Hoje (5/6), Toinho Melodia completaria 75 anos. Foi um ser humano e artista memorável pelo seu talento nato, apesar de todas as dificuldades que os migrantes nordestinos passam nas grandes cidades, como São Paulo, onde acolheu e desenvolveu seu talento, a partir das relações com a comunidade do samba, particularmente com Rodolfo Gomes e o Grupo Pica Fumo, que o apoiaram na construção de seu único disco Paulibucano. Obra prima do samba paulista, com a preservação da identidade nordestina de Toinho.

Vida, obra e legado social

Em 1950, no dia 5 de junho no Recife (PE), nascia Antônio Freire de Carvalho, filho de Eugênia Freire Ramos e neto de Dona Isaura. De família musical, a avó de Toinho Melodia era autodidata em gaita, e sua família participava da Escola de Samba 4 de Outubro, do bairro de Casa Amarela. Como milhares de famílias nordestinas, aos 11 anos, em 1962, mudaram para a capital paulista e ocuparam o Morro de Vila Maria, na Vila Sabrina, Zona Norte de São Paulo.

Infelizmente, em meados de 2020, Toinho foi diagnosticado com mieloma múltiplo, um tipo raro de câncer, que ainda não tem cura. Passou por um tratamento de quimioterapia de altos e baixos. Toinho encarou mais essa batalha na vida, com muita confiança e vontade de viver, sempre remetendo suas crenças e esperança por uma vida melhor aos seus iguais.

Lamentavelmente, o Mestre Toinho Melodia teve uma parada cardíaca no dia 11 de novembro de 2021 e não resistiu. Lutou bravamente uma vida inteira, deixando belos sambas e relatos de vida fundamentais para encararmos as mazelas sociais, ainda mais fortes, e celebrar nossa ancestralidade negra e guerreira com sua arte e obra.

Combate ao racismo e injustiça social

Toinho sempre foi engajado, sabedor das mazelas sociais e da necessidade de seu combate. O racismo e a violência policial eram coisas que mais o incomodavam em sua vivencia desde o Recife, fazendo extenso relato de algumas ocorrências em sua vida e sobre a juventude negra nas suas músicas.

Ele relata que vivia levando “enquadro” da PM e, em um deles, relatou:

Eu comprei um Dodge Polara vermelho [moderno veículo pequeno-médio], zero quilômetro e tinha dois serviços para fazer. Abri a porta do carro para pegar ferramentas, uns policiais viram e acharam estranho um preto abrir um Polara. Eu estava no meio de muita gente, mostrei meus documentos, mas eles revistaram mesmo assim. Reviraram, não acharam nada e saíram com aquela cara de merda.

Sob a indignação desse ato racista recorrente até os dias de hoje, nasceu um de seus sambas, ‘Liberdade Sofrida’.

Já sobre a morte violenta de negros e jovens pela polícia, Toinho dispara sua irritação e indignação (no dia da entrevista, lamentava a morte de Guilherme Silva Guedes, 15 anos, suspeito de ter sido assassinado com dois tiros na cabeça por um policial militar em São Paulo):

Um jovem parado na frente de casa é morto desse jeito. Isso me mata, cara. Lembro também dos caras ‘encurralados’ no baile funk em Paraisópolis… Fico triste de ver o extermínio da juventude negra”.

Tornou essas lamentáveis mortes em um de seus sambas mais ouvidos e reverenciados, ‘La Bolivia’, em que ao final faz um verdadeiro desabafo: “Aqui não é Hollywood, as balas não são de festim. Se foi mais um filho de Maria, essa história está longe do fim! Essa história do genocídio da juventude negra do Brasil, precisa acabar!”.

Sempre na luta!

Por fim, perante um incêndio que abalou a comunidade Esperança, em Osasco, no dia 13 de setembro de 2016, Toinho Melodia fez questão de ir até o local reerguer a moral e fortalecer a disposição para a luta com sua arte e seu samba em dezembro daquele ano, próximo às comemorações natalinas, junto com seus parceiros do Conjunto Picafumo.

Foram recebidos carinhosamente pelas mulheres da ocupação com seu samba ‘Desfecho Cruel’, composição de Rodolfo Gomes, Toinho Melodia e Ricardinho Olaria. A música trata desses eventos nas grandes favelas de São Paulo, principalmente nos anos 1990, quando o início da expansão e da especulação imobiliária caminhava à beira de crimes muitas vezes.

O encontro se tornou uma verdadeira roda de samba e palco de muitas conversas, prosas e protestos noite adentro e documentado para eternizar a consciência social e de classe do Mestre Toinho melodia.

Viva os 75 anos de Toinho Melodia e a eternidade de sua memória e obra!

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Last Update: 05/06/2025