Há alguns anos, uma marca começou a despontar no mercado global de smartphones e levantou uma incógnita sobre sua capacidade de enfrentar a Apple e a Samsung. A Xiaomi deixou clara sua capacidade e, há apenas cinco anos, apresentou os planos para fazer rodar seu novo projeto: carros elétricos. O que era apenas uma ideia se transformou em uma linha de produção que, em 2025, vai colocar no mercado 300 mil unidades de veículos.

O fundador da Xiaomi é Lei Jun, de 55 anos, chamado de Lei Jobs, pelo estilo despojado, inventividade e foco para transformar projetos em realidade. A empresa alia alta tecnologia e competência comercial, como a Apple. A diferença está nos preços, sempre muito competitivos. Em 2013, a fabricante lançou a MI Market, que se tornou a terceira maior plataforma de ­e-commerce da China. No ano seguinte começou a expansão para a Ásia e Índia, transformando-se na quarta maior empresa de eletrônicos do mundo. Hoje detém 14% do mercado global de smartphones.

A estratégia da Xiaomi no mercado de veículos causou certa apreensão pela entrada tardia no segmento. Mas, aparentemente, a dúvida foi superada com os lançamentos de seus veículos. O SU7, primeiro carro da marca, conseguiu o que outros ainda tentam: ser um modelo barato com alta tecnologia e design arrojado. O preço de entrada é de cerca d 30 mil dólares (cerca de 160 mil reais) para ter um esportivo que lembra um Porsche.

Para ampliar a visibilidade da marca, a empresa lançou recentemente a versão SU7 Ultra, com 1.547 cavalos de potência, capaz de acelerar de 0 a 200 km/h em 5,9 segundos. A velocidade máxima é de 350 km/h. A própria Xiaomi, na divulgação, cita que o Ultra é um carro de corrida com quatro portas, habilitado para uso urbano. Como precaução a empresa colocou uma trava de velocidade para os primeiros 300 quilômetros (atinge no máximo 120 km/h). Só depois a potência total será liberada. A velocidade também referendou a agilidade para fazer negócios. Foram vendidas 10 mil unidades em duas horas.

Os elétricos e híbridos chineses trabalham para buscar a liderança global e olham com atenção para o Brasil. A GWM vai inaugurar uma fábrica no interior de São Paulo. A BYD, líder no segmento de elétricos e híbridos, estabeleceu como meta se transformar na terceira fabricante global de veículos. Vai inaugurar sua fábrica em Camaçari ainda neste ano, com capacidade de produção de 150 mil veículos, número que vai dobrar em uma segunda fase de ampliação.

Há uma expectativa de que, com esses lançamentos, a Xiaomi avance para a Europa em 2026. A promessa é chegar ao Brasil no ano seguinte, para aumentar a disputa no setor. A julgar pelo seu histórico, a entrada em outros mercados pode ser muito mais rápida.

Pisca-alerta

Enquanto os chineses miram o mercado brasileiro, a Anfavea, associação que representa os fabricantes instalados aqui, vê com preocupação o movimento e se mobiliza contra as taxas de importação do País. O imposto atualmente é de 18% para elétricos, 20% para híbridos plug-in e 25% para híbridos convencionais. Antes de julho era de 35%.

O Brasil tem uma das menores taxas de importação aplicadas aos veículos chineses. No Canadá, a taxa chega a 100% e na Europa é de 48%. As vendas atingiram, em 2024, ao redor de 120 mil unidades.

Apesar da entrada dos importados, o desempenho do setor retomou os patamares de antes da pandemia. Em fevereiro, foram produzidas 217,4 mil unidades. No bimestre foram fabricadas 392,9 mil unidades, melhor desempenho desde 2021.

As vendas também não decepcionaram. Cresceram 9% no bimestre, comparadas com o mesmo período do ano passado. Desses, 70% são financiados. E aí mora a preocupação de quem produz e vende. Além das taxas de importação, outra tira o sono de fabricantes e vendedores: os juros elevados que encarecem o crédito e podem frear o consumo.

Vendas pelo WhatsApp

A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes – Abrasel, divulgou uma pesquisa que aponta o WhatsApp como ferramenta de vendas cada vez mais importante para o setor. Já são 26% dos negócios rea­lizados pelo delivery de bares e restaurantes. E 63% deles utilizam o aplicativo.

O delivery cresceu em razão dos anos de pandemia. No período de isolamento, representou 50% dos negócios, caindo para os atuais 30%. Apesar de uma ligeira queda no último ano, 71% dos pontos de venda utilizam a modalidade de negócio, que passou a ser fundamental à sobrevivência. Nas vendas para entregas ou retiradas, os marketplaces respondem por 54% do faturamento, seguido pelo ­WhatsApp com 26%, app/site próprio do estabelecimento chega a 12% e pedidos por telefone batem 8%. •

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Publicado na edição n° 1354 de CartaCapital, em 26 de março de 2025.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘X… de Xiaomi’

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Last Update: 20/03/2025