O Brasil encerrou a noite de ontem (17) com mais uma notícia chocante de feminicídio. O assassinato da única vereadora da Câmara Municipal de Formigueiro (RS), Elisane Rodrigues dos Santos (PT), expôs o grau de violência que tomou conta do estado. A companheira tinha como luta a defesa permanente da causa quilombola, cuja maior comunidade no Rio Grande do Sul fica em Formigueiro.

Aos 49 anos, a parlamentar estava em seu primeiro mandato e era a única mulher eleita naquela casa. Seu corpo foi encontrado com mais de 10 perfurações de faca, especialmente no pescoço, ao lado do próprio carro, em uma estrada rural do município. A vereadora era também funcionária pública e atuava no hospital local. O Censo 2022 revelou que 20,55% dos seis mil habitantes locais são quilombolas, um total de 1.318 pessoas.

A Polícia Civil da região já tem suspeitos e não descarta nenhuma motivação na investigação. “Foram feitas várias perícias, e mais serão feitas”, informou o delegado Antonio Firmino de Freitas Neto, em entrevista ao G1

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Violência constante

Não é de hoje que o maior estado da região Sul enfrenta uma verdadeira onda de assassinatos de mulheres. No feriado da Páscoa, em abril, ao menos 11 foram mortas por motivação de gênero. O número representa um aumento de 1.000% em relação ao mesmo período de 2024. 

A fim de investigar esses casos, foi criada a Comissão Externa sobre Feminicídios no RS, que busca criar medidas urgentes para ampliar a rede de proteção às mulheres gaúchas. Integram o colegiado – que possui caráter temporário –  as deputadas federais Maria do Rosário (PT-RS) e Denise Pessôa (PT-RS). As duas comentaram o assassinato da vereadora petista.

Em suas redes sociais, Maria do Rosário afirmou que cuidar da segurança e do direito à vida das mulheres é uma pauta urgente. “Nossa luta é para cessar todo é qualquer tipo de violência contra as mulheres, por cada uma de nós, por todas nós!”, afirmou a relatora da Comissão, que também é composta pelas parlamentares Fernanda Melchionna,  Daiana Santos, Any Ortiz e Franciane Bayer. 

A ministra das Mulheres, Márcia Lopes, também comentou o caso. “O aumento dos feminicídios e assassinatos de mulheres no Rio Grande do Sul exige respostas urgentes. Seguiremos firmes na luta por justiça, pela vida das mulheres e pelo direito de todas nós participarmos da política sem medo e sem violência”, declarou.

A bancada feminina da Câmara dos Deputados também emitiu uma nota de pesar. 

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Definição de ações

Márcia Lopes e Maria do Rosário se reuniram já na 3a feira (17) para definir ações no estado com foco no enfrentamento a essa violência crescente. “Hoje tive a oportunidade de conversar com a ministra da Mulher, Márcia Lopes, para apresentar as demandas do nosso mandato e do nosso estado, que se comprometeu em estar presente e atuante para elucidar os casos de violência contra mulheres, assim como conversar com o governador Eduardo Leite, para aprimorar as políticas públicas no RS”, afirmou Rosário. 

A deputada Denise Pessôa, que recentemente lançou o programa Participa Mais Mulher, iniciativa que coleta de ideias que poderão se transformar em projetos de lei para combater a violência e promover políticas públicas de proteção às mulheres, declarou que “o assassinato da vereadora Elisane, companheira de lutas e de partido, é um retrato da escalada da violência contra as mulheres no Rio Grande do Sul”. E ressaltou a solidariedade com a família, amigas, companheiras de luta e toda a comunidade de Formigueiro. “Não vamos permitir que esse crime seja esquecido ou tratado com indiferença. Cobramos investigação rigorosa, justiça e políticas públicas que enfrentem com seriedade essa tragédia que se repete diariamente”, disse.

A secretária nacional de mulheres do PT, Anne Moura, também se manifestou. “Recebemos com extrema revolta a notícia do feminicídio da companheira Elisane Rodrigues dos Santos (PT-RS), única vereadora da Câmara Municipal de Formigueiro (RS). Sempre que uma mulher eleita sofre violência política de gênero ou é vítima de um crime, a democracia fica mais fragilizada”, afirmou.

Ao G1, a vereadora de Santa Maria, coordenadora regional da força-tarefa de combate aos feminicídios da região central do RS e procuradora especial da mulher, Marina Callegaro (PT-RS), destacou a importância da atuação de Elisane. “Ela era uma mulher que enfrentava com coragem o machismo institucional da política e que representava tantas outras mulheres da sua cidade, abrindo caminhos e ocupando um espaço historicamente negado a nós”, comentou.

Em nota pública, o diretório estadual do PT Mulheres no Rio Grande do Sul destacou o papel político e social desempenhado pela vereadora, e cobrou justiça: “Elisane foi uma voz firme e comprometida com a defesa dos direitos sociais, da causa Quilombola, da saúde pública, da justiça social e do diálogo. Sua morte não pode ser naturalizada. Seguiremos honrando sua memória com mais luta, mais organização e mais coragem”.

A Câmara Municipal decretou luto oficial de três dias. 

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Atuação da vereadora 

Elisiane era defensora dos direitos da comunidade quilombola, da saúde pública, da justiça social e do diálogo. Em março deste ano, a Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul reconheceu o trabalho político e social da companheira, e a homenageou com o Prêmio Mulheres de Luta 2025, juntamente com outras lideranças femininas do estado. 

A Comissão das Comunidades Quilombolas e o Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial – COMPIR Formigueiro – RS também se manifestaram sobre a partida de Elisane. 

A nota diz: “Sua trajetória foi marcada pelo compromisso incansável com a luta por justiça social, igualdade racial, dignidade para as comunidades negras e quilombolas, e pela presença das mulheres nos espaços de poder. Era uma mulher de coragem, que não se calava diante das injustiças e que sonhava com um mundo melhor para o seu povo. Elisangela parte de forma precoce, mas deixa um legado de resistência, amor pelo povo e fé na transformação social. Que sua memória siga viva em cada mulher que ousa ocupar espaços de poder, em cada jovem quilombola que sonha com um futuro digno, em cada semente que ela plantou”.

Da Redação do Elas por Elas, com informações do G1 

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Last Update: 18/06/2025