Inflação alta, puxada principalmente pelos alimentos, despencou a popularidade do presidente Lula e mostrou a fragilidade do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que enfrenta problemas dentro do próprio governo para promover as mudanças consideradas, por ele, necessárias para colocar a economia nos eixos. A economista Zeina Latif, uma das mais conceituadas do país, avisa que mesmo com a pressão para que Haddad deixe o cargo, dificilmente o presidente Lula encontrará um nome para substituí-lo. Além dos problemas internos, há ainda o efeito das medidas anunciadas pelo presidente Donald Trump.
O problema do Fernando Haddad está no próprio governo, que acaba boicotando seu trabalho?
É claro que o ministro que defende pautas, que são pautas difíceis para o PT, claro que isso potencializa a rejeição a elas. Isso é verdade. Por isso que a palavra final é do presidente da República. Mas é preciso saber até quanto ele quer ter o compromisso com a arrumação das contas públicas. E não é só isso. Ele precisa ter as condições políticas para avançar com essas matérias, porque não é mandar para o Congresso e achar que vai aprovar. Não é assim que funciona. Algumas pessoas falam que o governo não quer mandar a reforma. Mas se você mandar uma coisa superagressiva, super forte não vai aprovar. Nós estamos caminhando para uma eleição e algumas pautas ele não aprova. O presidente não tem esse poder todo que as pessoas imaginam.
Tem muitas pessoas falando que o governo Lula está cometendo os mesmos erros cometidos por Dilma Rousseff. A situação é parecida?
Não. Eu discordo totalmente. A Dilma jamais teria feito o pacote fiscal e não estaria negociando nada com o Congresso. A gente viveu uma grave crise política, porque ela não queria negociar com o Congresso. A situação é bem diferente nesse governo.
O Brasil pode ser afetado com as medidas tomadas pelo presidente Donald Trump?
No Brasil, pensando em impactos macroeconómicos, eles tendem a ser limitado. Nós não somos uma economia aberta e muito dependente de exportações. É claro que, para quem é do setor pode impactar. Mas somos um parceiro importante. O problema é que como o Brasil já é muito protecionista, não seria sábio a gente retaliar, aumentar também porque, de fato, o Brasil é muito protecionista. É das economias mais fechadas. Então, como o Brasil deveria reagir a isso? Deveria tentar negociar como fez o México.
O Brasil pode se beneficiar dessa política adotada por ele?
Depende do setor. O agro tem esperanças de que, de alguma forma, consiga aumentar embarques para a China, como foi no passado. Eu discordo, acho que não. Na minha avaliação, em termos relativos, somos menos afetados do que outros países emergentes. Esse relativo está no fato de a economia brasileira ser fechada. É claro que para alguns produtos, sim, mas o fato de nós não sermos um parceiro relevante para os Estados Unidos, a gente sofre menos as consequências da política do Trump. A economia brasileira, assim, acaba sendo preservada. Não é uma situação como do México, que é absolutamente dependente dos Estados Unidos.