Neste dia 12 de dezembro, completa-se 65 anos do ataque à bomba na Piazza Fontana, localizada no coração de Milão.
A explosão ocorrida no saguão do Banco Nacional de Agricultura da Itália resultou na perda de 17 vidas, incluindo 13 no local e outras 4 posteriormente, além de deixar 88 pessoas feridas.
No mesmo dia, outros atentados ocorreram em Roma. Menos de 20 minutos após a explosão em Milão, que aconteceu às 16h37, duas bombas explodiram na passagem subterrânea para a Via Veneto e a Via San Basilio, onde se situava o Banco Nacional do Trabalho.
Em um intervalo de menos de uma hora, outras duas explosões ocorreram: uma em frente ao Altar da Pátria e outra no Museu do Ressurgimento, dedicado à memória da unificação italiana. Em Roma, um total de 19 pessoas ficaram feridas: 13 na Via Veneto e outras 4 no museu.
Outro artefato foi encontrado intacto em Milão, na Piazza Scala, sede do Banco Comercial Italiano. Com a explosão desse artefato posteriormente, as investigações foram prejudicadas.
As suspeitas pelas explosões recaíram inicialmente sobre grupos políticos de esquerda e anarquistas, que atuavam fora das instituições do Estado.
Os anarquistas foram os primeiros perseguidos, compondo a maioria dos 80 detidos após o incidente. Giuseppe Pinelli, um trabalhador ferroviário, foi preso em 12 de dezembro e encontrado morto três dias depois, enquanto estava sob custódia ilegal da polícia. A versão oficial alegou que ele havia se jogado do quarto andar do prédio onde estava detido, mas o inquérito permanece sob suspeita.
Pietro Valpreda, outro anarquista, foi preso em 16 de dezembro do mesmo ano. A imprensa o apelidou de “o monstro de Piazza Fontana”. Valpreda permaneceu preso por três anos até seu julgamento e foi oficialmente absolvido apenas 15 anos depois.
Houve protestos em sua defesa antes do julgamento, que precisou ser transferido para o sul do país devido à mobilização de manifestantes favoráveis a ele. A acusação baseou-se no depoimento de um taxista que alegou ter visto o anarquista próximo a uma das explosões.
A verdadeira autoria do ataque só foi oficialmente concluída 29 anos após os fatos, sendo atribuída ao grupo fascista Ordine Nuovo, fundado em 1956 por Pino Rauti, membro do Movimento Social Italiano-Direita Nacional. Esse movimento reunia veteranos da República de Saló, governo italiano aliado aos nazistas que existiu de 1943 a 1945.
A crise capitalista global, aliada aos movimentos de 1968, também teve reflexos na Itália. Estudantes frequentemente enfrentavam as forças de segurança do país, enquanto grandes mobilizações operárias reivindicavam melhores condições para os trabalhadores, que, na época, recebiam os menores salários de toda a Europa.
Foi nesse período que surgiram as Brigadas Vermelhas, conhecidas por métodos de ataque e sequestro, com atuação intensa na década seguinte, causando instabilidade no governo vigente.
O período entre o final da década de 1960 e o início da década de 1980 ficou conhecido como os “anos de chumbo” na Itália, devido à falência da política institucional no País e à intensa atividade de grupos extraparlamentares, tanto de esquerda quanto de direita, além dos anarquistas.