O Festival de Cannes 2025 terminou neste sábado (24) com uma conquista histórica para o cinema brasileiro. Pela primeira vez, um ator do Brasil levou o prêmio de melhor ator: Wagner Moura foi reconhecido por sua performance no filme O Agente Secreto, de Kleber Mendonça Filho, que também venceu na categoria melhor direção. É a primeira vez desde Glauber Rocha que um cineasta brasileiro conquista o prêmio de direção no evento mais prestigiado do cinema mundial.
Embora não tenha levado a Palma de Ouro — entregue ao iraniano Jafar Panahi por A Simple Accident — O Agente Secreto foi um dos grandes destaques da edição, consolidando um momento histórico para o Brasil, que também foi homenageado como País de Honra em 2025.
A consagração de “O Agente Secreto”
Ambientado no Brasil dos anos 1970, em plena ditadura militar, O Agente Secreto narra a história de um professor universitário que retorna a Recife para reencontrar o filho caçula. O papel é interpretado por Wagner Moura com intensidade e nuance, o que lhe garantiu o prêmio máximo de atuação masculina.
A estreia do filme em Cannes, no último dia 18, foi marcada por uma calorosa recepção: cerca de 15 minutos de aplausos, segundo a jornalista Jada Yuan, do Washington Post. A crítica internacional não poupou elogios. O The Guardian o classificou como “visual e dramaticamente soberbo”, e uma “obra de caráter”, enquanto o Hollywood Reporter definiu a performance de Moura como “um retorno maravilhoso ao cinema brasileiro”. Já o site The Playlist avaliou o filme com nota máxima (A+), chamando-o de “monumental” e “a obra mais ambiciosa” da carreira de Mendonça Filho.
Discurso emocionado e elogios mútuos
Wagner Moura não esteve presente na cerimônia e teve seu prêmio recebido pelo próprio Kleber Mendonça Filho. Em seu discurso, o diretor agradeceu emocionado:
“Eu tive muita sorte de ter a oportunidade de trabalhar com Wagner Moura. Ele não é apenas um ótimo ator, mas também uma ótima pessoa. Eu o amo muito. Espero que ‘O Agente Secreto’ traga muitas coisas boas para ele.”
Ao receber o prêmio de melhor direção, Kleber fez questão de dedicar a vitória ao público brasileiro:
“Quero mandar um abraço para todo mundo no Brasil, especialmente para Recife e Pernambuco. Muito obrigado. Queremos que esse filme esteja nas salas de cinema, porque as salas formam o caráter de um filme.”
Festival reconhece talento brasileiro
Além dos dois prêmios principais, O Agente Secreto também recebeu o Prêmio da Crítica (Fipresci) e o troféu “Art et Essai”, dado pelos exibidores independentes franceses — conquistas que ampliam o reconhecimento internacional da produção brasileira.
A escolha do Brasil como País de Honra no festival também colaborou para o destaque do cinema nacional. A iniciativa celebra anualmente uma cinematografia de relevância global. “Este prestigioso reconhecimento destacará a dinâmica indústria audiovisual do Brasil, seus talentos criativos e seu compromisso de longa data com a colaboração internacional”, afirmou o Ministério da Cultura na ocasião do anúncio.
Palma de Ouro e demais vencedores
Apesar do favoritismo, O Agente Secreto não venceu a Palma de Ouro, entregue ao drama iraniano A Simple Accident, de Jafar Panahi. Outros premiados desta edição incluem:
- Melhor atriz: Nadia Melliti, por The Little Sister
- Melhor roteiro: Jean-Pierre e Luc Dardenne, por Young Mothers
- Grande Prêmio: Sentimental Value, de Joachim Trier
- Prêmio Especial do Júri: Resurrection, de Bi Gan
- Câmera de Ouro: The President’s Cake, de Hasan Hadi
- Prêmio do Júri: Sound of Falling, de Mascha Schilinski
Estreia nacional e expectativa
Com estreia internacional consagradora, O Agente Secreto já é apontado como um marco na cinematografia brasileira contemporânea. Segundo a BBC, a estreia nos cinemas brasileiros está prevista para o segundo semestre de 2025. Até lá, o filme segue acumulando elogios e firmando Wagner Moura e Kleber Mendonça Filho como dois dos maiores nomes do cinema mundial da atualidade.