A primeira vereadora travesti de Porto Alegre, Natasha Ferreira (PT-RS), que lidera a bancada do PT, participou nesta segunda-feira (16) do Café PT e ressaltou os avanços e desafios dos projetos de lei voltados à defesa dos direitos humanos.

Durante a entrevista, ela celebrou avanços simbólicos, como a plotagem da porta da bancada do PT com a estrela vermelha e a faixa “Partido do Povo Brasileiro”, mas destacou também mudanças práticas. “A gente estipulou que a bancada funciona de segunda a sexta, diferente da tradição da Câmara. Não é só uma questão de eleições, mas de reencostar o PT no cotidiano da cidade”, disse.

“Porto Alegre nunca tinha eleito uma pessoa trans. Na última eleição, elegeu duas. Eu sou uma delas”, afirmou.

Ela lembrou que Porto Alegre foi governada pelo PT por 16 anos, com nomes como Olívio Dutra, Tarso Genro, Raul Pont e João Verle, e destacou a importância de recuperar esse legado. “Nós já elegemos 12 vereadores de uma vez só. Hoje somos cinco. A reconstrução da Frente Popular passa por enraizar nosso modo petista de governar.”

Leia mais: PT se destaca na eleição de candidaturas LGBTQIA+ e indígenas no país

“Não queremos um mandato de nicho”

Durante a conversa, a vereadora afirmou ter apresentado, nos primeiros seis meses de mandato, oito projetos voltados à população LGBTQIAPN+.

“Mas eu tenho me desafiado a não ficar num gueto. A extrema direita quer que eu fale apenas sobre isso. E a gente fala de transporte, fala de água pública, fala da economia da cidade”, disse.

Entre os projetos, ela destacou a proposta de criação de uma casa de acolhimento para pessoas LGBTQIAPN+ na terceira idade e a reserva de cotas para pessoas trans e travestis em concursos públicos e cargos comissionados.

“Quando você tem 1% de vagas e mesmo assim elas não são preenchidas, a gente entende que o problema é estrutural. É a falta de acesso à educação básica. Pessoas trans são expulsas da escola por conta da violência”, denunciou.

A vereadora também participa da CPI que investiga o desmonte da autarquia municipal. “A gente está disputando a cidade com base num diagnóstico real, mostrando que pensar políticas públicas para a população LGBT é também falar de classe, de orçamento, de saúde e de moradia.”

“O parlamento é burguês. A gente não se ilude com isso. Mas estamos lá para travar esse jogo. A luta real está na base. É na rua que a gente tem retorno de servidores, idosos, casais heterossexuais, todos que enxergam nosso mandato como bastião de uma luta de cidade.”

Ela citou denúncias à gestão atual e o desafio de tornar seu nome uma alternativa real para as próximas eleições. “Pensar o futuro é pensar também que uma travesti pode ser prefeita de Porto Alegre. Isso não é impensável. Os quadros da extrema direita aqui são fracos, e a cidade está abandonada.”

“Não há gestão, há negócios com a iniciativa privada”

A parlamentar criticou a administração do prefeito Sebastião Melo (MDB). Ela acusou a prefeitura de “não fazer gestão pública, mas gestão de contratos”.

Também citou a venda da Carris, empresa municipal de transporte público, como exemplo. “Foi vendida. Quem compra os ônibus é a prefeitura, mas quem lucra é a empresa privada.”

Ela denunciou também o desmonte da Fundação de Assistência Social (FAS) e o aumento das mortes de pessoas em situação de rua. “Nos últimos 12 dias, morreram quatro pessoas de hipotermia em Porto Alegre. É resultado da ausência de políticas públicas, da saúde colapsada, da destruição dos CRAS e CAPS.”

Sobre a abordagem da prefeitura a pessoas em situação de rua, a vereadora lembrou que pertences e cobertores vêm sendo recolhidos. “Isso é necropolítica. Eles jogam água nas pessoas em pleno inverno gaúcho. Aqui faz 3 graus à noite. É desumano.”

Natasha Ferreira defendeu que os cuidados não podem ficar apenas nas mãos de ONGs. “Queremos concursados. Pessoas preparadas para atuar com a máquina pública. Nem todos querem sair da rua, muitos têm pets, e os abrigos não aceitam. Isso precisa ser pensado de forma estrutural.”

Ela lembrou que as gestões do PT priorizavam acolhimento e saúde mental. “Nos governos Lula e Dilma, os CRAS eram fortes, os CAPS atuavam e existiam políticas de desintoxicação em chácaras conveniadas. Hoje tudo isso foi desmontado.”

A parlamentar também alertou para a falta de execução de verbas federais. “O presidente Lula mandou um rio de dinheiro pra cá. Mas a prefeitura não tem projetos. O dinheiro não é executado. As pessoas seguem sem água, sem luz, sem creche, sem CAPS. Estão vivendo um pesadelo.”

Ela acusou a prefeitura de favorecer grandes construtoras em troca de apoio político e de violar o plano diretor da cidade. “É um caos. E ainda falta uma organização de massas que vá para as ruas e diga: basta. Quando a rua fala, a Câmara ouve. E o prefeito sente.”

Leia mais: Visibilidade LGBTQIAPN+: Janaína Oliveira aborda desafios da luta por direitos

“O PT é uma ferramenta de luta”

Ao final da entrevista, a vereadora agradeceu o espaço e mandou um recado direto à militância: “Aqui em Porto Alegre nós estamos numa trincheira de luta. O PT não é somente um partido. O PT é uma ferramenta de luta para fazer com que este país sobreviva ao regime da extrema direita.”

“Ano que vem, vamos derrotar esse projeto mais uma vez. Vamos reafirmar o nosso compromisso com o povo, com a democracia e com o direito à dignidade.”

Da Redação

Categorized in:

Governo Lula,

Last Update: 16/06/2025