A China realiza nesta quarta-feira (3) um grandioso desfile militar em Pequim para celebrar o 80º aniversário da vitória contra o Japão na Segunda Guerra Mundial. O evento, que contará com a presença de líderes como Vladimir Putin (Rússia), Kim Jong-un (Coreia do Norte) e representantes do Irã, Mianmar e Paquistão, será usado pelo presidente Xi Jinping como vitrine de poder militar e político.
Entre os equipamentos a serem exibidos estão mísseis hipersônicos e veículos autônomos. Mas, segundo analistas, o objetivo vai além do arsenal: trata-se de consolidar o papel da China como protagonista da ordem internacional estabelecida no pós-guerra.
Xi tem buscado ampliar a relevância do papel da China na Segunda Guerra Mundial, colocando o país como pilar central da vitória contra o militarismo japonês, ao lado da União Soviética, e minimizando a contribuição dos Estados Unidos.
Pequim considera que sua “guerra de resistência contra a agressão japonesa” começou em 1931 — bem antes da entrada dos EUA no conflito, em 1941. Essa versão reforça a narrativa de que a China foi decisiva para a vitória dos Aliados, ao mesmo tempo em que sustenta reivindicações históricas sobre Taiwan.
Taiwan
Diferentemente de 2015, quando evitou mencionar Taiwan durante celebrações semelhantes, Xi deve usar a data para reforçar a posição de Pequim sobre a ilha, considerada “parte inalienável” da China. A mudança reflete o endurecimento da política chinesa desde a eleição de Lai Ching-te, presidente do Partido Democrático Progressista, classificado por Pequim como separatista.
A China tem associado sua soberania sobre Taiwan às declarações do Cairo e de Potsdam, que exigiram a devolução da ilha ao fim da guerra. Este ano, pela primeira vez, o governo também vinculou essas resoluções ao reconhecimento da ONU, em 1971, do regime comunista como único representante da China, em substituição ao governo nacionalista exilado em Taipé.
O desfile acontece em um contexto internacional de tensões crescentes. Analistas afirmam que, com o enfraquecimento do sistema multilateral durante o governo Donald Trump, Pequim viu a oportunidade de apresentar-se como defensora de um “novo multilateralismo inclusivo”, em contraste com a ordem internacional liderada pelos EUA.
“É um momento em que a China tenta dizer: ‘fomos criadores do multilateralismo e agora queremos conduzi-lo para uma nova direção’”, avalia David Bandurski, diretor do China Media Project.
No entanto, a presença de líderes considerados párias no Ocidente e o alinhamento estreito com Moscou levantam dúvidas sobre a credibilidade dessa mensagem.
Para especialistas, mais do que convencer EUA e aliados, a estratégia de Xi Jinping busca reforçar a coesão interna e estreitar laços com parceiros no hemisfério sul.
“É uma forma de mostrar ao Partido Comunista e à população chinesa que a atual liderança é forte e respeitada no cenário global”, afirma Bandurski.
Ainda que a demonstração militar possa gerar desconfiança no Ocidente, Pequim aposta no simbolismo do aniversário para consolidar sua narrativa histórica e, ao mesmo tempo, projetar-se como alternativa de liderança no mundo multipolar.
*Com informações do Financial Times.
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