Esvin Juárez, Rosmeri Miranda-López e os filhos na Disney. Foto: Reprodução

Esvin Juárez e Rosmeri Miranda-López deixaram a Guatemala há 22 anos em busca de uma vida melhor nos Estados Unidos. O casal se estabeleceu em Apopka, na Flórida, onde constituiu família, abriu uma empresa de cimento e passou a empregar 16 pessoas. Com quatro filhos cidadãos americanos, eles viveram por décadas nos EUA, apesar de terem cruzado a fronteira de forma irregular em 2003.

Apesar de anos tentando regularizar sua situação, inclusive com pedido de visto U, concedido a vítimas de crimes que cooperam com a Justiça, Esvin e Rosmeri foram deportados em junho. O Departamento de Segurança Interna (DHS) afirmou que o fato de haver um processo pendente não impede a expulsão, e que ambos já tinham uma ordem de deportação ativa desde que perderam uma audiência migratória no Texas.

A separação familiar causou comoção nas redes sociais e gerou mobilizações em frente à sede do ICE em Orlando. Beverly, a filha mais velha, de 21 anos, assumiu a responsabilidade pelos três irmãos menores e iniciou uma campanha pública pedindo a Donald Trump e à secretária de Segurança Nacional, Kristi Noem, que ajudem a reverter a deportação dos pais. Os vídeos no TikTok somam milhões de visualizações.

“Interrompi meus sonhos para cuidar dos meus irmãos e tentar trazer meus pais de volta”, disse Beverly à BBC. Em seus vídeos, ela aparece ao lado dos irmãos, de frente para a câmera, lendo mensagens emocionadas ao ex-presidente dos EUA, que retornou ao cargo em janeiro com a promessa de intensificar a política de deportações em massa.

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O caso dos Juárez não é isolado. Dados do Transactional Records Access Clearinghouse (TRAC), da Universidade de Syracuse, mostram que mais de 51 mil pessoas estavam presas em centros de detenção do ICE no início de junho, e cerca de 44% delas não tinham antecedentes criminais, apenas o ingresso irregular no país.

A trajetória de Esvin e Rosmeri seguiu o padrão de muitos migrantes: cruzaram a fronteira, foram liberados com a obrigação de comparecer a uma audiência judicial, mas já estavam a mais de 2 mil quilômetros do local marcado quando foram convocados. Isso resultou em uma ordem de deportação automática, vigente desde então.

Em 2021, o casal foi informado de que não haveria mais adiamentos processuais. Pouco depois, Esvin foi vítima de um assalto armado em sua empresa. A advogada Grisel Ybarra orientou que ele fosse ao hospital e denunciasse o crime à polícia. Essa colaboração permitiu solicitar o visto.

A USCIS (Serviço de Cidadania e Imigração dos Estados Unidos) reconheceu a legitimidade do pedido e, em dezembro de 2023, concedeu ao casal a chamada “determinação bona fide”, que oferece proteção temporária contra deportações enquanto o pedido é avaliado. Ainda assim, a deportação foi executada. Esvin foi detido em 30 de maio e Rosmeri, doze dias depois. Os dois estão agora reunidos na Guatemala.

Esvin Juárez e Rosmeri Miranda-López. Foto: Arquivo pessoal

O DHS argumenta que Esvin tinha registros de condução sob efeito de álcool e uso de documentos falsificados, o que sua advogada afirma ter sido considerado e superado na análise do visto. Ybarra defende que a única base legal para a deportação foi a entrada irregular e o não comparecimento à corte em 2003, o que, segundo ela, não caracteriza crime, apenas infração administrativa.

Enquanto os pais tentam reorganizar a vida na Guatemala, Beverly tenta manter os irmãos unidos nos EUA, cuidando da empresa da família e mantendo o lar. Ela estuda engenharia mecânica na Universidade da Flórida, mas admite que talvez precise abandonar temporariamente os estudos para dar conta de todas as responsabilidades.

Além da atuação virtual, Beverly participou de atos públicos e recebeu apoio de organizações comunitárias como o Hope CommUnity Center e a coalizão Immigrants Are Welcome Here. Três deputadas estaduais da Flórida (Anna Eskamani, Rita Harris e Johanna López) manifestaram apoio à família e pediram revisão dos casos migratórios ativos.

A defesa agora tenta um novo recurso na Justiça Federal alegando violação de devido processo legal e abuso de discricionariedade. Para Esvin, a mobilização da filha é motivo de orgulho. “Beverly virou uma guerreira”, disse ele da Guatemala. Enquanto isso, nos EUA, ela segue lutando: “Estou tentando manter a cabeça erguida e meus irmãos fortes. Essa luta ainda não acabou”.

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Last Update: 18/06/2025