
O deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que fugiu para os Estados Unidos em março, celebrou publicamente as intervenções do ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), durante o depoimento do tenente-coronel Mauro Cid à Primeira Turma da Corte nesta segunda-feira (9).
As perguntas do ministro durante a audiência, conduzida pelo relator Alexandre de Moraes e pelo procurador-geral da República Paulo Gonet, foram consideradas por Eduardo como um ponto positivo para a defesa de seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Durante o interrogatório, Fux questionou Cid sobre as conexões entre o núcleo presidencial e os militares envolvidos nos eventos pós-eleitorais de 2022. “Quem tinha diretamente relação com as pessoas que estavam nos quartéis?”, indagou o ministro.
O ex-ajudante de ordens respondeu: “O miolo da Presidência nunca manteve contato com nenhuma liderança, nenhum financiador. A gente sabia o que estava acontecendo, sim, até pelas redes sociais. Mas o núcleo interno não tinha contato com ninguém”.
Em outro momento, Fux perguntou sobre a possível assinatura de documentos que poderiam impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), como minutas de estado de defesa e estado de sítio.
Cid foi taxativo: “Não, senhor. Em nenhum momento foi assinado. Inclusive, era a grande preocupação do comandante do Exército que o presidente assinasse alguma coisa sem consultar e sem falar com ele antes. De certa forma, de todas essas pessoas, ele [general Freire Gomes] era a voz mais lúcida”.
As respostas de Mauro Cid foram interpretadas por Eduardo como um alívio para a defesa de seu pai. Em suas redes sociais, o deputado avaliou: “Fux desmontou o castelo de areia com duas perguntas”.
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A declaração sugere que, na visão de Eduardo, as intervenções do ministro teriam enfraquecido a narrativa de que Jair Bolsonaro estaria diretamente envolvido em uma suposta tentativa de golpe de Estado.
Hacker, minuta e a participação de Bolsonaro
Embora Cid não tenha feito afirmações que liguem Bolsonaro diretamente aos bolsonaristas que acampavam em quartéis, o depoimento complicou a situação de Bolsonaro ao revelar que o ex-presidente não só sabia, como participou das ações de Carla Zambelli e o hacker Walter Delgatti, indicando-os para conversar com o então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira.
Após o encontro, Zambelli e Delgatti invadiram o sistema online do Conselho Nacional de Justiça e expediram um mandato fraudulento de prisão contra o ministro Moraes. Por esse crime, Zambelli foi condenada a 10 anos de prisão e fugiu do Brasil para a Itália na última semana.
O tenente-coronel também falou sobre a minuta golpista, que Bolsonaro repetidas vezes alegou não ter conhecimento. No depoimento, Cid explicou que ele sabia sim do que se tratava e, além disso, propôs alterações no documento.
“De certa forma, ele (Bolsonaro) enxugou o documento, retirando as autoridades das prisões. Somente o senhor (Alexandre de Moraes) ficaria como preso”, declarou o militar.