Zambelli renuncia ao mandato de deputada

Os apoiadores da deputada Carla Zambelli (PL-SP), uma das mais proeminentes vozes do bolsonarismo, celebraram uma vitória que se provou efêmera. Na quarta-feira, 10 de dezembro de 2025, a Câmara dos Deputados rejeitou a cassação de seu mandato, um alívio momentâneo em sua conturbada trajetória política.

Com 227 votos a favor da deputada, 170 contrários e 10 abstenções, seus aliados conseguiram barrar a perda de seus direitos políticos no plenário. Para a cassação, seriam necessários 257 votos, um número que seus adversários não conseguiram alcançar. No entanto, a vitória se provou ser uma vitória de Pirro, queimando capital político precioso com o Centrão sem obter resultado satisfatório no final.

A festa durou pouco. Na sexta-feira, 12 de dezembro, a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) agiu de forma decisiva. Por unanimidade, os ministros confirmaram a decisão de Alexandre de Moraes, que decretava a perda automática do mandato de Zambelli.

A decisão do STF não foi uma surpresa, mas uma consequência direta das condenações criminais da deputada. A mais grave delas, uma sentença de 10 anos de prisão, veio em maio de 2025. Zambelli foi condenada por comandar uma invasão aos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) em janeiro de 2023.

Em parceria com o hacker Walter Delgatti Neto, a parlamentar buscou inserir documentos falsos no sistema, incluindo um mandado de prisão forjado contra o próprio ministro Alexandre de Moraes. A intenção, segundo a Procuradoria-Geral da República, era minar a credibilidade da Justiça e incitar manifestações contra as instituições.

Este, no entanto, não era seu único problema com a lei. Em agosto de 2025, Zambelli foi condenada a 5 anos e 3 meses de prisão por um episódio que chocou o país. Na véspera do segundo turno das eleições de 2022, em 29 de outubro, ela perseguiu um homem negro com uma arma em punho pelas ruas de São Paulo após uma discussão política.

Zambelli sempre se mostrou confiante de sua impunidade. Em entrevista à CNN em 3 de julho de 2025, após anunciar sua fuga para a Itália, afirmou: “Como tenho cidadania italiana, eu sou intocável na Itália, não há o que ele [Alexandre de Moraes] possa fazer para me extraditar onde sou cidadã, eu estou muito tranquila em relação a isso”.

Essa confiança excessiva se mostrou infundada. Após ser condenada pelo STF, Zambelli fugiu para a Itália em junho de 2025, tornando-se foragida da justiça brasileira. Sua fuga terminou no final de julho, quando foi presa em Roma. Em um vídeo divulgado quando da prisão, ela afirmou: “Se eu tiver que cumprir qualquer pena, vai ser aqui na Itália, que é um país justo ainda e democrático”.

Mesmo diante das condenações, Zambelli tentou argumentar sua fragilidade física. Em maio de 2025, após a condenação do STF, ela declarou: “Eu estou pegando vários relatórios dos meus médicos e eles são unânimes em dizer que eu não sobreviveria à cadeia. A gente vai apresentar isso num momento oportuno”.

Zambelli também foi alvo de críticas de seu próprio aliado, Jair Bolsonaro, que a culpou pela derrota nas eleições de 2022. Em resposta, em 23 de abril de 2025, ela afirmou: “Mais fácil botar a culpa em outra pessoa quando você sai perdedor de alguma coisa”. Minutos após a divulgação do resultado eleitoral em 2022, ela havia prometido nas redes sociais: “Serei a maior oposição que Lula jamais imaginou ter”.

O ato final de sua carreira parlamentar ocorreu neste domingo, 14 de dezembro. De seu local de detenção na Itália, Carla Zambelli enviou uma carta à Câmara renunciando ao cargo. A manobra foi descrita pelo líder de seu partido, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), como uma estratégia da defesa.

Segundo Cavalcante, a renúncia daria a ela “mais possibilidades de defesa para ser solta e permanecer na Itália”. A vaga de Zambelli na Câmara será ocupada por seu suplente, Adilson Barroso, também do PL de São Paulo.

Agora, a deputada luta para evitar a extradição para o Brasil. Sua defesa na Itália, representada pelo advogado Pieremilio Sammarco, utiliza a própria decisão da Câmara como prova de perseguição política para convencer a Corte de Apelação de Roma a negar a extradição. O advogado afirmou que a decisão dos deputados reforça argumentos de que Zambelli sofreu injustiças por suas atividades políticas.

Além disso, Zambelli pode estar buscando asilo político na Itália como estratégia adicional para evitar retornar ao Brasil. A próxima audiência de seu processo de extradição está marcada para 18 de dezembro de 2025, quando a Corte italiana decidirá sobre a aceitação de novos documentos apresentados pela defesa.

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