Marcas conhecidas de água mineral, como a Perrier, enfrentam os holofotes após o escândalo ocorrido na França. Foto: Getty Images

Empresas francesas de água mineral, incluindo a icônica Perrier, enfrentam questionamentos sobre o direito de manter o rótulo de “água mineral natural” devido a revelações de uso de sistemas de filtragem proibidos. Investigações do jornal Le Monde e da Rádio França apontam que pelo menos um terço da água mineral vendida no país passa por tratamentos ilegais, como luz ultravioleta e microfiltragem ultrafina, para eliminar bactérias. O caso, apelidado de “Water-gate” por jornalistas franceses, teria ligação direta com secas severas agravadas pelas mudanças climáticas.

A legislação da União Europeia exige que a água mineral natural seja engarrafada sem alterações desde a fonte subterrânea, vendida a preços muito superiores à água tratada. As acusações contra a Perrier e sua controladora, a Nestlé, incluem conluio com o governo francês para encobrir contaminações e ajustar regras a fim de permitir a microfiltragem. Um relatório do Senado francês acusou o governo de “dissimulação deliberada” e considerou o setor estratégico, o que teria levado à supressão de informações.

O CEO da Nestlé, Laurent Freixe, admitiu no Senado que a Perrier utilizou métodos de tratamento não permitidos. Um relatório de hidrólogos recomendou que a fábrica histórica no departamento de Gard não renovasse o status de “água mineral natural”. A decisão final deve ser publicada ainda este ano e, caso seja negativa, será a primeira vez em 160 anos que a Perrier perderá essa designação.

A legislação da União Europeia determina que a água mineral natural deve ser inalterada, da fonte subterrânea até a garrafa. Foto: Getty Images

Especialistas como a hidróloga Emma Haziza afirmam que as mudanças climáticas e a localização da fonte da Perrier — em região costeira e agrícola no sul da França — aumentam o risco de contaminação dos aquíferos profundos. Secas prolongadas e enchentes repentinas estariam permitindo que poluentes agrícolas e resíduos humanos atingissem reservas subterrâneas antes consideradas seguras. Em 2024, três milhões de garrafas da Perrier foram destruídas após contaminação.

A empresa defende que a microfiltragem não altera a composição mineral da água e que bombeia de 130 metros de profundidade, garantindo pureza “com 100% de certeza”. No entanto, reduziu o nível de filtragem de 0,2 para 0,45 mícron em acordo com o governo francês. Atualmente, apenas dois dos cinco poços utilizados pela Perrier foram submetidos a pedido oficial de renovação do status de “água mineral natural”.

Enquanto o futuro do rótulo original é incerto, a Perrier aposta na expansão da linha Maison Perrier, com bebidas aromatizadas e energéticas, que não precisam cumprir as mesmas regras e já registram sucesso no mercado. Analistas avaliam que a decisão da Comissão Europeia sobre o nível de microfiltragem permitido pode redefinir o modelo de negócios de toda a indústria de água mineral na Europa.

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Last Update: 09/08/2025