Fabricantes chineses localizados nas províncias de Jiangsu e Zhejiang começaram a retomar o envio de mercadorias aos Estados Unidos após instruções de grandes varejistas americanos, entre eles o Walmart, segundo informou o South China Morning Post.

A medida ocorre semanas após aumentos tarifários mútuos entre China e EUA interromperem pedidos e reduzirem significativamente o volume de remessas.

Um fornecedor de materiais de escritório e artigos de papelaria, com sede em Ningbo, na província de Zhejiang, afirmou ter recebido na segunda-feira orientação direta do Walmart para retomar as entregas em ritmo normal.

A empresa informou que os custos decorrentes das novas tarifas impostas pelos Estados Unidos serão absorvidos pelos próprios clientes norte-americanos.

“Nosso parceiro de longa data, Walmart, nos disse para começar a enviar mais [para os EUA] e não precisaremos arcar com os custos extras das novas tarifas [sobre produtos chineses]”, declarou o vice-presidente da empresa ao jornal.

Outros exportadores também confirmaram notificações similares. Paul Tai, diretor regional da Mainetti — empresa que projeta e exporta cabides e embalagens para os mercados norte-americano e europeu — relatou que fornecedores em Jiangsu foram avisados por grandes varejistas sobre a retomada dos pedidos. Segundo ele, os primeiros sinais da mudança surgiram em 23 de abril.

Desde 2 de abril, data em que o então presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou um novo pacote tarifário classificado como “recíproco”, muitos importadores americanos suspenderam ou cancelaram encomendas feitas à China.

Segundo Tai, os pedidos chegaram a cair mais de 40% em abril em comparação ao mesmo período do ano anterior.

Como resposta à instabilidade gerada pelas tarifas, fornecedores chineses passaram a modificar os termos de envio.

Segundo Tai, há uma tendência crescente de utilização do modelo FOB (Free On Board), em que os importadores assumem os encargos e riscos a partir do embarque.

O modelo substitui o DDP (Delivered Duty Paid), no qual os fornecedores são responsáveis pelos custos totais, incluindo impostos e tarifas de importação.

“Devido à imprevisibilidade das tarifas, muitos fornecedores estão cobrando FOB em vez de DDP. Isso permite que os importadores americanos gerenciem as tarifas de importação nos EUA com seus despachantes locais, que podem navegar pelas regulamentações em constante mudança”, afirmou Tai.

Neste ano, os Estados Unidos impuseram tarifas adicionais de até 145% sobre produtos chineses, elevando a alíquota efetiva média para cerca de 156%.

Em alguns casos, as tarifas chegam a 245%, conforme comunicado da Casa Branca. Em resposta, o governo chinês aplicou tarifas de 125% sobre todos os produtos americanos, acumulando os impostos anteriores.

Apesar da retórica intensificada, Trump indicou recentemente interesse em retomar negociações com Pequim. Em coletiva de imprensa no Salão Oval, o ex-presidente afirmou que as tarifas poderiam ser “substancialmente” reduzidas. Dias depois, em entrevista à revista Time, declarou ter conversado com o presidente chinês, Xi Jinping.

No entanto, o Ministério das Relações Exteriores da China negou que tal conversa tenha ocorrido. Ainda assim, fontes acadêmicas sugerem que os dois países continuaram utilizando canais secundários para manter negociações técnicas.

“Independentemente de os dois presidentes terem conversado por telefone ou não, eu ficaria surpreso se ambos os países não tivessem usado canais secundários para discussões de trabalho”, afirmou um professor de estudos internacionais em Xangai, sob condição de anonimato.

O mesmo professor observou que a decisão do Walmart de retomar os pedidos, mesmo arcando com os custos das tarifas, pode indicar uma expectativa de acordo ou suspensão tarifária no curto prazo.

Xu Weijun, pesquisador de políticas públicas na Universidade de Tecnologia do Sul da China, em Guangzhou, associou a retomada das remessas a pressões internas exercidas por grandes empresas dos Estados Unidos sobre a política tarifária do governo.

“Os contra-ataques mais fortes do que o esperado da China podem ter frustrado as estratégias de Trump e impactado as multinacionais americanas”, afirmou Xu. “Os titãs corporativos terão seus meios para transmitir sua posição a Trump e até mesmo forçar algumas mudanças.”

Ainda segundo Xu, embora exista a possibilidade de negociação entre as partes, os exportadores chineses devem manter planos de contingência diante da instabilidade política e comercial.

“Trump reduzirá suas tarifas aos poucos”, disse. “Quando os dois países voltarem à mesa de negociações, ainda levará tempo e muita ida e volta para que tudo volte aos trilhos.”

As mudanças recentes no comportamento das empresas varejistas e fornecedores refletem um novo momento na disputa comercial entre os dois países.

A retomada das exportações indica uma possível flexibilização por parte das empresas americanas, apesar da manutenção das tarifas elevadas. O cenário, no entanto, permanece incerto diante da ausência de um acordo formal e da continuidade dos embates entre Washington e Pequim.

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Last Update: 29/04/2025