
O humorista e influenciador Whindersson Nunes, 30, afirmou em entrevista ao Fantástico neste domingo (3) que recebeu um diagnóstico de superdotação após passar por testes neuropsicológicos durante sua internação em uma clínica de reabilitação.
A revelação, cercada de linguagem técnica e explicações superficiais, no mais puro sambarilove, reacendeu um debate incômodo: o uso da neurodiversidade como produto de marketing pessoal e ferramenta para alimentar um mercado crescente de medicalização da vida cotidiana.
Segundo a neuropsicóloga Carolina Mattos, entrevistada pela Globo, pessoas com “altas habilidades” apresentam pensamentos acelerados, inquietações constantes e visão diferenciada do mundo. Meu amado tio Lau era assim e a família o achava esquisitão. Hoje estaria rico.
A definição é vaga, difícil de mensurar e, no limite, passível de manipulação. O próprio conceito de superdotação, que ultrapassa testes de QI e se baseia em critérios subjetivos, virou um terreno fértil para o que especialistas chamam de “medicalização da personalidade”.
Qual o valor informativo de anunciar como superdotado um influenciador conhecido mais por polêmicas e idiotices do que por qualquer contribuição relevante?
Se a lógica fosse valorizar o conhecimento, o destaque deveria estar em cientistas, escritores, pensadores — não em celebridades que orbitam o entretenimento massivo vendendo lixo.
Essa exposição tem mais a ver com manutenção de visibilidade e engajamento digital do que com uma preocupação legítima com a saúde mental. É bom para Whindersson, que vive dessa exposição, e bom para a Globo.
O caso também desperta atenção para o mercado farmacêutico. Médicos influenciadores vão explorar o tema nos próximos meses, ampliando o uso do rótulo “altas habilidades” como justificativa para tratamentos off-label — aqueles feitos com medicamentos não aprovados para tal condição.
A indústria cria a doença e cobra pelo remédio. O melhor dos mundos.
Como se trata de uma área sem exames definitivos, a porta para diagnósticos excessivos e lucro com terapias se escancara. Afinal, quem define quem é ou não superdotado quando o critério é, em última instância, subjetivo?
A certa altura da conversa mole no Fantástico, Whindersson filosofa e diz que “a solidão é uma passagem, um tempo pequeno se você parar para pensar no que é a enternidão“. A jornalista, embevecida com aquela sabedoria, o corrige, beatífica: “Eternidade”. Os dois caem numa risada cúmplice.
“Isso é superdotado pra vocês?”, ele pergunta.
Não, é burrice. E, se trabalhar direitinho, dá muito dinheiro.
O #Fantástico conversou com @whindersson sobre o diagnóstico que ele recebeu de altas habilidades – ou superdotação. O artista (e os doguinhos 🐶) receberam a repórter @acarolraimundi. No papo, Whindersson revelou que o diagnóstico faz todo um passado, agora, fazer mais sentido.… pic.twitter.com/qVFHTirCtA
— Fantástico (@showdavida) August 1, 2025