Victor Biglione relata que após retornar dos Estados Unidos, no início de 1991, estava convencido de que deveria fazer no Brasil um álbum de releituras de blues, blues-rock e jazz internacionais.

Saiu em busca de uma cantora para interpretá-las, até ser apresentado a Cássia Eller. Então, quando ela foi à sua casa, na zona sul do Rio de Janeiro, o guitarrista e compositor apresentou a ideia do disco e o repertório.

Segundo Victor, Cássia “matou a pau” no estúdio. “O pessoal da banda ficou chocado de como ela já dominava o repertório”, recorda. No entanto, o projeto virou frustração.

“Nos ‘finalmentes’ do disco, recebo a notícia da gravadora de que eles não gostariam de lançar o álbum, porque ela tinha mudado de empresário. Ele também não era a favor do disco, mas acho que porque não tinha participado do projeto.”

De acordo com o instrumentista, a alegação envolvia o receio de que Cássia Eller “ficasse estigmatizada como cantora de blues e rock, e isso poderia atrapalhar a carreira dela dentro do mercado do pop rock brasileiro”.

“Para a minha tristeza, o disco ficou anos e anos sem ser lançado. Ficou engavetado, preso nos arquivos da gravadora.”

O álbum Cássia Eller e Victor Biglione in Blues só viu a luz do dia no fim de 2022, depois de apelos de Chico Chico, único filho da cantora, que não queria deixar passar em branco os 60 anos de nascimento da mãe, que morreu em 2001.

“Concluí depois disso (o lançamento do disco com Cássia Eller) que não devia mais nada a ninguém”, sentencia. O trabalho de 10 faixas, com gravações de músicas de Beatles a Jimi Hendrix, passando por Willie Dixon e Jimmy Page – além de composição autoral de Biglione -, ganhou o Prêmio da Musica Brasileira no ano passado.

Victor Biglione tem uma discografia extensa, de 35 álbuns, entre solos e duos com artistas como Wagner Tiso, Andy Summers (guitarrista do extinto The Police), Jane Duboc, Marcos Valle e Marcos Ariel. O último disco autoral saiu em 2016 – Mercosul, finalista do Grammy Latino.

Ele também costuma fazer trabalhos para o cinema. Uma das recentes trilhas sonoras foi para Doval: O Gringo mais Carioca do Futebol, de Sérgio Rossini e Federico Bardini, filme apresentado no Festival de Cinema de Futebol, o Cinefoot, em abril.

Victor Biglione já tem mais quatro discos em preparação, a serem lançados em breve. Um se trata de tributo a Gal Costa, cantora que acompanhou por vários anos. O trabalho tem o nome de Frugal Psicodélica.

“Fiz um repertório que vai de 1968 a 1971. Nem tocava com ela ainda”, comenta. O disco terá voz da cantora Renata Puntel. “Será o lado mais roqueiro tropicalista psicodélico da Gal, que é maravilhoso”, afirma. Faltam algumas autorizações para o disco ser lançado.

Em outro trabalho, em vez de tocar guitarra, ele se apresenta com o violão de cordas de aço. O disco resulta de um trabalho com o baixista Dudu Lima e parte do lado mais latino do repertório de Milton Nascimento. Não à toa, tem o título de Club de las Esquinas de América. “Está quase pronto”, diz Victor Biglione.

Na lista, há uma homenagem a Luiz Bonfá, em parceria com o músico Sérgio Benchimol. “Faço homenagem ao cara que sempre me inspirou. Ele é da maior importância para a música brasileira.”

Além disso, o guitarrista planeja um disco com o espetáculo que faz sobre Cássia Eller, com Taryn no vocal.

Morando no Rio desde 1966 (ele é argentino radicado no Brasil), acha que “a cidade tem ganhado muito shows apoteóticos”, mas precisa olhar para os músicos em busca de ascensão e visibilidade.

Assista à entrevista de Victor Biglione a CartaCapital:

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Última Atualização: 07/07/2024