O Partido dos Trabalhadores tem um impacto significativo no cenário político brasileiro e internacional. Como o maior partido da esquerda nacional, com uma ampla base popular, é um partido que enfrenta uma pressão gigantesca da burguesia. Especialmente agora, estando no governo federal, essa pressão encontra eco nos setores mais conservadores do partido. Diante da tentativa de golpe de Estado contra o governo nacionalista de Nicolás Maduro, figuras do partido aproveitam a indecisão do governo Lula para defenderem suas posições pró-imperialistas.
Atualmente senador do PT pelo Amapá, Randolfe faz parte do grupo de parlamentares eleitos pelo partido e que desertaram para criar o Psol no começo dos anos 2000. Em 2015 migrou para a Rede Sustentabilidade de Marina Silva e posteriormente voltou para o partido há cerca de 15 dias. Ele é, inclusive, líder do governo no Congresso Nacional, o que confere às suas declarações um peso maior do que lhe caberia normalmente.
Randolfe simplesmente qualificou o processo eleitoral da Venezuela como “uma eleição sem credibilidade”. Para esse defensor do imperialismo, credibilidade significa ter o aval dos “observadores internacionais”. Além disso, repetiu o mantra da direita ao chamar o presidente venezuelano de “autoritário” para a CNN. E ainda que “tanto Maduro quanto a oposição carecem de legitimidade”. Mas o que significa isso no meio de uma tentativa de golpe de Estado?
Por sua vez, o deputado federal pelo PT de Minas Gerais, Reginaldo Lopes, foi até mais agressivo. Numa postagem na rede X, Reginaldo disparou:
“Um governo verdadeiramente democrático convive com críticas, questionamentos e oposição organizada. A atuação de Maduro na Venezuela é a postura de um ditador”.
Como o governo deveria lidar com essa “oposição organizada” nas guarimbas? Como seria esse convívio democrático com os ataques organizados nessas barricadas? Parece muito estranho que alguém que está no PT desde 1993 não conheça o cenário político latino-americano, em especial neste começo de século, com as repetidas tentativas de golpe de Estado na Venezuela e com o golpe de Estado no Brasil.
Enquanto Maduro tem que aceitar as ações violentas dessa oposição organizada pelos Estados Unidos, aqui no Brasil não aceitam nem manifestações de rua dos bolsonaristas, nem declarações em redes sociais.
O senador petista pelo Rio Grande do Sul, Paulo Paim, também foi para os braços do Tio Sam na rede X. Sem qualquer crítica à oposição pró-imperialista, publicou a seguinte mensagem:
“A situação na Venezuela é grave e lamentável. Espero por dias melhores para o seu povo e para o país como um todo. Sem transparência no processo eleitoral, liberdade política e de expressão, e respeito aos direitos humanos, não há democracia”.
Fiel ao enredo repetido pela imprensa golpista, Paim considera “liberdade política” aceitar uma golpista que estimulou ações violentas para tentar derrubar o governo. E “liberdade de expressão” seria se encolher diante da violência organizada de fora para dentro no país.
Esse tipo de voo livre à direita de figuras do PT é facilitado pela indecisão do governo Lula em se posicionar de maneira clara e objetiva diante do que ocorre. A Venezuela está sob ataque. A base petista sabe disso, a esquerda que não está no bolso do imperialismo sabe disso. É óbvio que Lula sabe que é isso que está acontecendo. Porém, a escolha por um posicionamento dúbio atrapalha a política do governo, confunde sua base social e abre brechas para a direita do partido se fortalecer no esgoto da imprensa golpista.