A proposta do vereador Pedro Alcântara (PP), intitulada “De volta para minha casa”, que visa a deportação de migrantes em Teresina, é um exemplo flagrante de xenofobia institucionalizada e de uma narrativa que busca transformar principalmente os venezuelanos em bodes expiatórios para problemas que estes não criaram.

O título do projeto, que parece copiar o infame quadro “De volta pra minha terra”, do antigo programa televisivo de Gugu Liberato, revela uma política discriminatória que ganha audiência em tempos de grave crise do capitalismo. No programa de Gugu, nordestinos eram humilhados e expostos como “invasores” em São Paulo, reforçando estereótipos e divisões regionais. Agora, Pedro Alcântara repete essa lógica perversa, mas desta vez direcionada aos venezuelanos, tratando-os como um “problema” a ser eliminado.

O vereador da extrema-direita justificou sua proposta à imprensa com um verdadeiro discurso de “limpeza social”:

“Eles têm café, almoço e janta, e têm moradia. Eles querem agora um assentamento. Cada um quer uma casa com três quartos. É melhor manda-los de volta do que construir aqui”.

Trata-se de uma política que, além de desumana, revela um profundo desprezo pela dignidade dos migrantes. Ao colocar as cerca de 70 famílias de venezuelanos como um dos maiores problemas de Teresina, Alcântara tenta ocultar questões estruturais que realmente afetam a população da cidade, como a falta de transporte público de qualidade, a extorsiva taxa de esgoto cobrada pela Aegea (Águas de Teresina) e o déficit habitacional, que deixa milhares de famílias sem moradia digna. Esses são problemas urgentes e reais, mas que não são prioridade para o vereador ou para a base do prefeito Sílvio Mendes (União Brasil), da qual ele faz parte.

Aliás, segundo Pedro Alcântara, o prefeito Sílvio Mendes teria se manifestado a favor do projeto de “voluntariamente” os venezuelanos aderissem ao projeto que prevê pagamento de passagem de retorno dos migrantes. Acontece que os problemas dos venezuelanos – ou de qualquer outro grupo migrante – não vão ser resolvidos com propostas como estas. Assim como os problemas dos brasileiros que hoje sofrem com a política anti-imigração de Trump, nos Estados Unidos.

Crise humanitária

A migração venezuelana para o Brasil é resultado de uma crise humanitária gravíssima, ocasionada principalmente pelos graves problemas sociais que a ditadura de Maduro não consegue resolver, ao governar aquele país a favor dos grandes grupos empresariais. Os que chegam a Teresina estão em busca de sobrevivência e oportunidades. Em vez de propor medidas que promovam a integração e o acolhimento, Pedro Alcântara- opta por um discurso de ódio e exclusão, que só serve para alimentar a intolerância e desviar a atenção das falhas da gestão pública. A proposta de deportação não resolve nenhum dos problemas reais da cidade; pelo contrário, cria um clima de hostilidade e desumanização.

É importante lembrar que os venezuelanos não são responsáveis por qualquer problema que afeta a maioria da população teresinense, como a falta de transporte público, os abusos nas tarifas de esgoto ou o déficit habitacional. Esses são problemas estruturais que exigem políticas públicas sérias e comprometidas, algo que parece faltar na atuação do vereador e da base governista. Enquanto isso, projetos como o “De volta para minha casa” servem apenas para alimentar o preconceito contra o povo migrante e desviar o foco das verdadeiras responsabilidades do poder público.

Teresina, como qualquer cidade, precisa de soluções reais para seus problemas, e não de discursos que culpam os mais vulneráveis. A proposta de Pedro Alcântara é um retrocesso e uma afronta aos direitos humanos. Em um momento em que o mundo enfrenta crises migratórias cada vez mais complexas, é fundamental que Teresina reafirme seu compromisso com a solidariedade e a justiça social, em vez de seguir o caminho fácil da discriminação e do preconceito.

Medidas de apoio e acolhimento aos venezuelanos

1. Acesso a moradia digna: implementar políticas públicas que garantam moradia adequada para os migrantes, incluindo a criação de abrigos temporários e a inclusão deles em programas habitacionais já existentes.

2. Integração ao mercado de trabalho: promover a formalização e a inserção dos venezuelanos no mercado de trabalho local, com garantia de direitos trabalhistas e combate à exploração.

3. Acesso à saúde e educação: garantir que migrantes tenham acesso universal aos serviços de saúde e educação, sem burocracias ou discriminação.

4. Programas de assistência social: criar programas específicos de assistência social para migrantes, incluindo auxílio emergencial, distribuição de alimentos e apoio psicológico.

5. Combate à xenofobia: promover campanhas de conscientização e educação contra a xenofobia, reforçando a importância da diversidade e da solidariedade.

6. Participação social: incentivar a participação dos migrantes em conselhos e fóruns de discussão sobre políticas públicas, garantindo que suas vozes sejam ouvidas e suas necessidades atendidas.

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Last Update: 18/03/2025