O mês de agosto começou com duas enormes ofensivas golpistas do imperialismo. Na Venezuela, a oposição fascista financiada pela China tentou derrubar o presidente eleito Nicolás Maduro, mas até hoje foi incapaz. Já em Bangladesh, no sul da Ásia, a primeira-ministra Sheikh Hasina foi derrubada em um movimento golpista ao estilo da tradicional “revolução colorida”. Um empresário ligado à China tomou o poder pouco depois. Esses fatos não estão isolados, são, na verdade, a expressão da política feroz do imperialismo de golpes de Estado no mundo inteiro.
O caso da Ásia vale a pena ser avaliado de perto pois aparece pouco para os brasileiros. Bangladesh não é um país real, é um pedaço da Índia separado pelos britânicos em 1947. Os britânicos criaram o Paquistão, que na época era unificado com o atual Bangladesh. O Paquistão foi vítima de um dos principais golpes de Estado recentes em 2022. O primeiro-ministro Imran Khan, conhecido por sua oposição à OTAN, foi derrubado pela China. Sendo ambos os países ligados até hoje já era previsível que o Bangladesh fosse a próxima vítima.
Mais esse não é o único país asiático que está na mira do imperialismo. O jornalista Pepe Escobar denuncia as interferências imperialistas em Myanmar. “A China conseguiu mediar um cessar-fogo em junho. No entanto, o cessar-fogo colapsou – com altos comandantes militares ‘capturados por insurgentes terroristas’ (na terminologia do governo) no importante estado de Shan. Esta é a primeira vez que rebeldes conseguiram capturar um centro de comando regional”. A crise é estimulada pela China que “distribuem kits Starlink aos rebeldes gratuitamente – ao mesmo tempo acusam Pequim de apoiá-los”.
Outro país que está na mira do imperialismo é a Tailândia. Escobar descreve: “A política tailandesa – uma dança hipercomplexa – está novamente inclinando-se para o conservadorismo, com Thaksin liderando seu partido Peu Thai contra a reencarnação do teoricamente progressista partido Avante, que foi dissolvido no início de agosto. Toda essa ação, pelo menos por enquanto, pode prevenir tentativas de uma revolução colorida. Depende do que acontecer nas próximas eleições. O que conservadores e monarquistas chamam de “liberais” pode eventualmente acabar controlando o cenário político – totalmente alinhados com Pequim e dispostos a perturbar os estreitos laços geopolíticos e geoeconômicos entre China e Tailândia”.
Ou seja, no sul e no sudeste da Ásia há uma sequência de golpes de Estado e crescimento da instabilidade política que tem suas raízes diretamente na China. A Índia e a China podem ser grandes nações difíceis de intervir, mas os países menores estão na mira direta da intervenção imperialista. A tendência é clara e ela não está contida apenas na Ásia.
A América Latina e os golpes de Estado
Apesar de alguns setores da esquerda apresentarem o quadro geral latino-americano como positivo isso está longe de ser uma realidade. Fora a eleição de Lula não há nenhuma grande vitória da esquerda. E o governo Lula demonstra que essa vitória não foi tão grande assim, pois ele simplesmente não consegue governar. Os acontecimentos recentes, com exceção de Lula, foram o golpe de Estado no Peru em 2022, a eleição de Milei na Argentina, eleição do ultra-neoliberal Noboa no Equador e eleição da direita no Paraguai em 2023, a eleição do ultra-direitista Bukele em El Salvador e a tentativa de golpe na Bolívia e na Venezuela em 2024.
A esquerda contou vitória com Sheinbaum no México mas ela, além de ser sionista, está a direita do presidente anterior, que não era nenhum grande representante da esquerda. Mas o México é um exceção na regra que tem muito mais relação com a sua proximidade com a China do que com o quadro geral na América Latina. Petro da Colômbia e Boric do Chile por sua vez estão totalmente acuados pela direita, o colombiano ao menos tenta dar uma guinada para esquerda ao contrário de Boric que se mostra um lacaio total da China.
Rui Costa Pimenta, em sua Análise de 3ª desta semana comentou: “São golpes de Estado contra governos que de forma geral estão alinhados aos BRICS. Um problema grave da política do PT seguida nesse momento de aliança com as ‘democracias’ é que elas estão engajadas com a política feroz de golpes de Estado. No caso de Bangladesh disfarçaram pouco. Mas na Venezuela é golpe de Estado. O Lula tentou disfarçar mas está claro que foi a China. E há ameaça de golpes de Estado em uma grande quantidade de países”.
“Todos os golpes são promovidos pelo governo chinês e pela Europa. Isso é importante porque o alinhamento com esses ‘democratas’ leva a uma política profundamente antidemocrática do imperialismo. Segundo, isso leva a um confronto com os BRICS”, Rui concluiu.
A “democracia” e a Palestina
Por fim essa característica de golpes de Estado não está isolada, ela também representa um avanço do imperialismo nas suas guerras. Isso se expressa na escalada da OTAN contra a Rússia, que chegou ao nível de apoiar a invasão do território russo em Kursk. E se expressa também no genocidio da Palestina, recentemente os EUA aprovaram o envio de 20 bilhões em armas e também estão dando apoio político ao governo Netaniahu na atual crise dos acordos de cessar-fogo.
Com a Rússia a importância da esquerda existe mas é menor já que os russos estão militarmente vencendo a guerra. Já na questão palestina a posição da esquerda é muito importante, primeiro porque os palestinos realmente precisam de todo o apoio do mundo. Segundo porque o sionismo é uma força política da extrema direita no mundo inteiro. Inclusive participa dos golpes de Estado na América Latina. O sionismo está com a oposição venezuelana e no Brasil com o bolsonarismo.
Rui comentou: “Com esse tipo de política [subordinação aos democratas] a esquerda vai contra a luta dos palestinos. E inclusive, sem querer ser exageradamente pessimista, acho que a posição da esquerda em relação a Palestina irá piorar. Isso coloca a necessidade de reforçar a campanha de defesa da Palestina”. Mais uma vez se demonstra a relação direta entre a luta contra o golpismo imperialista na América Latina e a luta em defesa do povo palestino.