O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Brenno Carvalho/Agência O Globo

O ministro Alexandre de Moraes afirmou nesta terça (9), durante seu voto no julgamento da tentativa de golpe, que o Brasil “quase voltou à ditadura” por causa da ação de uma organização criminosa que não soube aceitar o resultado das urnas. Segundo ele, o grupo era liderado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.

“Nós estamos esquecendo aos poucos que o Brasil quase volta a uma ditadura que durou 20 anos porque uma organização criminosa constituída por um grupo político não sabe perder eleições. Uma organização criminosa, liderada por Jair Bolsonaro, não sabe o que é o princípio democrático de alternância de poder. Quem perde vira oposição e disputa as próximas eleições”, disse Moraes.

O relator detalhou que a tentativa de golpe não se limitou aos eventos de 8 de janeiro de 2023. Para ele, a ofensiva contra o sistema democrático começou ainda em 2021, em uma série de etapas públicas e planejadas. Moraes afirmou que a prova da atuação articulada do grupo está nos documentos, nas falas públicas e nas ações de Bolsonaro e seus aliados.

Em seu voto, o ministro destacou momentos que comprovam a ação organizada para tentar subverter a democracia. O primeiro deles foi o uso de órgãos públicos para monitorar adversários políticos e atacar o Judiciário e a Justiça Eleitoral. Também citou transmissões ao vivo feitas em 2021 com ameaças diretas às urnas eletrônicas e aos ministros do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Moraes apontou ainda a tentativa de emparedar o Judiciário durante o ato de 7 de setembro de 2021, além da reunião ministerial em julho de 2022 em que se discutiu abertamente a ruptura institucional. O encontro com embaixadores estrangeiros, em julho do mesmo ano, também foi listada como peça central da narrativa golpista.

Outro ponto foi a utilização indevida da Polícia Rodoviária Federal (PRF) no segundo turno das eleições de 2022, bem como o uso das Forças Armadas na elaboração de relatórios sobre o sistema eleitoral. Segundo Moraes, essas ações integraram a estratégia de corroer a confiança nas urnas e preparar terreno para o não reconhecimento do resultado das eleições.

Na reta final, Moraes destacou a chamada “minuta do golpe”, apresentada a comandantes militares, e os atos de 8 de janeiro de 2023, quando as sedes dos Três Poderes foram invadidas em Brasília. Para ele, esse conjunto de ações configurou uma tentativa consumada de golpe de Estado, ainda que não tenha alcançado êxito.

Com base nesse histórico, o ministro votou pela condenação de Jair Bolsonaro e dos sete réus do “núcleo 1” nos termos da denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR). Seu voto abriu a rodada de deliberações da Primeira Turma do STF, que agora seguirá com os demais ministros.

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Last Update: 09/09/2025