Convocada para prestar esclarecimentos à CPI das Bets, a influenciadora Virginia Fonseca foi ouvida nesta terça-feira (13) pelos senadores que investigam a atuação de casas de apostas no Brasil e o papel de influenciadores na promoção desse mercado. Com mais de 45 milhões de seguidores no Instagram, Virginia é uma das principais figuras públicas ligadas à divulgação de sites de apostas nos últimos anos.
Em um dos momentos marcantes da sessão, Virginia optou por não responder à pergunta da relatora Soraya Thronicke (Podemos-MS) sobre o maior valor recebido em um contrato. “Me reservo ao direito de ficar calada”, disse a influenciadora. Virginia havia sido convidada a prestar esclarecimentos desde novembro de 2024, mas sua oitiva só ocorreu agora, após a CPI aprovar o pedido de quebra de sigilo fiscal e bancário da influenciadora.
A comissão também recebeu denúncias e relatos de usuários que teriam se endividado após seguir recomendações de influenciadores digitais. A CPI busca entender se houve estímulo a comportamentos de risco financeiro e como se dão os contratos publicitários firmados entre influenciadores e empresas do setor.
Durante a oitiva, foi citado, por exemplo, o chamado “Cache da Desgraça alheia” — expressão que passou a circular após reportagem da Revista Piauí revelar detalhes de contratos entre influenciadores e casas de apostas, como a Esportes da Sorte.
Segundo a matéria, Virginia teria assinado um acordo que previa o recebimento de até 30% sobre os valores perdidos por usuários que acessassem os sites por meio de seu código de divulgação. A prática sugere que o lucro da influenciadora estaria diretamente atrelado às perdas dos seguidores, o que agravaria a responsabilidade sobre o conteúdo publicitário promovido. Questionada, Virginia negou ter recebido comissões vinculadas a perdas de apostadores e afirmou desconhecer qualquer cláusula desse tipo.
A influenciadora também afirmou não se arrepender de ter promovido as apostas online. Questionada sobre o impacto que suas campanhas podem ter causado em seguidores, inclusive com casos de endividamento, respondeu que “não tem como socorrer todo mundo”. Para ela, a responsabilidade sobre o uso das plataformas recai sobre os próprios usuários, desde que sejam maiores de idade.
O tom do depoimento, embora cauteloso, não conseguiu afastar todas as dúvidas dos parlamentares. Além disso, o senador Jorge Kajuru (PSB-GO) criticou pedidos para transformar a audiência em uma exibição de vídeos publicitários, classificando a tentativa como um “espetáculo desnecessário”. Em meio aos trabalhos, o senador Cleitinho (Republicanos-MG) chegou a pedir uma foto com a influenciadora durante a sessão.
A presença de Virginia Fonseca na CPI ajuda a dimensionar o alcance e a influência dos criadores de conteúdo nas redes sociais — e como esses espaços vêm sendo explorados por um mercado bilionário, ainda pouco regulamentado. Mais do que buscar punições individuais, a comissão tenta compreender a cadeia de relações entre plataformas, publicidade, empresas e consumidores.
O silêncio parcial sobre os valores recebidos, no entanto, segue como um ponto de interrogação, mas a conscientização sobre os riscos e responsabilidades envolvidos nesse tipo de publicidade ganha força justamente quando quem influencia milhões precisa responder, ainda que sob holofotes, por aquilo que divulga.
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