A principal revista médica britânica, The Lancet, divulgou um relatório nesta quinta-feira 8 sobre abuso sexual infantil. O estudo, que detalha dados por idade e gênero, revela que uma em cada cinco mulheres e um em cada sete homens no mundo foram vítimas de violência sexual durante a infância. O estudo aponta que a violência foi sofrida por homens e mulheres até os 18 anos.
A revista escreve que, indubitavelmente, esta é uma forma de agressão com efeitos devastadores na saúde e que perduram até a vida adulta.
No relatório, liderado por pesquisadores da Universidade de Washington, em Seattle, Estados Unidos, e financiado pela Fundação Bill Gates, há a estimativa do número de pessoas que sofreram violência sexual durante a infância ou a adolescência em 204 países. O documento também utilizou dados de estudos realizados pela OMS e pelas Nações Unidas de 1990 a 2023, em menos países.
O relatório publicado pela revista médica mostra que 18,9% das mulheres e 14,8% dos homens foram vítimas de violência sexual antes dos 18 anos em todo o mundo. O estudo ressalta que essas estimativas, embora geralmente estáveis desde 1990, sofrem grandes variações de uma região ou nação para outra.
Números alarmantes na França
Na Índia, o percentual de mulheres que sofreu este tipo de violência chega a 30,8%. Isso significa que quase um terço da população feminina, infelizmente, já foi agredida. Entre os homens, esse índice é de 13,5%.
Na França, o estudo estima que 26% das mulheres sofreram violência; este índice é bem superior à média na Europa Ocidental, que é de 20,7%. Em outras palavras, o relatório publicado pela revista médica aponta que uma em cada quatro mulheres já foi vítima desta agressão. O percentual entre os homens é de 13,8%.
Os números são mais assustadores nas Ilhas Salomão: no arquipélago localizado no Oceano Pacífico, 42,6% das mulheres foram vítimas de violência sexual na infância; ou seja, quase metade da população de meninas até 18 anos. Entre os homens, o percentual que causou alarde foi na Costa do Marfim, com 28,3%.
Nos Estados Unidos, a proporção é de 27,5% para mulheres e 16,1% para homens. No Reino Unido, a violência atinge 24,4% das mulheres e 16,5% dos homens.
Os autores do estudo afirmam que a verdadeira extensão da violência sexual contra crianças está provavelmente subestimada. O relatório ressalta também a escassez de dados disponíveis e as dificuldades de mensuração desses ataques.
Problema de saúde pública
O relatório aponta que esta é uma questão crucial para a saúde pública e direitos humanos, pois esta violência tem “consequências graves a longo prazo para as pessoas envolvidas”. Essas vítimas têm “riscos aumentados de transtornos depressivos graves, ansiedade, uso de substâncias viciantes e problemas de saúde a longo prazo”. O documento lembra que as vítimas terão “desenvolvimento individual limitado, com redução no nível educacional e no sucesso econômico”.
Os pesquisadores acreditam que “proteger as crianças da violência e mitigar seus efeitos cumulativos na saúde ao longo da vida é um imperativo moral”.