Bruno Teixeira, de São Paulo (SP)
Desde 2024, cerca de 900 famílias da Favela do Moinho, no centro de São Paulo, enfrentam ameaças de despejo devido à Parceria Público-Privada (PPP) Campos Elíseos, um projeto do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) que visa transferir a sede do governo estadual para a região. O plano inclui transformar a área — atualmente de propriedade federal e cortada por trilhos de trem — em um parque. Por ser propriedade da União, Tarcísio, há um ano, tem negociado a cessão do terreno com o governo Lula.
A proposta inicial de Tarcísio era oferecer R$ 250 mil em cartas de crédito para aquisição de imóveis do CDHU (companhia habitacional do estado) em regiões periféricas. Isso implicaria endividamento para famílias em situação de vulnerabilidade e aqueles e aquelas sem renda suficiente ficariam desassistidos, correndo risco de ir morar na rua.
Ainda em 2024, o governo realizou uma grande operação policial na favela, com o pretexto de combater o tráfico de drogas. Moradores relataram abusos, invasões domiciliares, intimidações com cães farejadores e um clima constante de medo. Enfim, uma estratégia de assédio disfarçada de política de segurança.
Escalada do conflito e a resistência dos moradores
Em março de 2025, o governo intensificou a pressão sobre os moradores, ameaçando-os para que aceitassem o acordo, sob pena de perderem tudo. Em abril, tratores foram posicionados na região, para criar um clima de medo, e teve início a remoção das primeiras famílias. O governo Lula permaneceu conivente com o assédio aos moradores, uma vez que participa da negociação desde o início do processo.
No dia 12 de maio, o governo estadual iniciou a demolição das primeiras casas. Após três dias de intensa mobilização e confronto, com barricadas e enfrentamento da repressão policial, os governos estadual e federal foram forçados a negociar.
Em suma, os moradores conseguiram arrancar uma nova proposta dos governos, que garantiu cartas de crédito de R$ 250 mil, subsidiadas pelos governos, além de um auxílio aluguel de R$ 1.200 até a realocação. Dessa forma, famílias sem renda também foram contempladas, sem a necessidade de endividamento. Foi uma vitória fundamental, pois é parte de uma luta mais geral contra a especulação imobiliária e os lucros das construtoras bilionárias.
Os governos têm compromissos com as construtoras e bancos que lucram com a especulação. A unificação dos que lutam pelos interesses do povo trabalhador (como as várias ocupações e favelas), seguindo o exemplo da resistência do Moinho, é o caminho para derrotar esses projetos capitalistas.
“Guerra às drogas” e especulação imobiliária
A criminalização da pobreza, sob o discurso da “guerra às drogas”, tem sido usada pelo governo para justificar despejos no centro de São Paulo, como foi o caso do Moinho. Esse discurso racista e higienista atinge especialmente a população negra, sendo usada como instrumento de favorecimento ao setor imobiliário.
Imóveis em áreas pobres, consideradas degradadas, são comprados por valores baixos e ocupações são desalojadas, para permitir a valorização posterior, viabilizada por projetos de elitização do centro de São Paulo, sob o comando de Tarcísio e do prefeito Ricardo Nunes (MDB).
“Gentrificação” do centro
A situação do Moinho é parte de um amplo processo de “gentrificação” no centro da capital paulista. Ou seja, a substituição de moradores de baixa renda por outros mais ricos. O objetivo é expulsar a população pobre e atrair investimentos imobiliários. O centro, com infraestrutura e acesso ao transporte, se tornou um dos alvos preferenciais dos especuladores e das construtoras.
Hoje, ao menos três projetos de Tarcísio e Nunes estão a serviço desse objetivo: a PPP de Regeneração Urbana, a PPP Campos Elísios e Projeto Requalifica Centro, que visam repassar para as construtoras mais de R$ 6 bilhões do dinheiro público, através de incentivos e investimento direto, para desapropriação de prédios antigos, expulsão dos moradores pobres e cortiços, construção da nova sede do governo, novos imóveis comerciais e habitação de classe média alta.
Combater a especulação e os despejos no centro de São Paulo
É falso que o centro de São Paulo esteja abandonado. Ele é habitado e utilizado por milhões de trabalhadores e trabalhadoras. O abandono é dos governos municipal e estadual, que não garantem condições dignas de vida. É necessário um plano dos trabalhadores, que enfrente a especulação e garanta o direito à cidade:
- Despejo zero, já!
- Expropriação de imóveis ociosos para habitação popular.
- Unificar as lutas contra os despejos, numa grande luta conta a especulação imobiliária.
- Fim das PPPs e repasses bilionários às construtoras.
- Plano de obras públicas para reforma de prédios para moradia popular.
- Reversão da privatização da regularização fundiária.
- Novo Plano Diretor, construído pela classe trabalhadora.
- Por um novo plano diretor de São Paulo, construído pelos trabalhadores, que organize a cidade em função das necessidades da classe trabalhadora e não do mercado imobiliário
- Para isso é preciso um governo dos trabalhadores, que governem através de conselhos populares