Por José Reinaldo Carvalho*
O presidente chinês e secretário-geral do Comitê Central do Partido Comunista da China, Xi Jinping, inicia nesta segunda-feira (14) uma série de visitas de Estado a três países do Sudeste Asiático — Vietnã, Malásia e Camboja — em uma movimentação estratégica que busca consolidar parcerias regionais no contexto da intensificação da guerra comercial declarada pelos Estados Unidos. A informação foi divulgada pela agência noticiosa Xinhua na última sexta-feira (11).
Secretário-geral do Partido Comunista do Vietnã, To Lam, reune-se com o secretário-geral e presidente da China, Xi Jiping.
A agenda do presidente Xi Jinping no Sudeste Asiático realiza-se num momento em que o governo do presidente dos EUA amplia restrições a produtos chineses e aumenta tarifas sobre setores sensíveis. A China reagiu à altura com contramedidas adequadas e ao mesmo tempo busca fortalecer os laços com parceiros regionais e globais, especialmente os integrantes da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), que hoje figura como maior parceiro comercial de Beijing.
A visita aos três países deve consolidar a posição da China no maior acordo de livre comércio do mundo, a Parceria Econômica Regional Abrangente (RCEP, na sigla em inglês), tratado que reúne 15 países da Ásia-Pacífico — incluindo os dez da ASEAN, além de China, Japão, Coreia do Sul, Austrália e Nova Zelândia. Juntos, os países da RCEP respondem por cerca de 30% do PIB e da população global, 2,2 bilhões de pessoas. Desde a entrada em vigor da RCEP em 2022, o comércio entre a China e os demais membros do bloco tem mostrado crescimento constante. Em 2022, o comércio bilateral atingiu aproximadamente US$1,82 trilhão, representando um aumento de 7,5% em relação ao ano anterior. Em 2023, o comércio exterior da China com os 14 parceiros subiu 5,3% em comparação com 2021.
As relações da China com o Vietnã têm características únicas. Ambas as nações são dirigidas por partidos comunistas e compartilham, além de laços históricos, um projeto político convergente no que diz respeito à soberania e ao desenvolvimento independente. A visita de Xi Jinping a Hanói, marcada para os dias 14 e 15 de abril, foi organizada a convite do secretário-geral do Comitê Central do Partido Comunista do Vietnã, To Lam, e do presidente da República Socialista do Vietnã, Luong Cuong. Espera-se que o encontro resulte em acordos que envolvam setores de infraestrutura, conectividade energética e intercâmbio político. Ambos os lados trabalharão para identificar prioridades de cooperação, com vistas a melhorar a qualidade dos acordos em setores-chave, como ferrovias de bitola padrão, comércio agrícola, ciência, tecnologia, economia digital e economia verde. A visita também terá um impacto positivo na sociedade, impulsionando o Ano China-Vietnã de Intercâmbios Interpessoais.
Na Malásia, que receberá Xi Jinping entre os dias 15 e 17 de abril, o foco estará em aprofundar os investimentos chineses vinculados à Iniciativa Cinturão e Rota (ICR). A China já tem participação significativa em projetos ferroviários, portuários e industriais no país, considerado essencial para a estratégia logística e comercial chinesa no estreito de Malaca. A Malásia também possui um papel estratégico na indústria de semicondutores e exportação de componentes eletrônicos, áreas diretamente impactadas pelas recentes medidas protecionistas dos EUA contra a China. Há uma fundada expectativa de que China, Malásia e o bloco da ASEAN deem uma resposta conjunta às tarifas impostas pelos EUA.
A última etapa do giro asiático de Xi Jinping será o Camboja, onde ele se reunirá com o Rei Norodom Sihamoni e as autoridades do governo local entre os dias 17 e 18 de abril. Considerado um importante parceiro de Beijing na região, o Camboja deverá receber novos pacotes de investimentos em energia, agricultura e segurança. O país tem consistentemente defendido a ampliação da parceria com a China dentro da ASEAN.
As visitas refletem uma perspectiva ampla da diplomacia chinesa: fortalecer os vínculos com o Sul Global, estabelecer alternativas econômicas às imposições dos EUA e ampliar a integração regional. A RCEP, nesse contexto, surge como instrumento-chave. Ao eliminar tarifas sobre uma ampla gama de bens e facilitar cadeias produtivas regionais, o acordo beneficia diretamente os países asiáticos e amplia a influência da China sem recorrer à imposição de regras unilaterais.
Além da cooperação econômica, a visita de Xi Jinping sinaliza um posicionamento geopolítico claro. Diante da crescente confrontação provocada pelos EUA, a China tem reforçado seu compromisso com uma ordem internacional multipolar, baseada no respeito mútuo, benefício compartilhado e não ingerência, princípios frequentemente reiterados por Xi Jinping.
A expectativa é de que a viagem resulte na assinatura de acordos comerciais bilaterais e em declarações conjuntas reafirmando o compromisso com a integração regional e o desenvolvimento compartilhado. Ao escolher Vietnã, Malásia e Camboja como destinos prioritários, a China envia uma mensagem clara: pretende consolidar seu papel regional e global, ao lado de nações em desenvolvimento, enquanto resiste à pressão exercida pelos Estados Unidos na guerra comercial e tecnológica em curso.
A relação entre a China e a ASEAN é estratégica tanto para o desenvolvimento regional quanto para a promoção do multilateralismo no comércio global. A ASEAN é atualmente o maior parceiro comercial da China, e a cooperação com essa entidade é fundamental para a estabilidade econômica e política na região da Ásia-Pacífico. Por meio da RCEP, a China busca fortalecer essas relações, promovendo uma integração econômica mais profunda e estabelecendo padrões comerciais que favorecem o crescimento sustentável e a redução de barreiras tarifárias.
Além disso, a parceria com a ASEAN permite à China aumentar seu papel econômico e diplomático, oferecendo alternativas ao modelo de comércio liderado por potências ocidentais. Essa colaboração é vista como uma resposta estratégica às tensões comerciais com os Estados Unidos, promovendo uma ordem econômica mais equilibrada e multipolar.
A participação ativa da China na RCEP e sua estreita colaboração com a ASEAN refletem uma visão de longo prazo para consolidar a tendência irreversível de nossa época, que é a modernização baseada em novos padrões de civilização, o desenvolvimento compartilhado e o novo equilíbrio como alicerce da paz. O papel da China socialista, sob a liderança do presidente Xi Jinping, é incontornável. Sua presença assertiva no cenário mundial corresponde a um direito inalienável da nação chinesa, que se revitaliza e moderniza constantemente.
*José Reinaldo Carvalho é jornalista, editor do Resistência e Presidente do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz).
Esse é um artigo de opinião e não necessariamente reflete a opinião da CTB