
Há um traço invariável nos fascistas, uma postura retórica que alinhava suas bravatas e seus gestos: são, todos, antes de mais nada, covardes. Vestem-se com o discurso viril da força, esbravejam em tribunas e nas redes sociais, desdenham da democracia com olhos faiscando em performances raivosas — mas, quando o peso da legalidade bate à porta — a popular puliça —, fazem as malas, enfiam o passaporte no bolso do paletó e somem no primeiro voo disponível para qualquer lugar do mundo, desde que longínquo.
A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), fiel escudeira do bolsonarismo — conhecida por lustrar, com a língua, a sola do chinelo Raider do genocida fascista — acaba de dar sua contribuição ao enfadonho, repetitivo e pouco criativo enredo fascista, inaugurado em 7 de outubro de 1934, na Praça da Sé, em São Paulo: a revoada das galinhas verdes. Condenada pelo Supremo Tribunal Federal a dez anos de prisão por invadir sistemas do Conselho Nacional de Justiça — sim, a mesma parlamentar que um dia sacou uma arma em plena rua, como se a República fosse um faroeste em que ela mesma fosse a lei —, Zambelli anunciou que deixou o país, o que, traduzido em português castiço, significa: fugiu. Voou. Como toda galinha verde.
Zambelli, como o ex-presidente a quem serve com devoção quase litúrgica, revela o que o fascismo sempre esconde por trás de seus estandartes de glória: a abjeção de quem mente, manipula — e foge. Um fascista é, por natureza, um farsante. Seu patriotismo dura até a primeira intimação judicial; seu amor à pátria só resiste até o carimbo da sentença. É aí que o mito vira mito mesmo: desaparece.
Essa fuga, claro, não é caso isolado. Eduardo Bolsonaro, o banana-galinácio verde, herdeiro político, retórico e escrotácio de seu pai, antecipou-se à prisão e… fugiu. Asilou-se sob as asas largas do fascismo estadunidense. O que parecia uma estratégia jurídica logo revelou seu conteúdo real: o medo, diarreia incontinenti tão habitual aos Bolsonaro. Não há como esquecer o cretino 01 borrando as calças no debate para a Prefeitura do Rio de Janeiro, em 2016. É o medo que move os fascistas quando deixam de estar no comando. O medo da prisão.
E Jair Bolsonaro? É apenas questão de tempo. Fascista, miliciano, golpista e genocida — adjetivos que não são insultos, mas descrições documentadas —, Bolsonaro é a caricatura perfeita daquilo que alguns ainda chamam de “homem forte”: fala grosso com jornalistas e enfermeiras, mas não suporta a ideia de responder por seus crimes. Quando a hora chegar, fugirá também. É o que fazem todos os valentões de palanque quando descobrem que a Justiça, mesmo tardia, tem braços longos. Bolsonaro não será exceção — será só mais um.

É por isso que o exemplo recente de Carla Zambelli deveria acender uma luz de alerta no Supremo Tribunal Federal. Sua fuga não é apenas um ato pessoal, mas um prenúncio. Se figuras secundárias do bolsonarismo já correm para o exterior como baratas que abandonam um polpudo verme ao sentir a aproximação do inseticida, o que esperar do cagão-mor do bolsonarismo?
Se a Justiça tardar mais um pouco, acordaremos um dia com a notícia de que Bolsonaro partiu — talvez para Miami, destino clássico de todo corrupto latino-americano, onde o sol é abundante e a impunidade, histórica.
Não há tempo para filigranas protocolares. A democracia brasileira foi ferida com gravidade por essa gente. A prisão preventiva do meliante-miliciano-genocida-fascista é, neste momento, não apenas uma medida legal, mas uma obrigação histórica desta geração para com o Brasil.
Não se trata de vingança, mas de preservação da ordem institucional.
Não se trata de punir um homem — verme talvez fosse mais preciso —, mas de impedir que o fascismo fuja pela porta dos fundos enquanto seus cúmplices discursam sobre liberdade.
Zambelli nos deu o aviso. Que não falte ao Judiciário, agora, a coragem necessária para recolher o fascista ao xilindró.