O programa Observatório de Geopolítica da última segunda-feira (12), comandado pelo cientista político Pedro Costa Jr. contou com a participação de acadêmicos e pesquisadores para analisar os investimentos obtidos pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em viagem à China.
Costa Jr. chamou a atenção para o anúncio de US$ 27 bilhões em investimentos no país, a partir de acordos comerciais de empresas chinesas que devem se instalar ou expandir a atuação no Brasil.
Assim, o apresentador descreveu a viagem como estratégica e lembrou também a negociação entre o tigre asiático e os Estados Unidos, que reduziram as tarifas sobre produtos importados após o tarifaço promovido pelo presidente Donald Trump.
Melissa Cambuhy, pesquisadora visitante da Academia Chinesa de Ciências Sociais, doutoranda em Relações Internacionais (UERJ), se disse bastante animada com a visita do Lula à China, tendo em vista que além dos acordos comerciais formados, ambos os países devem assinar ainda outros 16 memorandos e acordos de colaboração nesta terça-feira (13).
“Mas acho que o que potencializou essa visita é que esses acordos e esses investimentos já vem de uma forma bem mais concreta, inclusive porque, vamos lembrar que, na visita de novembro do Xi Jinping, houve um fechamento de um plano entre Brasil e China, que era o plano de cooperação que estabelecia sinergias entre o PAC e o Plano Nova Indústria Brasil, o Plano de Transformação Ecológica e a Iniciativa Cinturão e Rota [da Seda]”, afirmou a pesquisadora.
No entanto, os anúncios mais recentes de investimento e parceria comercial são projetos já discutidos na lista de cooperação Brasil-China, a exemplo da criação de um centro de transferência de tecnologia e um centro de reflorestamento e descarbonização, em parceria com o Ministério do Meio Ambiente.
A pesquisadora aponta ainda que outro projeto envolve o Banco Popular da China e o Banco Central do Brasil, que devem formar um acordo de swap bilateral em moedas locais.
“Também é um memorando de cooperação entre a Apex Brasil, que é a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimento, e o Conselho Chinês para a Promoção do Comércio Internacional, que é a meio e contraparte chinesa da Apex. Um memorando de entendimento para o fortalecimento da cooperação no ser proposital, que envolve o Ministério das Comunicações e também alguns milhões que vão ser, que já tinha sido noticiado, que vão para uma cooperação com os Correios. E uma cooperação para o desenvolvimento sustentável na área de energia nuclear, (12:09) que envolve a Administração Nacional de Energia Atômica Chinesa e a Comissão Nacional de Energia Nuclear do Brasil”, acrescenta Melissa.
A doutoranda atuou ainda no desenvolvimento de dois memorandos, um deles para divulgar empresas brasileiras na China e, assim, abrir mercados para os produtos brasileiros.
“Agora vemos que os projetos concretos estão, de fato, surgindo, e esses investimentos e a diversificação das áreas de cooperação estão, de fato, aparecendo, o que definitivamente é muito bom para o Brasil, muito bom para a China. Enfim, bastante promissor. Foi muito boa, está sendo muito boa essa visita”, continua a pesquisadora.
Moedas
Para Marina Moreno, mestre em Economia Política Internacional pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), chamou a atenção a fala de Lula sobre moedas internacionais.
“Ele diz que as condições para acesso aos recursos financeiros seguem proibitivas para a maioria dos países de renda média e baixa. O fardo da dívida limita o espaço fiscal para investir em saúde e educação, reduzir as desigualdades e enfrentar a mudança do clima. Países da África tomam empréstimo a taxas até 8 vezes maiores do que as da Alemanha e 4 vezes maior do que a dos Estados Unidos. É um plano Marshall às avessas, em que os mais pobres financiam os mais ricos. Sem maior participação dos países em desenvolvimento na direção da FMI e do Banco Mundial, não haverá mudança efetiva”, lembra a mestre em Economia Política Internacional.
Assim, a viagem de Lula à China coincide com um momento geopolítico específico, em que se discute a reforma da governança global e um sistema multilateral do comércio internacional.
“Não à toa o Lula está buscando parcerias estratégicas com a China, nesse ímpeto de levar o Brics a um maior potencial, mas principalmente nesse largo de conseguir fazer uma reforma da governança global, seja do Banco Mundial, da FMI, essas instituições que foram criadas ali em Bretton Woods, que, portanto, servem aos interesses dos países desenvolvidos, tanto quanto da reforma do Conselho de Segurança da ONU, quanto da participação do Brasil nos outros órgãos internacionais, do Brasil e de todos os países, dos BRICS, dos países em desenvolvimento”, emenda.
Confira o programa na íntegra:
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