Steve Bannon está de volta. O grande ideólogo inicial de Donald Trump foi provisoriamente ofuscado por Ellon Musk e, agora, volta à cena.
Todo o esquema Trump move-se apenas por dinheiro. Não interessava a Elon Musk envolver-se em quizilas com países, para não prejudicar seus negócios com parceiros comerciais. Trump o manteve como conselheiro devido aos polpudos financiamentos de campanha recebidos. E, provavelmente, à sua capacidade de trabalhar os grandes bancos de dados públicos e montar modelos de negócios em cima deles.
Como já descrevi em artigos anteriores, o modelo de projeção de poder dos Estados Unidos foi remodelado. Antes, era pelo poder das armas e do dólar. Depois, trocaram as alianças militares por pactos com o sistema Judicial. Surgem daí a Operação Lava Jato Brasil, Coréia, França, a operação contra a FIFA, na qual agentes norte-americanos prenderam dirigentes da FIFA em pleno território suiço.
Esse modelo veio acompanhado pelas primeiras incursões das big techs, com os algoritmos ajudando a criar o apoio na opinião pública, convalidando os movimentos políticos da Justiça e ajudando a expandir a ultradireita norte-americana, que forneceu a base ideológica das sucessivas primaveras. E, no centro dela, Steve Bannon e sua frase célebre: “A maior ameaça ao avanço da direita é Lula”.
Vamos entender melhor o fenômeno Steve Bannon e as ideias por trás da ofensiva de Donald Trump contra o Brasil, com a ajuda de pesquisas feitas em sistemas de Inteligência Artificial.
Peça 1 – o início de Bannon
Steve Bannon nasceu em 1953, de família católica de classe trabalhadora. O pai era operador de telefonia e veterano da guerra da Coreia. Bannon serviu por sete anos na Marinha dos Estados Unidos e tornou-se assistente do Chefe de “Operações Navais do Pentágono”. Depois de deixar a Marinha, obteve MBA pela Harvard Business School e mestrado em estudos de segurança nacional na Georgetown University.
Terminou no mercado financeiro, primeiro como banqueiro de investimentos no Goldman Sach e, depois, em sua própria firma de investimentos, a Bannon & CO focado na mídia. Acabou investindo na indústria cinematográfica, como produtor de filmes. Todos seus filmes já tinham componentes ideológicos:
- In the Face of Evil: Reagan’s War in Word and Deed (2004) –
- documentário de exaltação à Ronald Reagan e à guerra fria contra o comunismo. A repercussão do documentário abriu-lhe os olhos para o mercado da ultradireita, que começava a se formar.
- Generation Zero (2010)
- Documentário sobre a crise financeira de 2008 sob a ótica da “teoria dos ciclos históricos” (Fourth Turning). Nele, afirma que os baby boomers corromperam os valores norte-americanos, levando a um colapso inevitável. O documentário teve forte influência retórica nos discursos da campanha de Trump.
- Occupy Unmasked (2012)
- Documentário (produtor executivo) crítico ao movimento Occupy Wall Street, apresentado como movimento violento e manipulado por interesses marxistas. O apresentador era Andrew Breitbart.
- The Undefeated (2011)
- Documentário e, homenagem a Sarah Palin, ex-governadora do Alasca e ícone da direita populista. A intenção foi prepará-la para uma possível candidatura à presidência.
- orchbearer (2016)
- Documentário com Phil Robertson (Duck Dynasty), em defesa da moral cristã contra o que Bannon vê como a decadência ocidental.
Peça 2 – o início da militância e o alt-right
Em 2012, Bannon tornou-se presidente executivo do site Breitbart News, de extrema-direita, fundado por Andrew Breitbart, adotando postura ultranacionalista, anti-imigração e conspiracionista, ligado ao movimento alt-right.
Esse movimento surgiu nos Estados Unidos em 2010, com posições nacionalistas, identitárias, anti-imigração, antiglobalistas e racistas e xenofóbicas. Nasceu combatendo tanto a esquerda como a direita tradicional. Projetou-se na campanha de Donald Trump em 2015-2016.
Em 2017, promoveu a Marcha em Charlottesville (“Unite the Right”), episódio que associou definitivamente o movimento ao supremacismo branco e violência.
A partir daí, a ultradireita ganha dimensões internacionais, com algumas diferenças entre si.
Quadro Comparativo: Alt-right, Nova Direita Europeia e Direita Populista Brasileira
Característica | Alt-right (EUA) | Nova Direita Europeia | Nova Direita Brasileira |
Origem | EUA (década de 2010) | França, Itália, Hungria, Polônia (anos 1990–2000) | Brasil pós-junho de 2013; consolida-se em 2018 |
Ideologia central | Nacionalismo branco, identitarismo, antiglobalismo | Nacionalismo cultural, antimulticulturalismo, protecionismo | Antipetismo, liberalismo econômico + conservadorismo moral |
Postura sobre imigração | Extremamente hostil, com discurso racial | Restritiva, com foco em cultura/identidade nacional | Contrária a políticas pró-imigrantes, mas tema menos central |
Inspirações históricas | Supremacismo branco, paleoconservadorismo | Nova Direita francesa (Alain de Benoist), identitarismo | Olavo de Carvalho, Escola Austríaca, evangélicos |
Atuação política | Fora do sistema tradicional (fora do GOP mainstream) | Disputa institucional com partidos nacionalistas (ex: Le Pen, Orbán) | Infiltração institucional (PL, Republicanos, Exército, igrejas) |
Mídia e redes sociais | 4chan, Gab, Breitbart, podcasts conspiratórios | TV alternativa (RT, Sputnik), redes sociais | YouTube, Telegram, canais bolsonaristas, Jovem Pan, Terça Livre |
Papel da religião | Marginal (alguns neopagãos ou ateus) | Cristandade europeia como “raiz cultural” | Cristianismo evangélico e catolicismo conservador como eixo central |
Teorias influentes | “Grande Substituição”, QAnon, Declínio Ocidental | Teoria da substituição demográfica, “etnopluralismo” | Marxismo cultural, Escola de Frankfurt, Foro de São Paulo |
Lideranças | Richard Spencer, Steve Bannon, Milo Yiannopoulos | Marine Le Pen, Matteo Salvini, Viktor Orbán | Jair Bolsonaro, Olavo de Carvalho, Zé Trovão, Carla Zambelli |
Há algumas diferenças entre elas:
- Alt-right é mais abertamente racializada e radicalizada, com laços com milícias e supremacismo.
- Nova Direita Europeia articula sua agenda de forma mais “culta”, usando filosofia e teoria social, apesar de também flertar com o autoritarismo.
- Direita populista brasileira mistura liberalismo econômico (Paulo Guedes, MBL) com conservadorismo religioso e teorias conspiratórias; é mais reativa e polarizada do que elaborada conceitualmente.
Peça 3 – a Quarta Reviravolta
A ultradireita passa a assumir as mesmas posições, mesmo em países tão díspares como Rússia, Estados Unidos e Brasil – aqui, com as tentativas do ex-deputado ex-comunista e ex-Ministro Aldo Rebelo.
A teoria de Bannon é batizada de Quarta Reviravolta, a de Aleksandr Dugin, de Quarta Teoria e a de Aldo, o Quinto Movimento. No final da linha, os quintos do inferno.
- Dugin busca uma ordem tradicional antimoderna, em que a Rússia lidera uma civilização eurasiana contra o Ocidente liberal.
- Bannon quer salvar o Ocidente rejeitando o liberalismo e restaurando a moral cristã tradicional, em conflito com China e globalismo.
- Aldo Rebelo propõe um nacionalismo soberanista e produtivista, com raízes no trabalhismo e crítica ao imperialismo e com a ordem mantida por militares.
📌 Convergências
- Todos defendem Estados fortes, rejeição à ordem liberal global e valorização das tradições culturais nacionais.
- Todos atacam o que chamam de “globalismo”, ainda que com sentidos distintos (financeiro, cultural ou imperialista).
- Todos valorizam a identidade nacional como núcleo de resistência frente a pressões externas.
A Quarta Reviravolta de Bannon baseia-se em uma teoria da história proposta pelos autores norte-americanos William Strauss e Neil Howe no livro The Fourth Turning: An American Prophecy (1997). Ela descreve a história como uma sequência cíclica de quatro “turnings” (reviravoltas) que se repetem aproximadamente a cada 80 a 100 anos — o tempo de uma vida humana.
. High (Alta) – Primavera
- Exemplo histórico: Pós-Segunda Guerra Mundial (1946–1964)
- Características:
- Instituições fortes
- Ordem social consolidada
- Otimismo coletivo
- Indivíduos: Geração do dever, conformista (ex: “Geração Silenciosa”)
2. Awakening (Despertar) – Verão
- Exemplo histórico: Revolução Cultural dos anos 1960–70
- Características:
- Questionamento de valores e instituições
- Ressurgência do individualismo
- Movimentos sociais e espirituais
- Indivíduos: Jovens idealistas e contraculturais (ex: baby boomers)
3. Unraveling (Desfazer) – Outono
- Exemplo histórico: Anos 1980–2000 (Reaganismo, polarização política)
- Características:
- Declínio da confiança nas instituições
- Individualismo extremo
- Crescente desigualdade e tensão social
4. Crisis (Crise) – Inverno ⛔
- Exemplo histórico: Grande Depressão + Segunda Guerra Mundial (1929–1945)
- Características:
- Ruptura institucional
- Conflitos sociais ou guerras
- Colapso ou reconstrução total da ordem
- Resultado: Um novo ciclo começa após a “refundação”.
A teoria prevê que os EUA (e o mundo ocidental) estão atualmente na Quarta Reviravolta (desde 2008, com a crise financeira).
- Eventos catalisadores: Crise de 2008, ascensão do populismo, pandemia de COVID-19, guerra na Ucrânia, ataques à democracia, instabilidade global.
- Segundo Bannon e outros entusiastas da teoria, o clímax ocorrerá por volta de 2030, e pode resultar em:
- Revolução política
- Guerra civil ou internacional
- Colapso de instituições
- Reforma do sistema econômico
A teoria influenciou Steve Bannon, que passou a ver Trump como o líder capaz de conduzir os EUA por essa “crise regeneradora”. Também influenciou discursos sobre colapso do “establishment” e o nascimento de uma nova ordem (nacionalista, religiosa e anti-globalista).
Peça 4 – a influência no Brasil
A influência no Brasil deu-se no campo ideológico, em estratégias de comunicação, mobilização de massas e construção de narrativa de “crise sistêmica”.
Eduardo Bolsonaro tornou-se o principal elo com a política brasileira. Participou de eventos organizados por Bannon. Tambémn sofreu influência de Olavo de Carvalho, que semeou os primeiros conceitos, abrindo espaço para as ideias de Bannon.
- Canais como Brasil Paralelo, Terça Livre (hoje extinto), Pleno News e Jovem Pan replicaram elementos centrais da teoria:
- Discurso apocalíptico (fim da civilização, ameaça comunista)
- Desprezo pelas instituições republicanas
- Exaltação da “refundação moral” baseada na família, Deus e pátria
Elementos da Quarta Reviravolta no Discurso Bolsonarista
Elemento da Teoria | Tradução no Brasil | Exemplos |
Crise sistêmica | “Corrupção das instituições”, “STF aparelhado”, “sistema contra o povo” | Ataques ao STF, TSE, imprensa |
Liderança forte | Messianismo político, culto ao “salvador da pátria” | Discurso de que Bolsonaro era “o escolhido por Deus” |
Guerra cultural | Ataque ao progressismo, marxismo cultural, escolas | Escola sem Partido, perseguição a artistas e professores |
Mobilização geracional | Jovens contra a “velha política” | Influência sobre influenciadores digitais, conservadorismo jovem |
Novo ciclo | “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos” | Propostas de intervenção militar, nova Constituição |
O Brasil entrou na mira de Steve Bannon a partir da eleição de Bolsonaro em 2018. Bannon declarou apoio direto à campanha de Bolsonaro e ofereceu consultoria informal. Defendeu que o Brasil era essencial para a revolução populista mundial e declarou que Lula era a maior ameaça à expansão da ultradireita.
A influência da Quarta Reviravolta no Brasil levou à construção de uma narrativa de “crise terminal” que justificaria uma ruptura autoritária travestida de regeneração patriótica.
Peça 5 – a influência de Lula
Desde 2018, Bannon passou a ver Lula como a maior ameaça à direita mundial, por vários motivos:
- Influência em redes globais de esquerda: Lula é apontado por Bannon como um articulador da esquerda internacional, que pode moldar narrativas e alianças progressistas.
- Impacto ideológico estratégico: Vencer o Brasil representa vencer um marco decisivo contra o avanço populista de direita.
- Capacidade de mobilização: Lula possui base sindical e popular forte, e mantém relações positivas com atores globais (BRICS, Europa, ONU) — o que dá escala à sua influência.
- Após a prisão e posterior libertação de Lula (2018–2021):
- Bannon passou a citar Lula como um símbolo da “volta da esquerda globalista”.
- Ele o descrevia como uma figura com forte apelo popular, que poderia rearticular a esquerda latino-americana.
5. Durante a campanha de 2022:
- Em podcasts e entrevistas (como no “War Room”), Bannon chamou Lula de “criminoso comunista” e “fantoche do globalismo”.
- Afirmou que Lula, ao voltar ao poder, seria “mais perigoso que nunca”, pois teria apoio internacional (especialmente da Europa, China e setores da ONU) e representaria uma coalizão anti-Bolsonaro e anti-Trump.
Essa é a razão do Brasil ter se tornado o centro da disputa da civilização contra a destruição proposta pela ultra-direita. E a razão das eleições de 2026 seram essenciais nessa guerra.
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