
O advogado de Jair Bolsonaro (PL), Celso Vilardi, tentou desvincular o ex-presidente dos atos golpistas de 8 de janeiro e de um plano para matar o presidente Lula (PT), seu vice, Geraldo Alckmin, e o ministro Alexandre de Moraes.
Durante os interrogatórios no Supremo Tribunal Federal (STF) nesta segunda-feira (9), Vilardi procurou levantar contradições no depoimento do tenente-coronel Mauro Cid, que foi ouvido como “réu delator”, e chegou até mesmo a mostrar um áudio do militar.
A defesa de Bolsonaro questionou a implicação do ex-presidente nos planos de golpe. O advogado adotou a estratégia de argumentar que, embora Bolsonaro tenha discutido uma minuta de golpe, ele nunca deu ordens para que qualquer ação concreta fosse tomada.
Segundo Vilardi, Bolsonaro não participou ativamente das tentativas de golpe, nem nos planos de criação de caos em Brasília. Essa visão, porém, é contestada por ministros do STF, que acreditam que a simples discussão e as tratativas sobre o golpe já configuram um crime contra o Estado Democrático de Direito.
Além disso, Vilardi questionou Cid sobre a possível participação de Bolsonaro nos chamados “Planos Copa 22” e “Punhal Verde Amarelo”. O primeiro plano previa a anulação das eleições, e o segundo, o assassinato de Lula, Alckmin e Moraes. Cid negou ter discutido qualquer um desses planos com Bolsonaro. Isso era tudo o que a defesa do ex-presidente queria.
O áudio
Em sua defesa, Vilardi ainda reproduziu um áudio obtido pela Polícia Federal (PF) no qual Cid revela que Bolsonaro “desistiu de qualquer ação mais contundente” no final de 2022. A defesa usou o áudio para “reforçar” que o ex-presidente estava atuando “dentro das quatro linhas da Constituição”.
No áudio, Cid diz: “Ele [Bolsonaro] não quer que ninguém fique pressionando. Ele conversou bastante tempo com o Valdemar [Costa Neto, presidente do PL] também. Ontem, no começo da tarde, o general Pazuello esteve com ele dando sugestões, ideias de como ele podia de alguma forma tocar o artigo 142. Ele [Bolsonaro] desconversou, não quis nem saber, não deu bola para o que o general Pazuello estava levando para ele.”
Cid também afirmou que não se lembrava da gravação, mas que, “possivelmente”, a enviou para o general Freire Gomes, com quem mantinha uma interlocução direta. Ele ainda explicou que relatava para o general “os altos e baixos das conversas” que ocorriam.
No áudio apresentado pela defesa de Bolsonaro, Mauro Cid também lista alguns empresários bolsonaristas que pressionavam o ex-capitão a conseguir no Ministério da Defesa um relatório contra as urnas mais “contundente” e “duro”.
“E na conversa que ele [Bolsonaro] teve depois com os empresários, estavam o Hang [Luciano Hang, dono da Lojas Havan], aquele cara da Centauro, estava o Meyer Nigri [dono da Tecnisa], ele [Bolsonaro] também falou: ‘Olha, o governo Lula vai, vai, vai cair de podre’”, disse.
“E o pessoal ficou um pouco de moral baixa porque os empresários estavam querendo pressionar o presidente a fazer um relatório contundente, duro, para virar o jogo, aqueles negócios. E ele mesmo já descaracterizou e já falou para os empresários: ‘Vocês que vão se prejudicar muito com Lula’”.
Tava o Luciano Hang, tava o cara do Coco Bambu… ouça o áudio em que Mauro Cid lista os empresários que pressionavam Bolsonaro a conseguir no Ministério da Defesa um relatório contra as urnas. Pazuello também procurava meios de instalar um estado de exceção por meio do artigo… pic.twitter.com/2wAnOlTjsu
— GugaNoblat (@GugaNoblat) June 9, 2025