em alta e a retórica de eficiência pressionada pelos números, Zema passou a contar com o socorro federal. Em 2024, o Congresso aprovou o Propag, programa que permite parcelamento da dívida em até 30 anos com juros reduzidos e que foi sancionado pelo presidente Lula.
Para aderir às melhores condições, Minas precisa aportar cerca de 35 bilhões de reais. Para isso, o governo estadual ofereceu 343 ativos públicos, incluindo imóveis administrativos, escolas, hospitais, fóruns, delegacias, presídios, centros culturais, aeroportos regionais, campos experimentais e até a própria Cidade Administrativa.
A oposição acusa Zema de tentar privatizações disfarçadas. Deputados questionam a inclusão, no pacote, de hospitais em funcionamento e escolas, afirmando que a lei não exige entrega de bens e que o governo força o conflito com o Planalto.
Apesar da retórica de austeridade, Zema recebe o segundo maior salário de governador do país: 41.845 reais — com aumento de quase 300% desde o início de 2023, aprovado pela Assembleia mesmo com um cenário de previsão de déficit de 8,6 bilhões para 2025.
No campo político-ideológico, Zema recentemente relativizou a ditadura militar brasileira em entrevista para a Folha de São Paulo, dizendo que o tema seria “questão de interpretação”, e prometeu indultar Bolsonaro caso seja eleito.