O Banco Central confirmou que o yuan chinês já ocupa a segunda posição nas reservas internacionais brasileiras, superando o euro e ficando atrás apenas do dólar. O movimento, consolidado em 2025, marca um ponto de virada na política cambial do Brasil e amplia a disputa geopolítica em torno da hegemonia americana.

Como o yuan conquistou espaço

Até pouco tempo, a presença do yuan era marginal: em 2019, respondia por apenas 1,2% das reservas; em 2021, 4,99%. Em 2025, tornou-se a segunda moeda mais relevante no cofre brasileiro, à frente da libra e do euro.

Três fatores explicam essa guinada:

Swap Brasil–China de R$ 157 bilhões firmado em maio de 2025, garantindo liquidez em yuan.

Expansão do comércio bilateral, em que mais de 40% das transações já são feitas na moeda chinesa.

Busca por estabilidade, já que o yuan oferece proteção diante da volatilidade cambial global.

Dólar ainda dominante, mas pressionado

O dólar continua sendo a âncora central, representando cerca de 80% das reservas brasileiras e 80% das transações globais. Mas, pela primeira vez, um país emergente de grande porte adota o yuan como segunda moeda de reservas, relegando o euro a papel secundário.

Esse gesto provoca reações:

EUA: enxergam o movimento como desafio direto à sua influência financeira.

União Europeia: veem risco de irrelevância, já que o euro perde espaço até em mercados estratégicos.

Dimensão geopolítica

A escolha reflete mais do que cálculos técnicos do Banco Central. Ela está ligada a três tendências globais:

China consolidada como principal parceira comercial do Brasil, comprando mais de US$ 100 bilhões por ano em commodities.

BRICS como plataforma de desdolarização, com sistemas alternativos de pagamentos em debate.

Sanções financeiras que, após a guerra da Ucrânia, expuseram a vulnerabilidade de países dependentes do dólar.

O Brasil, nesse contexto, reforça sua autonomia ao diversificar reservas, mas também se expõe mais à órbita de Pequim.

Impactos no Brasil

A ampliação do yuan nas reservas tem efeitos diretos sobre a economia:

Agronegócio: contratos em yuan oferecem previsibilidade e reduzem custos cambiais.

Mineração e energia: operações de longo prazo ficam mais estáveis.

Sistema financeiro: maior margem de negociação e linhas de crédito em yuan para empresas brasileiras.

Mas há riscos:

Dependência da China pode ser tão ou mais problemática que a do dólar.

Baixa conversibilidade da moeda chinesa ainda exige aprovação do Banco Popular da China.

Exposição política: Washington pode interpretar o movimento como alinhamento excessivo com Pequim.

Washington em alerta

Nos EUA, analistas do Federal Reserve já alertam que o risco não é a queda abrupta do dólar, mas a perda gradual de relevância diante da soma de pequenos deslocamentos em favor do yuan.

O Brasil, ao elevar o renminbi à segunda posição de suas reservas, torna-se exemplo para outros emergentes e amplia o espaço para a China no sistema monetário global.

Conclusão

O swap cambial com a China e a priorização do yuan nas reservas colocam o Brasil no centro de uma disputa histórica: a lenta erosão da hegemonia do dólar.

A grande dúvida é se o país usará essa posição para ganhar autonomia estratégica ou se apenas trocará uma dependência por outra.

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Last Update: 26/08/2025