“Não vamos deixar as ruas!”, prometeu a líder opositora María Corina Machado em um sábado (17) de mobilizações em Caracas contra o mandatário Nicolás Maduro, que celebrou ao ver o “povo chavista” apoiando sua contestada reeleição.
A oposição reivindica a vitória de seu candidato, Edmundo González Urrutia, e denuncia como fraudulenta a reeleição de Maduro, que também convocou seus seguidores para manifestações em todo o país.
“Hoje temos mais força do que nunca, a voz do povo deve ser respeitada”, afirmou Machado diante da multidão em Caracas. “Que força e que alegria quando o povo chavista sai às ruas”, celebrou Maduro.
O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) ainda não publicou a apuração detalhada mesa por mesa, argumentando que o sistema de votação automatizado foi alvo de um “ataque ciberterrorista”. O governante pediu ao Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) que “certifique” a eleição.
“Não vamos deixar as ruas!”
Machado saiu da clandestinidade, onde entrou logo após a eleição por temer por sua vida, para participar da manifestação. Ela chegou de moto, vestindo um moletom com capuz, que tirou apenas ao subir no caminhão que serve de palco nos atos da oposição. A evacuação foi mais complicada, evitando o que pensavam ser carros do serviço de inteligência.
Não há uma ordem de captura oficial contra ela, mas Maduro já pediu prisão para ela e González. O caminhão que a oposição usava em seus comícios foi confiscado pela polícia após o ato deste sábado.
“Não vamos deixar as ruas!”, advertiu Machado em seu discurso. “Com inteligência, com prudência, com resiliência, com audácia e pacificamente, porque a violência convém a eles (…). O protesto pacífico é nosso direito”.
“Liberdade!”, “Valente!”, gritavam seus apoiadores enquanto ela passava, carregando bandeiras e cópias impressas de suas atas eleitorais.
As atas, um recibo similar a um comprovante de supermercado que a máquina de votação imprime com o resultado específico de cada aparelho, são o argumento central da oposição para provar o que afirmam ter sido uma fraude em 28 de julho.
Machado afirma ter cópias de mais de 80% das atas que demonstram a vitória de seu candidato e desmentem o resultado oficial de 52% dos votos para Maduro.
“Não vou mentir, sim, sinto medo”, disse à AFP Iliana Alvareán, uma economista de 42 anos, que gritava e mandava beijos para Machado. “A gente não deixa de sentir por causa de toda a repressão, mas queremos que ele [Maduro] saia. Estamos aqui até o fim. Vou sair para marchar quando convocarem”.
“Em uma caverna”
O candidato opositor não participou do protesto. Ele não aparece em público desde 30 de julho.
“Onde está escondido Edmundo González Urrutia?!”, questionou Maduro. “Está metido em uma caverna e preparando sua fuga da Venezuela”.
Assim como Machado, ele está na clandestinidade desde que as autoridades abriram uma investigação penal contra ambos por “instigação à rebelião”, entre outros crimes.
Em um vídeo publicado nas redes sociais, ele disse que as manifestações deste sábado “são uma força que fará respeitar a decisão de mudança”.
A convocação da oposição se espalhou por mais de 300 cidades ao redor do mundo, um reflexo da diáspora venezuelana de quase 8 milhões de pessoas, desde a Colômbia e Argentina até a Austrália, passando pelos Estados Unidos e Europa.
Milhares de venezuelanos se manifestaram, por exemplo, em várias cidades da Espanha, onde se estima que vivam 280 mil venezuelanos. Também foram registradas concentrações na Puerta del Sol, em Madri, que estava lotada.
“Temos que defender os votos. Já chega. Já é o suficiente. Não podem roubar o país da gente”, afirmou à AFP David Bautista, que, junto com centenas de seus compatriotas, se reuniu na praça central de Lourdes, em Bogotá, capital do país que abriga a maior quantidade de migrantes venezuelanos.
Em Buenos Aires, milhares de venezuelanos compareceram a uma praça no bairro da Recoleta. “Temos fé de que vamos sair da ditadura”, disse Andreina Escalante, de 34 anos, durante o protesto.
“Maduro segue firme”
A marcha de Maduro terminou no palácio presidencial de Miraflores. “Posso dizer, com absoluta certeza, ganhamos novamente porque a paz ganhou”, declarou o mandatário, que prometeu para seu próximo mandato (2025-2031) “enfrentar as máfias e corruptos” e “mudar o sistema de governo”.
Maduro “segue firme hoje mais do que nunca, eu estou aqui para apoiá-lo”, disse à AFP Aurimar Niever, de 46 anos e uma líder comunitária.
Estados Unidos, União Europeia (UE) e países da América Latina não reconheceram o resultado oficial da votação. Brasil e Colômbia estão liderando esforços para encontrar uma solução política para a crise, propondo a repetição das eleições, uma ideia rejeitada tanto pelo chavismo quanto pela oposição.