A greve de fome de nove dias do deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) – encerrada nesta quinta (16) – revelou a máquina política por trás da tentativa de cassação do parlamentar e a seletividade do Conselho de Ética da Câmara.
A opinião é do deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP), que classificou, ao canal do YouTube TV GGN [confira abaixo], o fim da greve como “uma vitória parcial que abriu um espaço irreversível na sociedade”, sobre o autoritarismo no Legislativo, personificado na figura do ex-presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL).
O deputado federal Glauber Braga (PSol-RJ) encerrou a greve de fome nesta quinta-feira (17), após acordo com o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), que garantiu 60 dias de prazo para que o parlamentar elabore a defesa do seu mandato.
O parlamentar foi punido por afastar, com chutes, um integrante do MBL das dependências da Câmara dos Deputados, após este ter feito provocações envolvendo sua mãe — que faleceu dias depois.
Quase cassado pelo “conjunto da obra”
Valente, que protagonizou greves de fome durante a ditadura militar, destacou a importância simbólica do gesto de Glauber. “Fazer greve de fome não é fácil. É um ataque ao próprio corpo e uma decisão política”.
Para o parlamentar, há uma clara parcialidade na atuação do colegiado, que sistematicamente arquiva denúncias contra aliados do centrão, mesmo em casos graves. Ele cita, por exemplo, a deputada Carla Zambelli (PL-SP) — ré no STF — que sacou uma arma de fogo e perseguiu um homem nas ruas de São Paulo na véspera das eleições de 2022, e o caso sequer foi analisado pelo Conselho de Ética.
“A Carla Zambelli [PL-SP] foi flagrada tentando atirar em uma pessoa na véspera das eleições. O Gustavo Gayer [PL-GO] insultou a ministra Gleisi, chamando-a de ‘garota de programa’. E nada acontece. O Glauber, por outro lado, foi cassado por ser combativo”, relembrou o parlamentar.
Na avaliação de Valente, o processo de cassação foi uma retaliação política travestida de julgamento ético. Glauber foi punido por sua trajetória de enfrentamento ao centrão e ao chamado “orçamento secreto”, cuja inconstitucionalidade foi reconhecida pelo STF em ação liderada pelo PSOL. “Eu mesmo conversei três vezes com a ministra Rosa Weber antes da decisão”, revelou.
“O relatório contra Glauber focou 70% em suas críticas a Lira e apenas 25% no suposto fato gerador — um conflito com um deputado do MBL”.
Para Valente, o caso revela uma tentativa clara de silenciar a oposição. “Você pega as 18 últimas cassações e vê: foram por corrupção, tentativa de homicídio… O Glauber foi condenado pelo ‘conjunto da obra’”, ironizou.
Centrão ausente e bastidores
Em meio à suposta articulação prévia da extrema direita para cassar Glauber, apontada por Valente, chama atenção a ausência dos principais líderes do centrão e da base governista no momento da votação. “Você não conseguia falar com nenhum líder do centrão e nem com o Hugo Mota. Eles sumiram e estava decidida a parada”.
“Todo o centrão entrou na clandestinidade naquele dia. E o governo também dormiu no ponto. O grande articulador foi Arthur Lira, com apoio de Valdemar Costa Neto e da bancada bolsonarista”, apontou Valente, citando ainda a atuação em bloco de partidos como o União Brasil, o Novo e figuras do MBL para atacar Glauber.
Cassação e anistia: duas faces da mesma moeda
O deputado federal psolista também relacionou a tentativa de cassação de Glauber ao avanço da Proposta de Emenda Constitucional que propõe anistia aos envolvidos no 8 de janeiro. “São duas faces da mesma moeda. Cassam quem se opõe e anistiam os golpistas. É inaceitável. Golpe não se negocia.”
Assista à entrevista completa aqui.
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